Com perto de 60 empresas e startups, a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) foi o palco da primeira feira de emprego em formato normal, depois de três edições marcadas pela pandemia.
Houve mais contacto cara a cara do que com folhas de cálculo nos últimos dias na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). A instituição de ensino superior voltou a ser o “Porto de Emprego” para os estudantes de Economia e Gestão, com mais de 500 vagas de estágios e de trabalho. Perto de 60 empresas e startups ocuparam as alcatifas azuis da 23.ª edição deste evento organizado pela FEP Junior Consulting (FJC).
Mal se entrava na faculdade, que a partir de 21 de março vai ser liderada por Óscar Afonso, sentia-se uma vibração diferente do costume. As conversas sobre as aulas foram praticamente anuladas pela oferta de brindes, a leitura de códigos QR ou mesmo uma música de fundo para dar a batida certa na procura de um futuro laboral, depois das salas de aula. Por não faltar espaço e propostas, o difícil foi focar a atenção na conversa com um potencial recrutador.
Esta feira, contudo, não serviu apenas para captar futuros economistas, financeiros, gestores e contabilistas. Depois da leitura de um código QR, durante dois dias também houve “oportunidades de sonho” para engenheiros mecânicos e engenheiros de gestão de informação.
Ana Albuquerque corresponde à diversidade de perfis. Foi ao Porto de Emprego à procura de um estágio de verão e com o dobro dos argumentos técnicos face a muitos candidatos. “Estou a concluir uma dupla licenciatura em Sistemas de Gestão de Informação”, nota ao ECO esta estudante, que está a concluir a parte de Gestão da Informação, depois de ter recebido o diploma em Gestão. “Tenho muitas opções em empresas e também posso trabalhar com startups e tudo o que seja tecnologias de informação”, salienta.
A morar na Maia, Ana Albuquerque pretende fixar trabalho na zona do Porto. Este é um dos exemplos valorizado pela organização do certame, a cargo da FJC, empresa de consultoria da FEP. “É muito importante focarmo-nos no emprego jovem e melhorar as condições de vida dos jovens. Portugal está com o problema de muitos jovens estarem a escapar para o estrangeiro“, assinala ao ECO o gestor deste projeto, Alexandre Pinho.
Também focada em Portugal está a Hôma, que participou nesta feira à procura de pessoas para as operações, para o departamento de marketing e para a área de recursos humanos. “O importante é o background da pessoa que estamos a recrutar”, notam Mariana Rios e Rita Silva, duas das recrutadoras no local. “Cada vez mais as pessoas tiram a licenciatura numa área e o mestrado noutra. Os percursos são diferentes e permitem que a experiência seja mais diversificada”, acrescentam.
A edição de 2023 significou o regresso à total normalidade do Porto de Emprego, depois de três anos marcados pela Covid-19. “Em 2020, como estavam a surgir os primeiros casos, várias empresas acionaram planos de contingência e cancelaram a presença à última hora. No ano seguinte, a edição foi totalmente virtual. Em 2022, foi necessário usar uma máscara”, recorda Alexandre Pinho. Também este ano, a feira abriu espaço, pela primeira vez, às mais jovens empresas tecnológicas portuguesas, que ficaram concentradas no piso dois. “Normalmente, os jovens só estão formatados para as grandes empresas”, justifica o porta-voz.
Não são só números
A organização não se preocupou apenas em rentabilizar os corredores da faculdade. Também fez questão de “aumentar o espaço de circulação” nos corredores e evitar a sobreposição dos expositores. “Não pensamos apenas em números e quisemos dar a melhor experiência às empresas e aos estudantes. Nas localizações onde considerámos que a visibilidade era reduzida, achámos que não valia a pena estar a cobrar às empresas para depois não estar ninguém a passar por lá”, justifica o responsável.
Com cada vez mais estrangeiros nas salas de aula desta faculdade, que tem 181 professores, 58 funcionários técnicos e administrativos e quase 3.200 alunos inscritos nas licenciaturas, mestrados e doutoramentos, a feira preocupou-se ainda em integrar estes alunos internacionais. Alexandre Pinho frisa que “algumas empresas trouxeram para o seu espaço pessoas que não falam português, dando uma noção de maior inclusividade”.
Além de empresas mais viradas para produtos, também houve nos corredores da FEP consultoras que trabalham sobretudo para o segmento corporativo. Para tentar captar os jovens que procuram sobretudo as marcas, a LBC “permite trabalhar com bancos, energéticas e retalhistas em diferentes projetos”. “Qualquer pessoa pode ter todas as realidades num curto espaço de tempo e compor o currículo com essas experiências”, sinaliza Margarida Gonçalves.
Mais do que a competência técnica dos candidatos, “garantida com qualquer tipo de licenciatura”, para a LBC “interessa mais o perfil pessoal, o gosto por aprender e a autoconfiança para crescer com a empresa”. Com os consultores juniores na mira, a empresa esteve no Porto para praticar “pesca à linha” e apenas tem cinco vagas abertas.
Divisão entre modelos de trabalho
Também com poucas vagas na feira estiveram os alemães da Freudenburg. O grupo químico tem um centro de serviços partilhados no Porto e procurou dois candidatos para a área financeira e um outro para a área dos recursos humanos. Não havia restrição nas áreas de licenciatura, mas “os candidatos têm de saber alemão”, atentou a recrutadora, Adriana Teiga.
Igualmente para convencer os candidatos, a empresa aposta no regime de trabalho híbrido, com a ida ao escritório em três dias por semana e um horário flexível de oito horas, que pode começar às 7h30 ou então acabar às 21h30. “Os candidatos que temos encontrado valorizam cada vez mais o equilíbrio entre o trabalho e a vida para lá disso”, sublinha a responsável.
Mais liberal é a postura da consultora LBC. “O nosso regime de trabalho é híbrido, sendo dois dias por semana no escritório e três vezes por semana em casa. Mas temos pessoas em Coimbra, na Guarda e noutras cidades, apesar de termos um escritório em Lisboa. Procuramos pessoas em todo o país”, nota Margarida Gonçalves.
A Hôma aposta sobretudo no trabalho presencial, a partir de Grijó, no concelho de Vila Nova de Gaia. “Preferimos que as pessoas estejam no escritório, embora haja a opção de um dia por semana de teletrabalho”, referem Mariana Rios e Rita Silva. “Para nós, é cada vez mais importante a localização da pessoa porque, quanto mais longe estiver, maior o risco de desmotivação”, justificam.
A frequentar o último ano da licenciatura em Gestão, Diana Sousa procura estágios profissionais ou um emprego na área de formação para poder continuar no Norte do país. A meio do mesmo curso, Pedro Carvalho está “aberto ao que possa acontecer no estrangeiro”. Resta saber se a feira será suficiente para travar a fuga de talentos de Portugal.
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Futuros economistas tentam travar “fuga de empregos” no Porto
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