Renascer das cinzas. Um fato à distância de um clique

O cliente, em qualquer parte do mundo pode escolher forros, botões, acabamentos, tudo à distância de um clique. Mas a qualidade da mão-de-obra é a alma da Alfaiataria Lusa.

Alfaiataria Lusa. O nome diz tudo: um projeto nacional, assente no mais tradicional dos setores, mas potenciado pela tecnologia.

Francisco Batista pegou numa empresa moribunda, a CBI – Indústria de Vestuário e converteu-a numa unidade rentável focada no negócio da confeção de vestuário feminino e masculino de alta qualidade. Orientada para o segmento médio-alto, a empresa exporta 90% da sua produção para mercados como Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca. “Aproveitei a mão-de-obra especializada, um capital muito importante para recuperar a empresa e fazer dela uma fábrica atual com capacidade e competitividade para operar no mercado normal”, contou ao ECO o administrador da CBI, que emprega cerca de 320 pessoas.

Este foi o primeiro passo. A partir daqui nasceu o novo projeto. “Estamos há dois anos a formar pessoas em alfaiataria que serão transferidas para uma nova unidade, também em Mangualde”, explica. Essa unidade é a Alfaiataria Lusa.

"Estamos há dois anos a formar pessoas em alfaiataria que serão transferidas para uma nova unidade também em Mangualde.”

Francisco Batista

Administrador da CBI

A ideia é fazer fatos por medida, personalizados. O cliente, em qualquer parte do mundo, pode escolher forros, botões, acabamentos, tudo à distância de um clique. A tecnologia desempenha um papel primordial porque permite “ter clientes em qualquer parte do mundo a trabalhar online dentro da fábrica“, afirma Francisco Batista, acrescentando que, “com esta filosofia”, a Alfaiataria Lusa “será talvez a única alfaiataria industrial”.

Instalações da Alfaitaria Lusa.

“Há outras fábricas com uma elevada componente tecnológica, mas a filosofia de produção é diferente. Aqui o produto tem de ter um tratamento diferente, com muito mais pormenor“, diz.

Linha de corte da CBI.

Com um investimento de dois milhões de euros, está a nascer uma nova fábrica com sistema de corte, modelagem, com todas as partes possíveis do processo informatizadas e automatizadas. Mas “a indústria é tradicional e a qualidade da mão-de-obra é fundamental”, frisa Francisco Batista. Neste projeto, o administrador conta com apoios do Portugal 2020 — “um financiamento à taxa zero, durante sete anos, de 70% do valor do investimento”, precisa. Francisco Batista está confiante que parte deste valor poderá vir a ser transformado em apoio a fundo perdido, uma possibilidade que existe para os projetos que cumprem ou superam as metas definidas a aquando da apresentação da candidatura.

Uma vida a recuperar empresas das cinzas

Francisco Batista tem dedicado os últimos 20 anos a recuperar empresas. No portfolio já vão quatro em Portugal e uma em Cabo Verde.

A lógica é sempre a mesma: aproveitar a mão-de-obra especializada, “o capital mais importante para recuperar a empresa”, e depois rever o modelo de negócio para ganhar competitividade e apostar nos mercados externos.

Linha de confeção da CBI.

Além da CBI, Francisco Batista está a tentar recuperar uma fábrica de tecidos, a Fareleiros em Avelar, na Maia. Preocupado em aproveitar todo o know how que existe em termos de mão-de-obra, o administrador sublinha a vantagem do equipamento estar atual o que permite “renovar a atividade para nichos de mercados onde é possível competir através de uma maior qualidade”. “Em grandes quantidades não conseguimos competir”, frisa.

Mas há mais: a Avelmod, que produz sobretudo casacos para homem, emprega 130 pessoas e exporta 98% da sua produção (resulta da reconversão da antiga Pivot), também em Avelar. E mais recentemente a Carlo Viscontti, que está neste momento em processo de reestruturação. “Estamos a reabilitar a fábrica de Arganil da Carlo Viscontti e espero, em setembro, conseguir recuperar 180 postos de trabalho”, disse Francisco Batista. A AMMA, a unidade de confeções criada em 1983, funcionava desde a década de 90 na zona industrial da Relvinha, em Arganil, mas em setembro do ano passado fechou e atirou cerca de 200 pessoas para o desemprego, com vários meses de salários em atraso.

"Estamos a reabilitar a fábrica de Arganil da Carlo Viscontti e espero, em setembro, conseguir recuperar 180 postos de trabalho.”

Francisco Batista

Administrador da CBI

Para trás já ficou a Azuribérica, em Oliveira do Hospital, a empresa que resultou da recuperação da ex-HBC. “A empresa tinha fechado as portas e consegui readmitir os seus 87 trabalhadores”, conta. Ao fim de quase dois anos de paragem, no início de 2011 a empresa recomeçou a laborar com mais de 100 trabalhadores, 87 dos quais da HBC. Com encomendas asseguradas e uma aposta na produção própria, deixando de lado a subcontratação, a empresa floresceu e Francisco Batista acabou por vendê-la a dois colaboradores. “No final vendi a dois colaboradores que criei na empresa, já com 200 postos de trabalho e com a classificação de PME Líder”, conta o empresário que assume sempre uma posição acionista em todas as empresas que recupera.

O objetivo é “reestruturar e dinamizar a empresa e depois vender ou ceder para que outros lhe deem seguimento. É um gozo pessoal que me dá”, confessa.

Francisco Batista garante que todas as empresas geram lucro“em torno de um milhão de euros” — “se não no primeiro, no segundo ano”, porque “a recuperação de mão-de-obra e dos equipamentos permite faturar logo”. A única que ainda não dá lucro é a fábrica de tecidos Fareleiros, porque é um setor diferente daquele que o empresário está habituado a trabalhar (confeção) e que implicou “alguma aprendizagem”. “Não estava tão à vontade porque o investimento foi muito grande e vai necessitar de dois a três anos” para dar a volta.

E Cabo Verde?

Cabo Verde surge na história porque havia uma empresa em Portugal, a Afriber, que subcontratava serviços a uma empresa cabo verdiana, que entrou em insolvência. Francisco Batista comprou essa empresa insolvente e reabilitou-a. A EuroÁfrica reabriu portas em outubro de 2012, cinco meses depois do fecho, com um novo nome AfroPants, e uma nova administração — Francisco Batista e António Nina.

A empresa que era considerada não rentável produz hoje 1500 calças chino por dia e emprega mais de 200 pessoas. A produção da fábrica, na ilha de São Vicente, é quase 100% dedicada à exportação. “Exportamos tudo de Cabo Verde para Portugal e daqui vendemos para os nossos clientes a nível europeu”, explica o administrador.

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