Pedrógão Grande: Aldeia de xisto decide arrancar eucaliptos e plantar árvores mais resistentes
A assembleia de moradores da aldeia de Ferraria de São João, uma aldeia no concelho de Penela, decidiu por unanimidade arrancar eucaliptos para criar um perímetro de proteção de pelo menos 100 metros.
Os moradores da aldeia de xisto de Ferraria de São João, no concelho de Penela, decidiram, em assembleia, avançar com uma zona de proteção da povoação, arrancando eucaliptos e plantando árvores mais resistentes aos fogos.
A moção da assembleia de moradores foi aprovada por unanimidade no domingo e prevê a criação de uma zona de proteção de pelo menos 100 metros à volta da Ferraria de São João, aldeia com cerca de 40 habitantes que já fica no distrito de Coimbra, mas que acabou cercada pelo incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande e que provocou 64 mortos, contou à agência Lusa o presidente da associação de moradores, Pedro Pedrosa.
A zona de proteção terá “no mínimo 100 metros, à volta dos aglomerados”, mas os moradores mostram-se “ambiciosos” em alcançarem uma zona de 500 metros na envolvente da aldeia, em que serão replantadas “folhosas, como sobreiros ou carvalhos”, podendo também avançar-se com a plantação de “medronheiros ou azevinho”, contou.
O primeiro passo passa pelo cadastro dos terrenos circundantes, sendo que é necessário “identificar as parcelas” na zona ao redor de Ferraria de São João, mas o presidente da associação sublinha que “ainda em julho” gostaria de começar a cortar e a arrancar os eucaliptos.
"A origem deste projeto veio no rescaldo do incêndio.”
“A origem deste projeto veio no rescaldo do incêndio”, conta Pedro Pedrosa, que vive há oito anos na aldeia e que há três explora uma unidade de turismo rural com capacidade para 12 pessoas. Após ver tudo a arder à volta da aldeia, o morador decidiu que era preciso “fazer alguma coisa” e os habitantes acabaram por se juntar no domingo para aprovar uma zona mínima de proteção, para garantir “alguma segurança e, também, para valorizar a aldeia”.
À volta de Ferraria de São João, o pouco verde que se vê vem das folhas dos sobreiros. “Foi a demonstração a quem não queria acreditar. Provou a todas as pessoas que não acreditavam”, realçou. Segundo Pedro Pedrosa, há também uma preocupação para que as pessoas “não percam rendimento”, querendo replantar árvores de onde as pessoas também possam retirar algum proveito económico.
José Gonçalves, de 48 anos, mora há 25 na Ferraria de São João e, por ele, “o eucalipto devia ser proibido de plantar. O sobreiral foi o que nos valeu”. Para além de uns currais que arderam, as casas ficaram intactas.
A maioria dos terrenos com eucaliptos são de pessoas da terra, notou, ao que outra moradora disse que alguns dos habitantes “só não punham eucaliptos dentro da casa porque não conseguiam”.
Agora, José Gonçalves acredita que pode ser um momento de viragem, em que se aposte também na pastorícia para limpar os matos e noutro tipo de árvores para acabar com a paisagem monótona do eucalipto nos montes à volta da Ferraria de São João.
“Os pinheiros deram em secar e quem tinha terras de amanho, onde se semeava milho, centeio, batatas, começaram a desistir. Isto aqui era tudo terras amanhadas”, conta Benilde Mendes, de 66 anos, moradora da aldeia, contando que onde havia terras de cultivo passou a haver eucaliptos.
A habitante da Ferraria de São João tem terrenos com eucaliptos, de onde retirava “algum” dinheiro, mas aprovou a moção “pela segurança das pessoas e por tudo”. No domingo, a associação vai continuar o trabalho de identificação dos terrenos à volta da aldeia.
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