Roncar da Ferrari não será tão sedutor na era elétrica

  • Bloomberg
  • 13 Novembro 2016

O CEO considera "quase obscena" a produção de um Ferrari totalmente elétrico porque os carros elétricos são silenciosos demais. Ele não é tolo.

Além da cor vermelha, o barulho ensurdecedor de um Ferrari é o que deixa os fãs em êxtase — e dispostos a desembolsar até dois milhões de dólares para comprar um. Mas os investidores devem avaliar se os barulhentos motores de combustão da Ferrari não são uma possível desvantagem.

Por enquanto, a companhia avança em velocidade de cruzeiro. Superou as expectativas de lucro do terceiro trimestre e elevou a meta dos resultados para o ano inteiro. Os resultados elevaram as ações em mais de 5%, o que significa que os títulos estão novamente acima do preço do IPO, de 52 dólares (47 euros).

Mas, assim como os seus carros, as ações da Ferrari não são baratas. Elas são negociadas a 25 vezes os lucros estimados de 2016, aproximadamente o triplo do alcançado pela BMW e não muito distante de uma empresa de produtos de luxo como a Prada.

Como vende menos de 10.000 carros por ano, a Ferrari não precisa cumprir as mesmas regras rígidas para emissões que os fabricantes de veículos maiores como a BMW. Mas isso não significa que a eletrificação não seja uma ameaça.

O planeta está a aquecer mais rapidamente do que se temia e os efeitos estão a tornar-se evidentes até mesmo para os céticos. Por isso, existe o risco de os motores de combustão começarem, de uma hora para outra, a ser encarados como ultrapassados. E o que é pior: o roncar de um Ferrari nas ruas de Londres ou de Los Angeles pode algum dia gerar sentimentos de hostilidade, e não de boa vontade ou inveja. Lembra-se do cigarro nos restaurantes?

O CEO Sergio Marchionne diz que a maioria ou todos os carros da Ferrari serão “híbridos” a partir de 2019, o que significa que terão motores de combustão e elétricos. Mas ele afirmou que a produção de um Ferrari totalmente elétrico seria “quase obscena” porque os carros elétricos são silenciosos demais.

Marchionne não é tolo. Os seus clientes — muitos deles donos de mais de uma Ferrari — pensam exatamente da mesma forma. O problema é que até mesmo os gostos dos indivíduos velhos e ricos mudam. O Blackberry era indispensável até deixar de sê-lo.

O motor de combustão já perdeu uma vantagem em relação aos carros elétricos: a velocidade. A nova versão do Tesla Model S vai de 0 a 96,5 km/h em apenas 2,5 segundos, o mesmo que o Bugatti Veyron e a LaFerrari, da Ferrari.

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LaFerrari Aperta é uma das apostas da marca para animar os resultados. (Foto: Ferrari)

Como todos os veículos a bateria têm torque instantâneo, presume-se que muitos carros elétricos serão capazes de algo similar. Porsche, Mercedes-Benz e Audi estão a lançar modelos elétricos de luxo. A velocidade pode vir a ser uma commodity.

É claro que a Ferrari provavelmente é capaz de construir um carro elétrico, mas isso elevaria o gasto com pesquisa e desenvolvimento e prejudicaria o crescimento dos lucros. Em cerca de 20% das vendas, o gasto da Ferrari com pesquisa e desenvolvimento já é proporcionalmente mais elevado que o de suas rivais porque seus volumes de venda são muito menores.

Uma mudança repentina no setor também poderia prejudicar as vendas de novos carros da Ferrari porque os clientes teriam a preocupação de que os seus veículos com motores de combustão não manteriam os seus altos valores residuais. A Ferrari também ganha dinheiro vendendo motores de combustão para a Maserati, negócio que respondeu por cerca de 6% das suas receitas no ano passado.

Se tudo isso soa pessimista demais, veja o que dizia o prospeto do IPO da Ferrari:

“As regras governamentais podem aumentar nossos custos para projetar, desenvolver e produzir nossos carros e afetar nosso portfólio de produtos. A regulação também poderá resultar numa mudança de personalidade ou das características de desempenho dos nossos carros, o que pode torná-los menos atraentes para os nossos clientes. Nós prevemos que a quantidade e a abrangência dessas regulações, e o efeito delas sobre a nossa estrutura de custo e a nossa linha de produtos, aumentarão significativamente no futuro.”

As ações da Daimler e da BMW caíram porque os investidores temem que estas fabricantes vão enfrentar custos altos para passar dos veículos a gasolina para os elétricos. A marca do cavalino rampante pode ser mais uma a sofrer um revés.

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