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Trump Americanah
A América está a transformar-se na Potência das Práticas Predatórias. Cresce a perplexidade pelo silêncio da Velha América perante a decadência da República.
Será assim que acabam as democracias? Será este o destino da economia liberal 25 anos a dentro do século XXI? Será que a liberdade é o confronto perpétuo entre a hegemonia da América e a humilhação do Mundo? Será que o futuro é o Império do Bem que pratica o Mal para salvação da Humanidade? Quando a liberdade está ameaçada no Mundo os olhares atravessam o Atlântico na busca de uma referência de estabilidade. Este Mundo não existe.
Quando a liberdade está ameaçada no Mundo os olhares recuam no Atlântico porque a fonte de toda a instabilidade tem o rosto do Medo sobre a face da América. A Grande Nação, a Cidade Dourada na Colina, a República Indispensável, está transformada no enredo de um Filme Catástrofe. O Vale do Silício é um épico onde não cabem os pequenos sonhos. O Vale do Silício é um épico onde a ganância subiu às Planícies de Marte para explorar os recursos do Mundo – os mais íntimos sonhos individuais extraídos pelo algoritmo que controla cada smartphone. Monetarização dos vícios privados, das mentiras abertas, dos propósitos políticos, das verdades públicas, da alma digital de cada activo individual na falsa simulação de um site infantil verdadeiramente pornográfico. Bem-vindo à Nova América, a capital da pornografia política planetária.
Se o Vale do Silício é o Profeta do Novo Mundo, a Casa Branca é a residência do Deus do Futuro. A Casa Branca com o seu Evangelho de Ordens Executivas está a começar o Mundo. E para começar o Novo Mundo é preciso destruir o Velho Mundo. Não há História, não há regras, não há leis, não há precedentes, não há Constituição, não há absolutamente nada para além da vontade errática, ignorante, avassaladora, do Presidente Trump na imaculada Casa Branca. Na Casa Branca observa-se o Mundo como uma extensão parasita do poder, da grandeza, da prosperidade, da América. A América na mentalidade dos políticos americanos é vítima da sua generosidade e da forma como garante a liberdade do Mundo Livre.
Na lógica de Trump, a garantia da liberdade do Mundo Livre torna a América mais fraca, mais pobre, torna a América refém de um Mundo que Trump despreza e ignora. A América de Trump não é o Deus das Pequenas Coisas. A América de Trump é a Religião do Mundo Novo – a República do Sol bem ao alto das Pequenas Nações Miseráveis. A América de Trump é a força impulsionadora da Nova História, do Momento Zero, da Mudança Manifesta, da Negação da Natureza. A Casa Branca quer viver para sempre e o jogo político é o da imortalidade. Na História Clássica só o Imperador de Roma, o Profeta, o Herói, pelo menos o Génio, pode candidatar-se a essa praga particular. O Presidente Trump transforma a imortalidade política numa expressão da Banalidade da Força. Real ou irreal, mas plenamente viva, a imortalidade da América nunca foi tão mortal perante a Sordidez do Lucro e o Êxtase do Poder. O Projecto MAGA pode ser lido pelo resto do Mundo em tradução livre, mas não em liberdade – PATÉTICOS HUMANOS, QUEM VOS PODE SALVAR AGORA?
A experiência política da América é um enredo de uma série da Netflix. Não adianta distinguir Oligarcas de Autocratas porque eles são os dois grandes ramos visíveis na decadência da Democracia na América. Se a discussão política habitual é sobre a Nacionalização do Privado, a prática política da Nova América é a Privatização do Estado a uma escala absolutamente Galáctica. A Privatização do Estado não passa de um processo de normalização banal em que o Estado é transformado numa Empresa, gerido como uma Empresa, manipulado como uma Empresa. A Soberania é o Lucro, a Defesa e a Liberdade um Monopólio, a Identidade é a Cultura da Empresa. A Cultura da Empresa América é exclusiva, identitária, baseada no fluxo interno das gerações, o que justifica a rejeição maciça e massiva de qualquer vestígio de imigração. O imigrante é um vírus no sangue puro que corre no coração da América. A América é uma ficção zombie, mecânica, acéfala, sem alma ou coração. Recordo o Coração Púrpura que um dia vi brilhar numa montra de uma loja de antiguidades. Em Londres.
A América está a transformar-se na Potência das Práticas Predatórias. Cresce a perplexidade pelo silêncio da Velha América perante a decadência da República. Onde estão os Checks and Balances, onde está a Constituição, onde está a decência e a coragem da Milícia da América? O silêncio representa o fim da América Iluminada? O silêncio representa o princípio da América Corporation? Quando Egocêntricos, Oportunistas, Empresários, se tornam Estrelas na Política, percebemos então que algo corre verdadeiramente mal.
A América vive entre uma Revolução Política e a Guerra Civil.
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