Emigrantes lesados do BES manifestam-se em Paris

  • Lusa
  • 17 Junho 2017

Os emigrantes lesados do antigo BES protestaram este sábado em Paris, França, para assinalar os "1050 dias" daquilo que consideram ter sido um "assalto" a "8.000 famílias emigrantes portuguesas".

Os emigrantes lesados do BES protestaram este sábado em Paris. Foi mais um “dia de luta” para reclamar a devolução das suas poupanças e para marcar “1050 dias” de “assalto” a “8.000 famílias emigrantes portuguesas”, disse à Lusa a organização.

O “dia de luta” contou com uma reunião, de manhã, entre membros da Associação Movimento Emigrantes Lesados (AMELP) e a equipa jurídica numa sala do Santuário de Nossa Senhora de Fátima e uma manifestação entre a sede do Novo Banco, na avenida Georges-Mandel, no 16º bairro, e a Praça do Trocadero.

“É um dia de luta porque faz hoje [sábado] 1050 dias que 8.000 famílias emigrantes portuguesas foram assaltadas dentro de um banco. A palavra se calhar é forte, assaltadas, mas é a realidade. De um dia para o outro, estas pessoas ficaram sem nada, foram roubadas”, afirmou à agência Lusa Helena Batista, vice-presidente da AMELP, sublinhando que tem havido luta, “mas nada” de soluções.

A luta vai continuar e a AMELP convocou uma manifestação para 11 de agosto, em frente à sede do Novo Banco, em Lisboa, e apelou aos emigrantes portugueses para que façam “ações de luta nas agências onde foram enganados”, nas férias de verão.

Na manhã de sábado, na reunião com a equipa jurídica, estiveram presentes 300 pessoas e foi reafirmada a intenção de não aceitar um acordo semelhante ao que foi proposto pelo Novo Banco em 2015, lembrando que deu entrada no parlamento, a 12 de abril, uma petição cujo objetivo é provar que “os produtos vendidos aos emigrantes eram fraudulentos”.

“Se houver a mesma proposta de 2015, está fora de questão que a gente assine. Pelo contrário, apelamos a todas as pessoas para que, mesmo cansadas, mesmo desgastadas com o tempo e com os processos, não assinem nada”, indicou Helena Batista.

É um dia de luta porque faz hoje [sábado] 1050 dias que 8.000 famílias emigrantes portuguesas foram assaltadas dentro de um banco.

Helena Batista

Vice-presidente da AMELP

Tendo como pano de fundo a Torre Eiffel, os emigrantes lesados entoaram os ‘slogans’ já usados nos protestos dos últimos meses na Praça da Ópera, na Praça do Trocadero, na Embaixada de Portugal e na sede do Novo Banco em Paris: “Lesados na rua, a luta continua” e “Banquiers portugais, voleurs des immigrés” (“Banqueiros portugueses, ladrões dos emigrantes”).

Maria da Costa, com 82 anos, tem sido uma presença assídua nas manifestações e ainda tem esperança de recuperar os 373.000 euros que tinha no ex-Bes/Novo Banco. “A esperança é a última a morrer, mas tenho um bocado de fé que este governo talvez resolva o problema porque, se o não fizer, é uma vergonha (…). [Vou manifestar-me] até ter força – a força já não é muita e até não piorar por completo, porque bem piorada já a gente está”, disse a manifestante.

Amélia Reis é outro dos rostos habituais dos protestos dos emigrantes lesados do BES e, apesar de “cansada”, explicou que a “injustiça” lhe dá “forças interiores” para continuar a lutar. “Estou aqui para ver se é feita justiça em Portugal para os emigrantes. Ora bem, as manifestações, não as contei, mas vim a todas e continuarei a vir a todas, porque acho que enquanto o problema não for resolvido temos de continuar. A força temo-la. Eu tenho força e eu continuo sempre até que o problema seja resolvido”, disse a emigrante de 59 anos.

De muleta e a caminhar devagar, um dia depois de ter saído do hospital, João Heitor, de 65 anos e “43 de França”, decidiu participar no protesto em solidariedade, não por ser lesado do BES, mas por ser “lesado como emigrante”. “Com estes meus irmãos, sinto-me lesado e ao ver as pessoas aqui com rugas, com falta de meios, pobreza, sinto-me lesado moralmente. Sou um emigrante lesado. É por isso que aqui, mesmo doente, com lágrimas nos olhos, peço solidariedade a toda a comunidade emigrante”, declarou o antigo livreiro.

Mais uma vez, o núcleo em França do Bloco de Esquerda (BE) voltou a estar presente em solidariedade com uma “luta legítima”, afirmou Cristina Semblano, dirigente bloquista em França, falando em “assalto vergonhoso aos emigrantes, pessoas humildes que trabalharam toda uma vida”. “Não é normal que eles estejam a ser enganados desta forma. Nós sabemos que há três soluções possíveis: uma delas seria um acordo com o Novo Banco, mas é necessário que o Novo Banco esteja de acordo; a segunda seria ações judiciais, mas nós temos de esperar as sentenças; e a terceira é uma solução política, e essa solução está nas mãos do governo português”, afirmou.

Entre os manifestantes esteve também Hermano Sanches Ruivo, vereador da Câmara de Paris, que apontou responsabilidades a Portugal e a França, apelando à solidariedade dos eleitos franceses de origem portuguesa para apoiar os emigrantes lesados do BES.

“A partir de um momento em que um estabelecimento bancário tem uma sede e uma atividade em França, todos os produtos e serviços que são por eles propostos, seja em França ou seja num outro país, têm que ter o aval e a validação. É importante o controlo das estruturas francesas, Banque de France, Comissão dos Valores”, afirmou, sublinhando que é “Portugal que tem a grande responsabilidade”.

O Novo Banco propôs, em 2015, uma solução comercial aos emigrantes com os produtos Poupança Plus, Euro Aforro e Top Renda, que teve a aceitação de cerca de 6.000 (80% do total) que detinham em conjunto 500 milhões de euros.

No entanto, houve clientes que não aceitaram a solução, por considerarem que não se adequava ao seu perfil e não era justa, incorporando obrigações do Novo Banco que têm o seu vencimento apenas daqui a 30 anos e sem cupão anual, e o Novo Banco não fez qualquer proposta a outros milhares de clientes, argumentando que não era possível, devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos.

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