Banca estrangeira vs nacional: É bom ou mau para si?
Os custos base associados a uma conta bancária tendem a ser mais altos nos bancos nacionais, mas tudo depende do grau de envolvimento do cliente que pode diluir essa diferença.
O sistema financeiro português fala cada vez menos a língua de Camões. Entre o desaparecimento de bancos, o surgimento de novas instituições e mexidas nas estruturas acionistas, a presença estrangeira no sistema financeiro nacional é cada vez mais forte. Do ponto de vista do cliente esta alteração do paradigma da banca nacional é positiva ou negativa? Foi o que o ECO procurou perceber ao analisar os custos associados à mais básica relação estabelecida entre bancos e clientes: a manutenção e utilização de uma conta bancária. E a conclusão é que ser cliente de um banco com forte presença estrangeira em determinadas situações até pode compensar.
O foco da análise centrou-se em 11 bancos que operam em Portugal, sendo que deste total foram identificados apenas cinco que se podem assumir na integra como portugueses. É o que acontece com a Caixa Geral de depósitos, o Novo Banco, o Montepio Geral, o Crédito Agrícola e o “benjamim” da banca nacional: o Banco CTT. Do outro lado, destaca-se a forte presença espanhola, onde se inclui o Santander Totta que faz parte do grupo Santander, bem como o Popular que é uma sucursal do Banco Popular. Mas também o Bankinter que ficou com a quase totalidade dos ativos de retalho do Barclays, quando este deixou a operação em Portugal em abril do ano passado. O angolano BIC, é outro dos bancos estrangeiros a operar em território nacional também considerado.
Já o BCP e o BPI apesar de até agora serem bancos portugueses, apresentam na sua estrutura acionista uma forte presença estrangeira. O banco liderado por Nuno Amado tem como principais acionistas os chineses da Fosun (24%), a espanhola Sonangol (15%) e a BlackRock (3%) que controlam conjuntamente 42% do capital do BCP. Esta participação estrangeira poderá sair ainda mais reforçada, uma vez que a Sonangol manifestou interesse em reforçar a sua posição no banco de forma faseada nos próximos meses. No caso do BPI este acaba de mudar para as mãos dos catalães do CaixaBank, que já era o seu principal acionista, no seguimento da OPA que terminou na última terça-feira.
Nas comissões, a nacionalidade importa?
Muitos clientes dos bancos não têm consciência da nacionalidade do banco que utilizam, mas o que parece certo é que este pormenor pode fazer diferença em termos de custos. Numa análise onde foram contabilizados os custos anuais associados à manutenção da conta bancária, à subscrição de um cartão de débito e de um cartão de crédito, em cada um dos 11 bancos considerados, foi possível concluir que as instituições financeiras com forte presença estrangeira tendem a cobrar menos.
Guião das comissões: bancos portugueses vs estrangeiros
Se excluirmos o Banco CTT que não cobra nenhum dos três custos considerados — resultado da sua estratégia de implementação no mercado e de uma estrutura assente em baixos custos que lhe permite cobrar menos –, as instituições financeiras que apresentam custos com comissões mais baixas são ou estrangeiras ou com elevado peso de estrangeiros no seu capital.
No Bankinter o custo anual ascende a 72,8 euros, seguindo-se o angolano BIC, onde os encargos totalizam 78,52 euros. Qualquer destes dois bancos tem uma presença recente em Portugal, o que constitui um incentivo a apresentar um preçário mais “amigo” que ajude a fidelizar e a atrair mais clientes. Também o BPI e o BCP figuram entre as instituições que apresentam encargos mais baixos, sendo estes de 83,2 e 92,98 euros, respetivamente. Do lado oposto, surge o Montepio Geral que apresenta para os mesmos três custos considerados um encargo anual de 108,16 euros. Ou seja, 49% acima dos valores praticados pelo Bankinter.
A explicação poderá estar no poder de mercado que as maiores instituições tenham, sobretudo se tiver os clientes “presos” a produtos de longo prazo como crédito à habitação. Outra explicação poderia ter a ver com o facto de, em média, os bancos nacionais terem uma estrutura mais pesada e, por isso, necessitarem de uma margem mais alta.
“A explicação poderá estar no poder de mercado que as maiores instituições tenham, sobretudo se tiver os clientes ‘presos’ a produtos de longo prazo como crédito à habitação. Outra explicação poderia ter a ver com o facto de, em média, os bancos nacionais terem uma estrutura mais pesada e, por isso, necessitarem de uma margem mais alta”, diz Filipe Garcia, presidente da IMF, para sustentar a diferença de custos identificada entre bancos nacionais e os restantes.
Contudo, o economista salienta que apesar do comissionamento dos bancos nacionais aparentar ser um pouco mais alto, este “depende muito dos serviços e da relação com o cliente e do banco em questão“, salientando que “é possível ter contas sem custos em quase todos os bancos”. “Ou seja, não me parece que seja uma diferença muito expressiva“, conclui Filipe Garcia.
De facto, basta adicionar ao cenário base considerado os custos associados à realização de transferências bancárias pela internet para que o ranking de encargos cobrados sofra alterações substanciais. Ao incluir três transferências online mensais, o Santander Totta passa a ser o banco onde os custos anuais são mais elevados, com estes a subirem para 150,6 euros anuais. Também o BCP e o BIC sobem no ranking dos encargos mais elevados, trocando de posições com a Caixa Geral de depósitos e o Crédito Agrícola.
O maior envolvimento do cliente com o banco, com a domiciliação do ordenado, por exemplo, também ajuda a diluir as diferenças de custos entre os bancos nacionais e os restantes. Neste tipo de situações não são cobradas comissões de manutenção da generalidade dos bancos, e muitos são também aqueles que isentam as anuidades dos cartões de débitos.
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