Vale a pena ir ao aumento de capital do BCP?
O BCP está a tentar obter 1.300 milhões de euros. É um aumento de capital de grandes dimensões que procurará estabilizar o banco, mas não afasta todas as dúvidas. Saiba o que dizem os analistas.
Vale a pena ir ao aumento de capital do BCP? Os analistas ouvidos pelo ECO assumem cautela em relação à participação no reforço de capitais de 1.300 milhões de euros do banco português. Embora a operação vá estabilizar o banco, há dúvidas quanto à evolução do negócio bancário do BCP BCP 0,00% nos próximos anos. E nem a intenção de distribuir dividendos em 2019 deve deixar os investidores mais descansados. “Os riscos do prospeto devem ser levados a sério e à letra“, salienta João Queiroz, do Banco Carregosa.
O BCP prepara-se para aumentar o capital em 1.300 milhões de euros, através da emissão de 14 mil milhões de novas ações com um desconto de 38% — fator que tem pressionado a cotação nas últimas sessões. Este dinheiro fresco vai permitir antecipar o reembolso da ajuda ao Estado no valor de 700 milhões de euros e aumentar os rácios de capital para níveis acima do exigido pelo regulador europeu.
Com a devolução dos fundos públicos, a política de remuneração acionista vai deixar de estar condicionada no BCP, que já anunciou a intenção de voltar a distribuir lucros de 2018 entre os acionistas. O que devem esperar os investidores?
“O pagamento de dividendos no setor bancário europeu assemelha-se mais a um processo de intenções do que uma realidade com razoável probabilidade se concretizar porque deverá ter que criar maiores almofadas de reservas para defender depositantes e o princípio da continuidade das suas futuras operações”, lembra o diretor de negociação do Banco Carregosa.
"O pagamento de dividendos no setor bancário europeu assemelha-se mais a um processo de intenções do que uma realidade com razoável probabilidade se concretizar porque deverá ter que criar maiores almofadas de reservas para defender depositantes e o princípio da continuidade das suas futuras operações.”
No caso do BCP, a questão dos dividendos é ainda mais sensível. Na apresentação aos investidores, Nuno Amado referiu que pretende repartir pelo menos 40% dos lucros que tiver dentro de dois anos. Mas há que ter em conta os riscos associados à atividade bancária, riscos estes ampliados por um elevado nível de malparado e por uma economia em má forma.
“O desempenho económico do BCP vai estar dependente da capacidade de a banca em Portugal conseguir recuperar a sua “integridade” e do desempenho das carteira de crédito, em particular a capacidade de reduzir crédito malparado”, frisa Queiroz. “Mas face às baixas taxas de crescimento económico (inferior a 2%), num contexto em que tem de competir com o Estado que absorve muito recursos e o Investimento decresce consistentemente, em geral, o futuro da banca não é nada animador”, acrescenta.
Por isso, como faz questão de sublinhar Albino Oliveira, participar ou não no aumento de capital do BCP “dependerá das expectativas que cada investidor terá para a evolução dos resultados do banco“. “Nomeadamente no que se refere à capacidade de serem atingidos os objetivos que o BCP apresenta no seu plano de negócios, e da avaliação feita ao processo de restruturação que a atual administração do BCP tem implementado (via redução da base de custos)”, enumera o gestor da Patris Investimentos.
Há oportunidades e riscos
Como em qualquer investimento bolsa, por cada mão oportunidades e há outra de riscos associados. E a operação do BCP não escapa a esta lógica. No prospeto aprovado na semana passada pela CMVM, mais de 60 páginas foram exclusivamente dedicadas à exposição dos fatores de risco que podem virar do avesso qualquer estratégia de investimento dirigida a este aumento de capital. Quem participou nos últimos reforços de capital do banco sabe muito bem do que se trata.
“Todos os riscos que constam de um prospeto aprovado por um regulador devem ser levados a sério e à letra“, avisa Queiroz. “Destacaria os riscos soberanos e considerava aqui não apenas o inerente ao desempenho das obrigações soberanas de Portugal mas também novas medidas e leis que o parlamento e/ou Governo da Polónia entendam colocar para estabilizar a sua economia e mercado de capitais”, elenca o gestor do Banco Carregosa.
"Ir ao aumento de capital? Dependerá das expectativas que cada investidor terá para a evolução dos resultados do banco, nomeadamente no que se refere à capacidade de serem atingidos os objetivos que o BCP apresenta no seu plano de negócios, e da avaliação feita ao processo de restruturação que a atual administração do BCP tem implementado.”
Albino Oliveira complementa: “A atenção dos investidores deverá concentrar-se na evolução dos rácios de cobertura dos ativos em incumprimento (ou seja, na qualidade do balanço), de modo a permitir ao banco uma redução no seu custo do risco (constituição de provisões)”.
Desvendando a mão de oportunidades, Queiroz ressalva o elevado desconto com que é realizada a operação: “Atendendo ao facto de o valor do BCP em mercado (capitalização bolsista) ser inferior à sua participação de 50,0% no Millennium em Varsóvia parece que o mercado está a refletir um desconto elevado”. Já Albino Oliveira vislumbra a mais-valia no futuro. “Espera-se que ocorra numa fase já mais avançada do processo de restruturação do banco”, criando as bases para “para que a rentabilidade do negócio possa aumentar nos próximos anos“, explica Albino Oliveira.
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