Facebook faz mais uma tentativa para entrar na China

  • Bloomberg
  • 28 Novembro 2016

Mark Zuckerberg está a aprender mandarim e ofereceu ao presidente chinês Xi Jinping a hipótese de escolher o nome de seu primeiro bebé. O dirigente recusou.

Mark Zuckerberg, do Facebook, está disposto a tentar praticamente qualquer coisa para colocar a sua empresa na China… novamente. Publicamente, o CEO do Facebook tentou conquistar o país aprendendo mandarim e ofereceu ao presidente chinês Xi Jinping a oportunidade de escolher o nome de seu primeiro bebé (ainda que este tenha recusado). Menos publicamente, mas não menos importante, segundo informações do New York Times, a companhia desenvolveu ferramentas para evitar que publicações sensíveis apareçam nos feed do Facebook em “determinadas regiões geográficas”.

Trata-se de uma medida ambiciosa que salienta o quanto o Facebook está em busca de seu próximo bilhão de usuários. Mas mesmo que as novas ferramentas convençam o governo da China a suspender a proibição do Facebook, os 700 milhões de utilizadores de internet do país não terão muitos motivos para participar. Eles têm muitas redes sociais próprias, a maioria mais avançada e prática. Como Zuckerberg com certeza sabe, o panorama para entrar na China continental parece sombrio. Por que então o Facebook continua tão interessado?

Os antecedentes históricos sem dúvida sugerem cautela. Em 2008, quando o Facebook lançou uma versão em chinês, a rede conseguiu atrair apenas 285.000 integrantes continentais — de uma população de internet composta por mais de 225 milhões. Enquanto isso, plataformas concorrentes, especialmente a QQ, da Tencent, conquistavam dezenas de milhões. No ano seguinte, o Facebook foi bloqueado pelo governo, o que acabou com qualquer chance de acompanhar o ritmo dos empreendedores on-line da China.

Para piorar (para o Facebook), os rivais chineses começaram a inovar: a Sina Weibo, antigamente considerada uma imitação do Twitter, tornou-se uma versão aprimorada da rede social, incorporando sequências de comentários e vídeos muito antes de o serviço com sede em São Francisco pensar em fazer isso.

Mas o serviço mais revolucionário foi o WeChat, da Tencent, lançado em 2011. À primeira vista, ele parecia apenas mais uma rede social e um serviço de mensagens. Mas conseguiu transformar-se rapidamente em algo muito mais rico, oferecendo um sistema gratuito de chat com vídeo, um serviço para pedir táxi, um portal para pagar contas e um amplo ambiente de compras. Hoje é possível fazer transações bancárias através do sistema e transferir dinheiro para qualquer pessoa. Inspirados na saga “O Senhor dos Anéis”, alguns utilizadores brincam, dizendo que se trata de “uma aplicação para a todos governar”. Atualmente, conta com mais de 700 milhões de utilizadores, incluindo praticamente todo mundo com acesso à internet na China — e outros 70 milhões no exterior.

Em comparação com o WeChat, o Facebook é um deserto, com pouco apelo para os clientes chineses. Não existem dados estatísticos públicos sobre a quantidade de chineses continentais que usam o Facebook mas, segundo a minha experiência, a maioria são chineses que moraram ou trabalharam no ocidente, desejam manter as amizades feitas no exterior e têm os meios técnicos para evitar os bloqueios governamentais. Para quem não tem essas conexões, o único suposto apelo do Facebook é que a rede social oferece acesso a notícias, publicações e vídeos que, de outro modo, seriam censurados. Se e quando o Facebook for relançado, essas vantagens vão desaparecer – e com elas o motivo mais evidente para participar dele.

Mas o Facebook ainda tem algo a seu favor, que sem dúvida Zuckerberg tem em mente: a tecnologia e as redes sociais evoluem rapidamente na China.

Há apenas dois anos, Sina Weibo era a maior e a mais popular plataforma de rede social da China. Mas, depois de uma repressão do governo, perdeu o seu viés político e muitos de seus utilizadores mais famosos, e foi dada como morta. No entanto, enquanto os tributos fúnebres estavam sendo escritos, a Weibo estava a reinventar-se. Em pouco tempo, tornou-se uma plataforma para streaming ao vivo de bloggers e autopromoção de celebridades e voltou a prosperar, estimulada por impressionantes 10 milhões de transmissões ao vivo entre abril e junho deste ano — um aumento de 116 vezes em relação ao trimestre anterior. Hoje, a Weibo aproxima-se dos 300 milhões de usuários e as estrelas mais famosas de suas transmissões ao vivo conseguem patrocínios de milhões de dólares.

É tarde demais para o Facebook entrar na onda das transmissões ao vivo. Mas Zuckerberg e os seus colegas, com certeza, estão a perceber que um site politicamente neutro, com foco em celebridades e vídeos curtos, pode chamar a atenção de centenas de milhões de chineses — e, assim, reerguer uma rede social sitiada que foi dada como morta. Noutras palavras, as tentativas de Zuckerberg para conquistar a China ainda podem compensar.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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