Sabia que há blockchains privadas?

  • Tocha
  • 30 Maio 2023

O aparecimento das DAO  -- Organizações Autónomas Descentralizadas -- é a porta para uma revolução na forma como gerimos e estruturamos as nossas organizações.

Cada vez mais temos vindo a ser impactados pelo “Fantástico mundo da Cripto”, uma espécie de “Admirável Mundo Novo”, que em vez da desumanização visa a descentralização. No ano passado, dois dos temas centrais da Web Summit foram a blockchain e o mundo cripto, onde muitos participantes disseram que ambos iriam ganhar mais e mais espaço; algo que, além de óbvio, me pareceu chegar um pouco tarde à festa.

No Bitalk, o nosso podcast semanal, temos vindo a falar sobre estes temas desde a segunda temporada, altura em que convidámos o Fred Antunes e o Pedro Febrero para falarmos sobre várias temáticas que são hot topic dentro deste mundo, uma delas a descentralização. Na altura em que saíram esses episódios, se calhar tivemos menos tração do que teríamos hoje, porque era (e bem ou mal, continua a ser) um tema de nicho. E é exatamente isso que pretendemos mudar.

Quem tem interesse nesta área certamente já ouviu falar em DAO ou Organizações Autónomas Descentralizadas, mas para quem não ouviu falar, as DAO são uma entidade constituída por indivíduos com valores e visões comuns que procuram atingir um determinado objetivo em conjunto. A tecnologia blockchain, através do uso de contratos inteligentes, permite a tomada de decisões de forma descentralizada dentro dessa entidade, através de mecanismos de votação e governação internos que são transparentes e imutáveis, e que permitem organizar de forma democrática um grande conjunto de pessoas sem a necessidade de confiar em, ou depender de qualquer entidade responsável por garantir essa gestão.

Parece ideal, mas a verdade é que as DAO, na sua génese, têm algumas limitações, o que pode ser um problema em termos legais. Por exemplo, como existem principalmente no mundo digital, falta-lhes o reconhecimento legal dos contratos tradicionais. O que acontece é que sem um sistema jurídico específico que reconheça e execute os contratos inteligentes das DAO, facilmente existirão dificuldades em realizar transações que envolvam bens ou serviços tangíveis. Acabando por criar dois mundos separados: o tradicional e o descentralizado.

Outra questão é a falta de privacidade para os participantes. Tipicamente as DAO operam numa blockchain pública, sendo que qualquer pessoa tem acesso à atividade interna dessa organização. Isso levanta problemas para participantes que desejem manter as suas atividades privadas, uma vez que expõem informações confidenciais que podem ser consultadas e utilizadas por outros indivíduos.

Para fintar estas limitações, a Angels Way desenvolveu uma nova abordagem para as DAO. A Angels Way é uma Comunidade de Investimento Autónoma Descentralizada, ou DAIC, que funciona numa blockchain privada. Ou seja, apenas os participantes do fundo podem ver o que está a acontecer dentro da organização. Além disso, foi também implementado um processo privado de “KYC” (Know Your Customer), onde são pedidas as informações e os documentos necessários de cada participante no fundo para submeter às entidades reguladoras e, desta forma, estar em conformidade com as exigências legais de administrar um fundo de investimento.

Além da elevada taxa de segurança, outro dos benefícios de utilizar uma estrutura como a da Angels Way é a eliminação das taxas de gestão. Nos fundos tradicionais de capital de risco, as taxas de gestão geralmente variam entre 2% a 2,5% do capital comprometido e são cobradas anualmente. Com a Angels Way é eliminada a necessidade de gestores de fundos e, em vez disso, os participantes no fundo podem realizar tarefas e ganhar opções de ações no fundo com base no seu desempenho.

O que acontece é que se cria uma nova lógica organizacional que incentiva os participantes a contribuírem para o sucesso do fundo e a desempenharem as tarefas necessárias para o bom funcionamento do mesmo. Só é possível reduzir este custo devido à infraestrutura tecnológica que auxilia a gestão da entidade descentralizada e que alinha os incentivos de todos os participantes.

Apesar do seu pouco tempo de vida, a Angels Way tem tido sucesso e a prova disso é o facto de termos já angariado mais de 1,2 milhões de euros, de mais de 600 participantes, o que mostra que existe um interesse significativo em estruturas descentralizadas e com incentivos alinhados. E mostra, também, que o aparecimento das DAO é a porta para uma revolução na forma como gerimos e estruturamos as nossas organizações.

Existem limitações, sim, mas a Angels Way chega para mostrar que é possível superar esses desafios e criar uma abordagem mais democrática e participativa para gerir investimentos. Na certeza de que iremos aprender ainda muito pelo caminho, sabemos também que não o iremos fazer sozinhos.

  • Tocha
  • Executive Partner da Olisipo Way

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