Inovação, até no turismo

  • Filipe S. Fernandes
  • 9 Agosto 2017

Universidade do Algarve tem papel fundamental no que toca a aproximar a investigação da vida real. E, apesar do défice tecnológico, já começaram a nascer ideias disruptivas na região sul do país.

Em 2013, Ignacio Correia, ligado às tecnologias de informação, estava na praia com o irmão quando lhe apeteceu uma bola de Berlim. Só que não viu nenhum vendedor à vista. Este ano, através da Algardata, empresa de software algarvia da qual é um dos administradores, nasceu a Bolinhas que foi lançada a 1 de julho.

Em Portugal, a aplicação já tem cobertura em praticamente todo o país e o informático pretende ainda expandir o projeto este ano para a Argentina e o Brasil. “Se conseguirmos 25 mil ‘downloads’ até ao final do ano e 5.000 vendedores em todo o mundo, para o ano teremos boas perspetivas”, disse à Lusa, Ignacio Correia, sublinhando que neste Verão, a aplicação vai manter-se gratuita.

Este é só um exemplo de um dos desafios da região: criar uma maior cultura de inovação, uma vez que se considera que o turismo era tradicionalmente um obstáculo à inovação, pois o setor não estava conotado com uma perspetiva de inovação tecnológica. A economia da região apresenta um perfil altamente dependente de setores de baixa intensidade tecnológica e uma alta concentração do emprego nos serviços (77,5%), sendo a restante população empregada no setor primário (8,1%) e na indústria (14,4%). E ainda que o próprio negócio global esteja a mudar com o impacto das plataformas tecnológicas, há vários obstáculos.

Recentemente a Uber lançou um projeto-piloto no Algarve atraído pelo número e turistas que estão a invadir Portugal — cerca de 21 milhões em 2017 –, e no Algarve. Por isso, como referiu Rui Bento, CEO da Uber Portugal, a aplicação permite sugestões e recomendações dos utilizadores que requisitarem o serviço de transporte no sul do país sobre praias, restaurantes e outras sugestões.

Numa análise recente feita pela Comunidade Intermunicipal do Algarve, referia-se como principais falhas para a inovação na economia do Algarve “a limitada cultura empreendedora, especialmente de conhecimentos ba­seados nas empresas”.

“As empresas locais têm capacidade limitada para absorver e beneficiar da investigação e a população residente carece de competências avançadas”. O segundo obstáculo está relacionado com a falta de infraestruturas tecnológicas de pro­moção da inovação e articulação de agentes públicos e privados em C&T. Isso impede a existência de vários tipos de agentes da inovação que devem preencher um sistema regional de inovação dinâmico, como agências de inova­ção, animadores de cluster, serviços de incubação, entre outros. Aqui, o papel da Universidade é particularmente importante, mas muitas vezes difícil de coordenar. A limi­tada atratividade fora das fronteiras nacionais exige uma estratégia regional de investigação clara para a universi­dade e a identificação de áreas de interesse comum, para que esta não esteja tão dependente do financiamento do orçamento geral da Universidade”.

A terceira limitação é a falta de conexão interna entre os atores e a falta de cooperação entre as empresas e as ligações limitadas entre os produtores de conhecimento, nomeadamente a Universidade do Algarve e as empresas, em especial as do turismo, o principal setor de especialização da região. Externamente, os diferentes tipos de atores estão relativamente bem conectados e têm ligações e redes internacionais relevantes.

O papel da Universidade

Esta instituição de ensino superior pode ter um papel chave no sistema de inovação da região. As suas apostas científicas têm tido o mar como orientação, com a biolo­gia Marinha e de água doce, pesca, ciências ambientais, bioquímica e biologia molecular, oceanografia, ecologia, ciências das plantas, geociências, química, engenharia elétrica e eletrónica, e zoologia. Mas também áreas como as ciências da saúde, a gestão e a economia estão no centro da sua atividade.

Um dos passos importantes, em que se liga as questões da saúde na região com a inovação e o investimento nas ciências da saúde, deu passo importante recentemente. A 20 de julho passado, foi criado o Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), que vai agregar não só os hospitais da região, como o Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul (CMR Sul) e um centro de investigação e de ligação à Universidade do Algarve, “de modo a intensificar a integração das atividades de ensino superior, investigação e transmissão do conhecimento científico na prestação de cuidados de saúde e, assim, aumentar a qualidade destes cuidados e contribuir para a fixação de profissionais qualificados na região”.

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