Smartphone: Tecnologia do dia-a-dia? Ou a epidemia do século?
Vivemos numa era marcada pela presença e rápida generalização das novas tecnologias, tornando-se quase impossível um dia-a-dia sem smartphone.
Para quantos de nós a primeira coisa que fazemos de manhã é pegar no smartphone? E para quantos é a última tarefa diária? Quantos de nós se perdem em mensagens porque já não sabem o canal de informação original? Para quantos é difícil controlar o tempo despendido no smartphone? Quantos de nós nos sentimos frustrados, “despidos”, porque nos esquecemos do smartphone? Quantos ouvem outros dizer que passam demasiado tempo com o smartphone? São exemplos de situações que constam de preocupações associadas à utilização compulsiva e problemática dos smartphones até à nomofobia – medo de ficar sem telemóvel, comportamento associado a sintomas patológicos de dependência.
Vivemos numa era marcada pela presença e rápida generalização das novas tecnologias, tornando-se quase impossível um dia-a-dia sem smartphone (segundo dados do Barómetro de Telecomunicações da Marktest, em julho de 2018, 6,9 milhões de portugueses possuíam telemóveis inteligentes representando uma penetração de 75,1% deste tipo de produto).
Esta intensa pressão para a utilização das novas tecnologias tem redefinido as dinâmicas sociais, implementando novas formas de interação e colaboração interpessoal, e impondo mudanças às organizações em termos das suas estruturas e processos de negócio.
Com a constante conexão, as novas tecnologias mudaram a perceção dos indivíduos em relação aos conceitos tempo/espaço, prolongando o horário laboral para além do dia normal de trabalho e originando que as pessoas trabalhem a horas incomuns através do smartphone, nomeadamente no acesso ao email. Esta conectividade implica que os colaboradores possam ser contactados em qualquer lugar e momento, tornando inquietante uma eventual não-conexão, forçando-os muitas vezes a respostas imediatas e descurando outras atividades (família e/ou descanso). Estas ferramentas derrubam a barreira existente entre o mundo pessoal e o mundo profissional.
Não podemos “cair” na ilusão de que isto é bom para as empresas. A disponibilidade total e o “nunca estar ausente do trabalho” têm implicações e custos, podendo promover perda de foco pela utilização da tecnologia, mesmo durante o período laboral. A recuperação (recovery) – processo que quebra as reações de tensão causadas por stressores laborais – é necessária e ocorre durante os períodos em que não existem exigências semelhantes às impostas pelo trabalho (normalmente acontece durante períodos de descanso do trabalho: noites livres, fins de semana, férias), embora condicionada pela conexão constante.
Precisamos urgentemente de afastamento psicológico do trabalho, relaxamento e procura de desafios! Vamos desligar os smartphones por uns minutos e apercebermo-nos para os acontecimentos à nossa volta! Quantos de nós não faz isto há muito tempo?
*Sónia P. Gonçalves é membro da direção da APG, docente ISCSP-ULisboa e investigadora CAPP.
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