Um ano de Governo e da geringonça PSD
Se alguém pensa que vivemos no “País das Maravilhas” deve estar possuído pelos demónios da pós-verdade. Portugal tem de crescer muito, modernizar-se, gerir bem os poucos recursos que dispõe.
Eu nunca pertenci a nenhum partido, já trabalhei com quase todos, mas sou independente. Deixo este “disclaimer” para prevenir alguns incautos que possam querer colocar-me algum rótulo de esquerda ou de direita, o qual não reconheço, pois sou de um centro moderado que confia mais em pessoas do que em partidos, que tem a capacidade de enxergar o que é bem feito, sem quaisquer preconceitos.
Expectativas – Há um ano eram muito baixas. Ninguém acreditava num acordo duradouro entre PS, Bloco e PCP. António Costa teve a arte de um ourives para confeccionar esta solução governativa. Há um ano escrevi que só ele o conseguiria fazer. Aprendeu com Jorge Sampaio na Câmara de Lisboa, aprimorou no tempo em que comandava os Assuntos Parlamentares no primeiro Executivo de António Guterres e ficou à vista de todos, de novo em Lisboa, quando meteu no bolso as elites, Helena Roseta, o “Zé” eleito pelo Bloco de Esquerda e o PCP que aprovou quase tudo.
Quem tinha as expectativas mais baixas era a oposição. Melhor: o PSD, pois o CDS, desde a liderança de Cristas, seguiu o seu rumo e rapidamente percebeu que já não era poder. Ao contrário de Pedro Passos Coelho que ainda não entendeu que já não é Primeiro-Ministro, e parece que ninguém próximo dele o avisou, continuando numa liderança labiríntica de quem espera que o País lhe volte a cair nas mãos.
Comunicação – Não é segredo para ninguém que a esquerda sempre teve maior amparo (chamemos-lhe assim) dos media, mas há uma enorme diferença na postura, na maneira de encarar os problemas e os explicar às pessoas. Passos, que é uma pessoa de bem, esmerou-se num empenhamento técnico, por vezes servil, como se fosse um menino de escola que aguarda uma festinha na cabeça da professora Merkel por ser bem comportado, obediente e pouco traquinas. Costa, também uma pessoa de bem, pode ter menos apetência técnica pelas finanças, mas recolocou o seu ponto mais forte, a política pura, no centro da sua acção e com isso, muitas vezes, conseguiu gerar empatia e explicar melhor as coisas aos portugueses.
Positivo e Negativo – Não discuto contas do Estado porque esse é um assunto que deixo a quem sabe mais disso do que eu, e eu não escrevo sobre o que não domino, ao contrário de outros que comentam tudo sem saber nada. De sinal próximo do zero, o desastre da Caixa. Os episódios das viagens da Galp e as questões mesquinhas e ridículas em torno do ministro da Educação. Em termos positivos quero lembrar algo que tem sido pouco falado e merece todo o destaque. O trabalho de Maria Manuel Leitão Marques na modernização administrativa. O Governo PSD/CDS quis matar estupidamente o Simplex por preconceito e porque era algo do passado. Mas o bom Governo é o que agarra no que é bom e o tenta melhorar, não o que mata o que é pensado para facilitar a vida das pessoas. Daí o meu elogio à ministra e à Graça Fonseca, secretária de Estado, que lhe tem dado nova visibilidade.
Figuras a acompanhar – Para lá de Pedro Nuno Santos que, no dia-a-dia, gere as sensibilidades do PS e dos partidos da coligação, chamo a atenção para as segundas linhas, por serem secretários de Estado, e que podem saltar a qualquer momento para outros patamares. É o caso de Mariana Vieira da Silva, que tem comandado a coordenação da comunicação do Governo com eficácia, do João Vasconcelos e da Graça Fonseca que são políticos com futuro.
Conclusão – Se alguém pensa que vivemos no “País das Maravilhas” deve estar possuído pelos demónios da pós-verdade. Portugal tem de crescer muito, modernizar-se, gerir bem os poucos recursos que dispõe. Já passou um ano da dita “geringonça”, criação de Vasco Pulido Valente que Paulo Portas com habilidade colocou no léxico político. Mas passado esse ano, o Governo e a coligação, com amuos e crises de identidade, vai sobrevivendo e parece que, actualmente, a verdadeira “geringonça”, onde já todos ralham e se instalou o combate dos chefes, é o PSD.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
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