A marca "made in Portugal" é um selo de qualidade no têxtil que vende lá fora. Na feira anual em Guimarães, mais de 60 empresas fizeram a cama para antigos e novos clientes.
“Os têxteis portugueses desenvolveram um nome ao longo dos últimos anos e hoje têm uma produção que é comparável à melhor indústria no mundo, como a italiana. O preço é muito melhor e a qualidade é muito comparável ao que se produz em Itália”, diz Saeed Taghdisi, que com a sua mulher Ellie Taghdisi fundou a Home Treasures, nos EUA. Esta é a primeira vez na Guimarães Home Fashion Week, ainda que Saeed já seja cliente da indústria têxtil portuguesa. Após a visita à feira que decorreu esta semana na cidade berço e onde 63 empresas portuguesas do segmento têxtil lar mostraram as suas coleções, o americano já pensa trocar alguma da sua produção italiana por peças nacionais.
Fundada em 1988, a Home Treasures orgulha-se, no seu site, de ter-se tornado o maior fabricante de lençóis italianos de luxo nos EUA. Ao ECO, Saeed admite que as empresas do segmento têxtil lar portuguesas “são o maior concorrente das empresas italianas”. “Encontrei novas empresas que produzem coisas muito parecidas com as que compramos em Itália e menos caras”, admite o empresário, especializado na venda de produtos de luxo de cama, banho e mesa, que pediu a algumas destas empresas o envio de amostras “para ver se podemos fazer negócio”.
Encontrei novas empresas que produzem coisas muito parecidas com as que compramos em Itália e menos caras.
Saeed refere que “muitas empresas, nos EUA, compram em Portugal”, porque a indústria tem a vantagem de produzir na Europa – “os chineses produzem aquilo que quisermos, mas depois dizemos que é made in China e há logo 50% de reação negativa [em relação a esses produtos], mesmo que a qualidade seja a mesma” – e “as pessoas não consideram que os produtos portugueses tenham alguma coisa a menos que os italianos”.
Convidado a participar na Guimarães Home Fashion Week por autoridades portuguesas com quem contactou na Alemanha, enquanto participava na feira HEIMTEXTIL, Saeed elogia o envolvimento das agências governamentais na promoção da indústria. “A razão para estar aqui é porque fui convidado pelas autoridades portuguesas, que pagaram o meu bilhete, o hotel. No próximo ano venho por mim, convidem-me ou não, porque vale a pena vir“.
O americano foi apenas um dos 300 compradores oriundos de 30 países que passaram pela Guimarães Home Fashion Week na Pousada de Santa Marinha, entre os dias 14 e 17 de maio, para ver as coleções dos 63 expositores nacionais, dispersos pela pousada, que estiveram a promover os seus produtos na feira dedicada a artigos têxteis para o lar.
Vindo do Japão, Taichi Matano, presidente da Nissen Shoko, especializada em atoalhados, já compra produtos “made in Portugal” há 20 anos e é um cliente frequente neste evento. “O que mais gosto nos produtos em Portugal é, em primeiro lugar, a qualidade, e depois o design e a criatividade“, reconhece.
Compro em Portugal há 20 anos. O que mais gosto nos produtos em Portugal é, em primeiro lugar, a qualidade, e depois o design e a criatividade.
“É conveniente ter todos os fornecedores juntos”, elogia a francesa Isabelle Lefébure, a participar pela primeira vez na feira vimaranense. Presente no segmento do têxtil de decoração para a casa, Isabelle Lefébure, em representação de uma empresa francesa que já compra a várias empresas em Portugal, revela estar a gostar das exposições. Questionada sobre se para o ano vai voltar, responde: “Espero que sim”.
Tiago Pereira da Cunha, CEO da Pereira da Cunha, empresa criada pelo seu avô em 1936 e detida por si e pela sua irmã Sandra, elogia a organização deste evento, que traz compradores estrangeiros para conhecer o que se faz no setor. Com vendas para os Estados Unidos, Espanha, Itália, Chile, ou México Tiago Pereira da Cunha destaca que hoje “o made in Portugal é um artigo quase premium“.
“Felizmente, cada vez mais o nosso produto está a ser conceituado. O made in Portugal cada vez mais é uma marca”, reforça António Leite, gerente da Lumatex. Com 45 funcionários e uma faturação de cerca de cinco milhões de euros, o empresário refere que “os clientes habituais vêm ver a nova coleção”, enquanto “os novos vêm em busca do que se está a afirmar mais como o produto português, que é um produto de qualidade, seguindo as normas de fabrico, respeitando o ambiente.”
Com maior exposição aos EUA, a Lumatex “tem produtos que vão no cabide e que vão ser vendidos assim e [os compradores] querem que publicite made in Portugal no cabide”, exemplifica António Leite, para mostrar a importância que é dada à marca “Portugal” na maior economia do mundo, que é o quarto maior destino das exportações do setor têxtil português.
Com 280 funcionários e uma faturação do grupo de cerca de 20 milhões de euros em 2023, a Adalberto procura “manter a nossa posição no mercado com a presença nesta feira e mostrar aos nossos atuais e futuros clientes as novidades que temos, principalmente a nível de inovação nos têxteis lar, muito baseado na sustentabilidade, um segmento em que trazemos propostas muito diferenciadoras para o mercado”, explica ao ECO Ana Pereira, da direção comercial da Adalberto.
“Hoje em dia os clientes, principalmente os europeus, estão cada vez mais atentos às inovações em termos de sustentabilidade”, reforça Célia Macedo, diretora de têxteis lar da Adalberto. Segundo a responsável, os compradores “estão atentos a todas as inovações que possamos apresentar”.
Do tapete de pelo de cão ao fio de ananás
No que diz respeito à sustentabilidade, a Sorema, especializada em tapetes para o banho e com exportação para 50 países, apresenta vários produtos inovadores. “Temos vários projetos [na área da sustentabilidade], desde fio 100% reciclado de algodão a partir dos nossos desperdícios fabris, até muitas fibras sustentáveis a nível de plantas, como a juta, fibras de ananás ou urtiga“, detalha Lia Correia, responsável da Sorema para mercados externos.
Temos vários projetos [na área da sustentabilidade], desde fio 100% reciclado de algodão a partir dos nossos desperdícios fabris, até muitas fibras sustentáveis a nível de plantas, como a juta, fibras de ananás ou urtiga.
Com 113 anos de existência e duas unidades de produção no concelho de Guimarães, em Santo Amaro e Guardizela, a Vital Tecidos também apresentou vários produtos sustentáveis e outras novidades aos seus clientes e potenciais novos compradores. “Temos uma manta feita com pelo de cão e outras mantas em linho, algodão com lã, linho 100%, toalhas de fios tintos, ou algodão orgânico”, mostra Diana Gomes, comercial da Vital Tecidos, que faturou 10 milhões de euros no ano passado e emprega 130 pessoas.
Segundo Alexandro Ribeiro, gestor comercial da Sampedro, os compradores “procuram novos designs, novos desenvolvimentos que as marcas tenham efetuado para 2024/25.” O responsável comercial da empresa de Lordelo refere também um grande interesse na sustentabilidade, o que se tem refletido no preço da matéria-prima, “nomeadamente o linho, que subiu imenso. Está em voga neste momento como uma fibra biodegradável, tal como o cânhamo, ainda que não seja tão caro como o linho”, explica. A título de exemplo, adianta, “o preço do algodão ronda o três euros o quilo, e o linho os 20 euros. Os produtos espelham esses preços”.
“Os clientes procuram ver a nova coleção, novos tecidos, ver mantas, novos desenhos, ver preços”, acrescenta Maria José Coelho Lima, que, com o marido António Coelho Lima, neto do fundador da Coelima, criou a ACL Impex. Com uma centena de empregados, a têxtil desta parte da família Coelho Lima destina praticamente toda a produção para exportação, mas já está a “entrar aqui em Portugal em hotéis, a ganhar um novo segmento”, explica Maria José Coelho Lima.
Clientes novos e antigos
O evento organizado em Guimarães tem-se afirmado como uma oportunidade para as empresas portuguesas se apresentarem a novos potenciais compradores. Este ano, a organização apostou em trazer mais clientes do Norte da Europa e, segundo os expositores, houve até uma novidade: a Hungria.
“Foram convidados mais nórdicos do que nos anos anteriores. Ao contrário de outros anos em que vimos muita presença do mercado americano, canadiano, este ano a presença desses mercados é inferior”, explica Diana Gomes, comercial da Vital Tecidos. “A associação optou por ir buscar novos potenciais clientes de novos mercados”, acrescenta, destacando a presença de compradores de países como Suécia, Dinamarca, ou Países Baixos. Para a têxtil, a feira é uma oportunidade para contactar com “mercados com quem não estávamos a trabalhar e onde queremos entrar”. “É a nossa janela para outros mercados”, conclui.
Também Marco Abreu, comercial da Bordalima, identifica clientes de países como Japão, Alemanha, Espanha, ou França. “Vêm de vários sítios, até russos”. “A maior parte deles, senão todos, estão a comprar cá. Já estão habituados ao mercado. Sabem o que procuram. Há um ou outro que não nos conhecem”, acrescenta.
Vasco Martins Pereira, conhecido como Gil Neiva, e dono da Gipanolar, diz que pela primeira vez viu um comprador da Hungria na feira. “Nunca tinha tido”.
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Têxteis de Guimarães puxam os lençóis aos italianos
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