Volatilidade trava estreias em bolsa na Europa
A expectativa de uma fraca procura das suas colocações devido à volatilidade do mercado, está a levar várias empresas a desistirem dos seus IPO.
A volatilidade que atinge as ações europeias está a levar diversas empresas a desistir da decisão de se estrearem em bolsa. Estas temem que a instabilidade no mercado conduza a uma fraca procura dos seus IPO (oferta pública inicial na sigla em inglês), com o Brexit a ensombrar.
Ainda na última terça-feira, a maior cadeia de fitness do Reino Unido – o grupo Pure Gym – desistiu de se listar na bolsa de Londres, atribuindo a decisão à falta de entusiasmo dos investidores por novas ofertas públicas. “Dadas as difíceis condições do mercado de IPO, o conselho decidiu não avançar com uma listagem, apesar do forte interesse demonstrado por potenciais investidores “, justificou Humphrey Cobbold, presidente executivo da empresa britânica. O grupo detido por um fundo de private equity planeava angariar em torno de 211 milhões de euros (190 milhões de libras), para pagar dívidas e expandir o fundo. No mesmo dia, também a germânica IVG Immobilien optou por uma decisão semelhante, alegando a mesma razão.
Já a gestora de desperdícios britânica Biffa está a avaliar se pretende dar seguimento ao seu IPO depois de assistir a uma fraca procura por parte dos investidores, segundo terão revelado fontes próximas do processo. A alternativa para a empresa poderá passar por uma venda total, se não existir volume suficiente de procura no IPO que termina na próxima quarta-feira (19 de outubro), segundo apurou a Bloomberg. O objetivo da Biffa passa por conseguir angariar no mercado cerca de 300 milhões de euros (270 milhões de libras).
A evolução nos últimos seis meses do Vstoxx50, índice que mede a volatilidade do Stoxx Europe 50, atesta a subida dos níveis de stress no mercado acionista europeu logo a seguir ao referendo britânico. Foram diversas as companhias que se lançaram no mercado de IPO depois do verão, já após o voto ao Brexit, em junho. Algumas das empresas que se aventuraram nos mercados após o referendo no Reino Unido terão tido fracos desempenhos. Foi o que aconteceu com a empresa de pagamentos nórdica Nets, cujos títulos desvalorizaram mais de 9% nas semanas que se seguiram ao IPO, apesar do forte apetite dos investidores demonstrado na venda.
Não é uma boa notícia os primeiros negócios que saiam após o Brexit serem retirados.
“O resultado dos próximos negócios irá mostrar como vão ser os próximos meses”, afirmou Mark Hughes, partner da PricewaterhouseCoopers, citado pela Bloomberg, acrescentando que “não é uma boa notícia os primeiros negócios que saiam após o Brexit serem retirados”.
Já a operadora espanhola Telefonica lançou um IPO do seu negócio de infraestruturas no mês passado. Fonte próximas, já terão sinalizado que a empresa espanhola pondera listar a sua unidade móvel britânica O2 na primeira metade de 2017, em vez de o fazer neste trimestre como forma de evitar uma venda forçada.
Queda da libra afeta operações
O sentimento dos investidores em relação aos IPO no mercado londrino está a ser afetado pela desvalorização acentuada da libra esterlina que se sucedeu ao voto favorável ao Brexit, em junho. O volume destas operações levadas a cabo até ao referendo britânico também foram pressionadas, com as empresas a optarem por adiar decisões dessa monta.
Em 2016, as empresas europeias conseguiram angariar 25,6 mil milhões de euros (28,2 mil milhões de dólares) através de estreias em bolsa, segundo dados compilados pela Bloomberg. Este valor representa uma acentuada quebra face aos 43,9 mil milhões de euros (48,4 mil milhões de dólares) que se tinham verificado no ano passado. A análise da performance das cotadas listadas recentemente também ilustram a menor atratividade destas operações. Em média, os respetivos títulos valorizaram 11% este ano, o que compara com uma progressão de 24 em igual período de 2015.
Apesar destes dados, nem todos os IPO têm corrido mal. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Takeaway.com, cujos títulos já valorizaram 5,9% desde o IPO realizado em setembro. Já a germânica Shop-Apotheke estabeleceu esta semana o preço do seu IPO nos 28 euros.
Os investidores têm apetite pelo risco, mas não muita tolerância.
“O mercado europeu de IPO tem tido pouca energia, tendo em conta a fraca ida para o mercado de um conjunto de de IPO de grande dimensão”, afirmou Craig Coben, responsável do Bank of America. “Os investidores têm apetite pelo risco, mas não muita tolerância“, acrescentou o mesmo responsável citado pela Bloomberg.
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