Quem são os melhores economistas de Portugal? Descubra-os
A melhor instituição de investigação em economia em Portugal é a Nova SBE. Mas os principais economistas portugueses estão em universidades estrangeiras. Porquê?
Quem é o maior perito português em microeconomia? Pode parecer uma pergunta de difícil de resposta, mas existe uma ferramenta para ajudar a descobrir: o maior especialista na área é Luís Cabral, investigador na Universidade de Nova Iorque (NYU), julgando pelas suas publicações sobre o assunto em revistas científicas de renome.
O Ranking de Investigação em Economia em Portugal, desenvolvido pelos investigadores Miguel Portela e Paulo Guimarães, tem em parte este propósito: ajudar a identificar quais os investigadores mais ativos e especializados nas diferentes áreas, para estudantes de economia à procura de orientador, jornalistas à procura de fontes, e mesmo para os economistas se conhecerem entre si. “Eu comecei este trabalho já há muitos anos atrás, e as pessoas não sabiam o que os outros faziam, não se sabia o que se produzia”, disse Paulo Guimarães, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, ao ECO.
Quando era docente, acrescentou o economista, “fazia muitas vezes uma pergunta aos alunos: Quem é o investigador que melhor conhece na instituição onde está?” A resposta, muitas vezes, ficava presa “às pessoas que estavam nos jornais”.
Consultar os rankings organizados por Paulo Guimarães e Miguel Portela, numa colaboração entre o Centro de Economia e Finanças da Universidade do Porto (CEFUP) e o Núcleo de Investigação em Políticas Económicas (NIPE) da Universidade do Minho, é ver constituir-se uma imagem eclética dos economistas portugueses, e uma lista, essa já mais familiar, das melhores instituições portuguesas para estudar economia.
Do lado dos investigadores, Luís Cabral da NYU, que também ensina na AESE Business School, surge em primeiro lugar, seguido por Sérgio Rebelo, na também norte-americana Northwestern University, e Ricardo Reis, atualmente na London School of Economics. Em quarto lugar está o investigador Nuno Garoupa, da Universidade do Illinois, e em quinto o primeiro investigador a exercer a sua atividade numa instituição portuguesa: Pedro Pita Barros, da Nova SBE. No top 10, só Pita Barros e o investigador da Universidade do Minho Odd Rune Straume trabalham em Portugal.
Ranking dos investigadores portugueses em economia
A Nova School of Business and Economics (Nova SBE), da Universidade Nova de Lisboa, é a primeira no ranking das instituições no que toca à investigação em economia em Portugal. É seguida, a alguma distância, pelo ISEG, da Universidade de Lisboa, pela Universidade do Porto e pela Universidade do Minho.
“Claro que nos sentimos orgulhosos”, resumiu Daniel Traça, diretor da Nova SBE, ao ECO. “Não sendo a motivação última do nosso trabalho, o reconhecimento neste e noutros rankings renova a nossa confiança na nossa estratégia e nas pessoas que fazem parte da Nova SBE”, acrescentou. A instituição, consistentemente no topo entre as portuguesas nos rankings de ensino como o do Financial Times, tem também foco na área da investigação, que “tem sido desde sempre um elemento fundamental da nossa estratégia e está hoje no ADN da instituição”, acrescentou o diretor.
Ranking das instituições portuguesas em investigação em economia
“Como todos os rankings, este serve sobretudo para servir de benchmark a todas as instituições, para saberem como estão relativamente aos seus pares e para definirem objetivos e estratégias”, acrescentou Daniel Traça. “A investigação científica na área da economia e da gestão é hoje elemento fundamental da estratégia de uma universidade com ambição”.
A “seleção natural” da fuga de cérebros
Ao olhar para o ranking dos melhores economistas portugueses, a questão torna-se óbvia: por que é que a maioria deles, oito no Top 10, exerce a sua atividade em universidades estrangeiras? “É uma seleção natural”, disse Paulo Guimarães, um dos responsáveis pelo ranking. “Os melhores vão-se embora”. Quais os fatores que jogam neste processo?
Para o segundo colocado no ranking geral dos investigadores, Sérgio Rebelo, a pergunta tem desde logo uma implicação clara: “Portugal tem investigadores capazes de fazer trabalho de grande qualidade desde que tenham os meios necessários ao seu dispor”, afirmou ao ECO o investigador de Finanças Internacionais na Kellogg School of Management, na universidade norte-americana Northwestern. “Podemos ter em Portugal universidades que competem a nível global atraindo assim alunos de todo o mundo. Mas para isso precisamos de ser capazes de atrair e reter talento“.
Também Daniel Traça vê espaço para uma interpretação com uma faceta positiva. O diretor da Nova SBE escolhe destacar “um enorme esforço feito desde há décadas para estimular os melhores alunos nacionais a prosseguir um doutoramento e uma carreira académica, com ênfase na investigação científica”, o que leva os estudantes portugueses a brilhar nas universidades estrangeiras.
Mas o que faz com que fiquem por lá? Há vários fatores que motivam esta fuga dos investigadores mais ativos para universidades além-fronteiras, muitos deles para os Estados Unidos ou o Reino Unido. “A maior parte das universidades portuguesas são públicas, por isso não podemos competir em termos de salário” com as grandes universidades privadas noutros países, esclareceu Paulo Guimarães. “Depois há a questão da progressão na carreira, que não valoriza a investigação”.
Que soluções existem para tentar manter estes “super-talentos” em Portugal, ou trazê-los de volta? As dificuldades financeiras do Ensino Superior são difíceis de superar, mas Daniel Traça lembra que existem outras hipóteses em cima da mesa. “Recentemente, algumas medidas fiscais que estimulam o regresso de profissionais de alto valor acrescentado têm ajudado. Mais apoios desta ordem poderiam ajudar ainda mais, nomeadamente o alívio fiscal a um sistema de prémios aos investigadores mais produtivos”, exemplifica.
“Uma outra possibilidade seria encorajar, nomeadamente em sede de desconto de IRC, o setor privado a ceder fundos que as universidades pudessem utilizar para o recrutamento de professores e investigadores — uma política que é corrente em alguns países estrangeiros”, propõe, e deixa uma última sugestão: “Finalmente, a enorme carga burocrática e administrativa com que hoje se defrontam as instituições de Ensino Superior é também um obstáculo — por exemplo, as restrições à utilização das receitas próprias em sede de Orçamento de Estado implica que mesmo aquelas universidades que gerem fundos para atrair alguns daqueles talentos se vejam constrangidas”.
Para que serve o ranking?
“Em geral, os rankings valem o que valem, medem o que medem: devem ser interpretados com cuidado”, assumiu o primeiro classificado nesta lista, o investigador da NYU Luís Cabral. “Um ranking de best-sellers, por exemplo, não se refere aos melhores livros mas sim aos livros mais vendidos. O ranking das escolas, para dar outro exemplo, mede as notas dos exames dos alunos, não a qualidade das escolas. Há que saber fazer estas distinções”.
Uma lista que elenca todos os economistas portugueses, de acordo com uma pontuação que se prende com o número de artigos publicados em revistas científicas e com a reputação das publicações, pode parecer à superfície um instrumento de competitividade. Na verdade, o ranking tem uma utilidade mais prática, que não é apenas a de dar a conhecer o trabalho que se faz nos diferentes domínios da investigação em economia — embora essa seja central.
Os próprios investigadores são os primeiros a dizer que não dedicam particular atenção ao lugar onde se encontram nos rankings. “A consideração que os académicos têm pelos colegas de profissão inclui um grande número de dimensões que vão muito para além de rankings parciais”, afirmou Luís Cabral.
“Confesso que de vez em quando consulto o número de citações no Google Scholar, mas em geral não presto atenção aos rankings”, explicou também Sérgio Rebelo ao ECO. “O meu objetivo é fazer bom trabalho”.
Pedro Pita Barros disse o mesmo, desvalorizando mesmo a sua posição enquanto o economista mais bem colocado a trabalhar em Portugal. “Não dou grande valor a esses rankings. Como há muitos critérios possíveis para os estabelecer, é sempre possível estar bem colocado num deles e mal colocado num ranking segundo outro critério”, afirmou. “Dentro de cada área, mais importante do que estar nos rankings é conseguir receber a atenção, científica e da comunidade em geral para os trabalhos realizados”.
Mas os rankings não servem, primeiramente, para os investigadores competirem entre si. Em primeiro lugar, como explicou Paulo Guimarães, o ranking que começou a ser desenvolvido no ano 2000 tem várias razões de ser. Desde logo, “a questão dos concursos públicos”: um ranking com base em critérios objetivos permite seriar pessoas de forma justa e transparente.
Também pode ajudar as universidades e centros de investigação a melhor avaliar e reforçar as suas capacidades. “Em muitas instituições torna-se difícil perceber em que áreas devem investir“, afirmou Paulo Guimarães, e um ranking dos seus economistas pode ajudar a saber melhor como alocar os recursos. A listagem também pode ser útil para os estudantes que precisam de saber quem são os especialistas em determinadas áreas, para saber quem investiga o quê e junto de quem devem procurar orientações. “Há algum interesse e começam já a consultar” os rankings, explicou o cocriador deste.
Sérgio Rebelo defendeu também os rankings pela sua utilidade nas avaliações académicas. “Este tipo de informação torna mais difícil tomar decisões de contratação e promoção com base em critérios arbitrários”, defendeu o economista.
Como se calcula?
Um ranking deste tipo tem de ser transparente para ser confiável, e os investigadores responsáveis esclarecem, nas Perguntas Frequentes, os métodos utilizados. O ranking parte do número de publicações de cada investigador português, e tem depois em conta o número de coautores e também a “importância” da revista científica em questão. Abrange mais de 600 publicações científicas das áreas económicas.
A “importância” das revistas e publicações científicas pode ser calculada de acordo com diferentes métodos — afinal, brinca Paulo Guimarães, “os economistas há muitos anos que se divertem a avaliar ou a dar pontuações às revistas”. Porque existem vários sistemas díspares para o fazer, o ranking do CEFUP e do NIPE toma em conta um valor médio com base em múltiplos métodos de cálculo de “importância”. No site, é possível analisar os dados recalculando a pontuação dos investigadores portugueses de acordo com o método de preferência, ou consultar a média. Também é possível consultar o ranking relativamente a diferentes períodos temporais, e brincar com os dados de outras formas.
O ranking do NIPE e do CEFUP tem as suas limitações, no sentido em que se foca no número de publicações de cada investigador, permitindo identificar os que mais conhecimento produzem. “Não atribui peso a uma dimensão considerada importante no mundo académico: o número de citações”, destaca o primeiro classificado, Luís Cabral. O número de vezes que o trabalho de um investigador é citado noutros trabalhos científicos publicados permite medir a influência do conhecimento que produziu. “Fosse esse o caso, o professor Sérgio Rebelo seria certamente colocado em primeiro lugar”, acrescenta o investigador da NYU.
Notícia alterada às 16.30 do dia 14 de fevereiro: Esclarece que o investigador Luís Cabral também é professor convidado na AESE Business School.
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