Debate a 11: Quem vence e quem perde na corrida ao Eliseu?
Macron e Mélenchon parecem ser os vencedores de uma noite confusa, com 11 candidatos em palco, em que todos se atropelaram para se fazerem ouvir. Le Pen encostou-se à parede.
Os principais candidatos são cinco, os que figuram melhor nas sondagens muito divididas para as eleições presidenciais francesas cada vez mais próximas. O favorito é o independente, antigo socialista, Emmanuel Macron, acompanhado pelo candidato da direita, o fragilizado por escândalos François Fillon, o socialista Benoît Hamon criticado por encostar demasiado à esquerda, a dirigente do partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, e também o líder do partido de esquerda La France Insoumise, Jean-Luc Mélenchon. Mas como se não bastasse, há mais seis candidatos na corrida ao Eliseu, cuja primeira volta é já dia 23 de abril, e o debate televisivo desta terça-feira à noite juntou-os a todos no mesmo palco para trocarem picardias e fazerem propostas, algumas delas improváveis.
Quem sai mais favorecido deste debate? Os analistas que falaram ao Le Figaro (conteúdo em francês/acesso livre) referem um nome: Jean-Luc Mélenchon. O candidato encostado à esquerda foi o que mais se distinguiu apesar do modelo confuso de debate com inúmeros candidatos. “Nenhum dos grandes candidatos se distinguiu, à exceção, sem dúvida, de Jean-Luc Mélenchon”, disse o historiador da Universidade de Versailles-Saint Quentin Christian Delporte ao jornal. “Mas é preciso dizer que a forma do debate não se prestava muito a isso”.
Uma sondagem realizada pela BFMTV, a televisão onde foi transmitido o debate, dá apoio a esta ideia, mostrando que Mélenchon e o já favorito Macron foram os mais favorecidos pelos telespetadores, com o esquerdista em primeiro. Após quase quatro horas de debate, Mélenchon sai assim o mais convincente, com 25% dos telespetadores sondados a escolhê-lo, contra 21% que escolheram Emmanuel Macron. Fillon vem mais atrás, com 15%, e Le Pen é a última a ficar acima dos 10%. Já nas sondagens mais recentes das intenções de voto, como a realizada diariamente pelo Les Échos (conteúdo em francês/acesso pago), Mélenchon mantém-se em quarto lugar, com 15%, e Le Pen ainda no primeiro lugar.
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O debate também serviu para evidenciar o afundamento cada vez maior do socialista Benoît Hamon, que aproveitou para prometer um milhão de empregos ao longo do mandato de cinco anos. “É preciso voltar as costas às políticas que não funcionaram”, disse o candidato que esteve em Lisboa a estudar o acordo parlamentar das esquerdas, mas que já foi ultrapassado nas sondagens pelo seu vizinho político Jean-Luc Mélenchon, encontrando-se agora em quinto. No entanto, Hamon mostrou-se com pouca energia e acabou apagado no meio de um debate animado em que os candidatos tinham de lutar para se fazerem notar. “Aquele para quem a situação era mais importante, Benoît Hamon, não conseguiu posicionar-se entre a figura do responsável e a do contestatário”, disse ao Le Figaro Stéphane Rozès, do Sciences Po.
Então e o candidato da direita, François Fillon, que bateu Nicolas Sarkozy e o inicialmente preferido Alain Juppé para ser a escolha dos Republicanos? Enfraquecido por escândalos ligados à criação de empregos fictícios para a sua mulher e filhos, Fillon evitou arriscar no debate e optou por desfiar o seu projeto político já conhecido, “com a regularidade de um metrónomo”, escreve o Les Échos, e encostou-se à direita, falando de “vencer o totalitarismo islâmico” e “garantir a nação francesa”.
E os pequenos candidatos? Tentaram manifestar-se principalmente através de ataques aos maiores, com destaque para o trotskista Phillippe Poutou cujas picardias com os favoritos lhe renderam ampla atenção nas redes sociais — assim como a sua decisão de não entrar na “fotografia de família” que mostra os restantes dez candidatos ao Eliseu, a residência oficial do presidente francês.
Le Pen, por sua vez, favorita para a primeira volta das eleições em todas as sondagens mas com derrota quase garantida na segunda volta no princípio de maio, também não se mostrou com particular firmeza neste debate. Marine Le Pen teve “dificuldade em existir”, escreve o Les Échos, foi “a menos convincente”, segundo o diretor do instituto de sondagens Ifop que falou ao Le Figaro, estava “visivelmente insatisfeita por ali estar”, segundo o Le Parisien. Mas quando os candidatos eurocéticos — tanto à direita como à esquerda — enfrentaram os defensores da Europa, aí Le Pen assumiu uma posição dominante. Falta saber como este debate vai influenciar as intenções de voto para a candidata que faria mais mal à economia francesa, de acordo com um estudo da Euler Hermes e da Allianz.
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