Resseguro: Capacidade em Alta… Riscos Também

  • António Rito Batalha
  • 15 Setembro 2025

António Rito Batalha nota condições para uma maior oferta de capacidade e potenciais reduções nas taxas de renovação por parte das resseguradoras. No entanto, há cuidados a manter nesta abundância.

A corretora Aon divulgou recentemente as suas perspetivas para o mercado de resseguro em 20261, antecipando um ambiente favorável para as Seguradoras. Segundo a empresa, a capitalização robusta dos resseguradores, a menor sinistralidade registada em 2024 e 2025 e a pressão competitiva entre players estão a criar condições para uma maior oferta de capacidade e potenciais reduções nas taxas de renovação.

Este otimismo contrasta com o cenário de escassez de capital e aumentos acentuados de preços que marcou os anos de 2022 e 2023. Hoje, os resseguradores apresentam rácios combinados mais controlados e níveis de remuneração do capital acima do custo de capital, o que lhes permite competir de forma mais agressiva por negócio. Em suma, o ciclo do mercado parece estar a virar a favor dos compradores — pelo menos por agora.

Contudo, este alívio conjuntural não deve iludir os decisores da indústria seguradora e resseguradora. Desde maio de 2025, tenho vindo a alertar nas páginas do ECOSeguros para vários riscos que permanecem latentes e que poderão inverter de novo o ciclo:

  • Pressões climáticas crescentes, que já se traduzem em eventos extremos mais frequentes e severos, com impacto direto nas carteiras de resseguro de catástrofe;
  • Fragmentação geopolítica, que aumenta a incerteza macroeconómica, expõe cadeias de valor e potencia riscos de concentração;
  • O “trilema” das taxas, tarifas e incerteza, que limita a capacidade do setor de oferecer proteção acessível e sustentável num contexto de volatilidade financeira.
  • Novos riscos industriais e ambientais, como os químicos eternos (PFAS), cujo potencial litigioso e de perdas acumuladas permanece mal quantificado;
  • Tendências de risco em aviação, num setor em transformação acelerada e altamente sensível a incidentes de grande magnitude;
  • A possível complacência perante riscos emergentes, que pode corroer a robustez hoje aparente do setor ressegurador.

A estes acrescenta-se um risco estrutural frequentemente esquecido pelo público e pelos decisores políticos: o risco sísmico em Portugal. Embora de ocorrência rara, trata-se de um risco inevitável e cíclico, que historicamente se repete e cujo potencial destrutivo para a economia e para o sistema segurador nacional é bastante elevado. A ausência prolongada de grandes eventos não deve ser confundida com a sua inexistência.

Assim, se o mercado de resseguro parece agora entrar num ciclo benigno, os fundamentos exigem prudência. A capacidade disponível e a pressão competitiva podem gerar ganhos de curto prazo, mas só uma avaliação rigorosa e prospetiva dos riscos — climáticos, geopolíticos, industriais e sísmicos — poderá garantir que o setor não volta a ser apanhado de surpresa quando o ciclo inevitavelmente inverter.

Num contexto em que os preços podem descer, o verdadeiro desafio para as seguradoras e resseguradoras será resistir à tentação de trocar disciplina técnica por crescimento imediato.

1 Snapshot Guide of the Reinsurance Renewal – AONSeptember 2025

  • António Rito Batalha
  • Senior Client Manager Reinsurance & Insurance

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