Passos debaixo de fogo dos críticos com desaire autárquico

A antiga ministra das Finanças considera que Passos Coelho não tem condições para ser líder do PSD. Marques Mendes admite que Passos possa atirar a toalha ao chão.

Manuela Ferreira Leite deu o mote. As vozes críticas não tardaram em juntar-se. Os resultados do PSD nas duas principais cidades do país alimentaram inúmeros apelos à demissão de Pedro Passos Coelho da liderança do partido.

Os resultados do PSD são “demasiadamente maus” nestas eleições autárquicas, disse Manuela Ferreira Leite no seu comentário na TVI. Para a antiga ministra das Finanças, que se declarou “atónita, chocada”, os resultados provisórios deixaram-na “abalada” enquanto uma pessoa que “gosta do partido”.

Manuela Ferreira Leite, questionada diretamente sobre se Pedro Passos Coelho tinha condições para permanecer na liderança do partido, afirmou: “Não, não tem”. Para a comentadora, os candidatos individuais em Lisboa e Porto não devem ser “culpabilizados”. As primeiras projeções que colocavam Teresa Leal Coelho atrás de Assunção Cristas e empatada com João Ferreira do PCP, em Lisboa. E no Porto, Álvaro Almeida, de acordo com as projeções da RTP, deverá ter oito a 10% dos votos.

A ministra das Finanças não se ficou por aí. “A candidata por Lisboa apareceu tardiamente, porque as estruturas que tinham de fazer a escolha não se entenderam e, ao aparecer tardiamente e como foi escolha do presidente do partido, é evidente que o presidente do partido também foi a eleição”, disse a antiga ministra das Finanças. Manuela Ferreira Leite adiantou que “muitas pessoas não queriam votar no Pedro Passos Coelho e não votaram, por isso, no PSD”.

“Pedro Passos Coelho passou por uma fase difícil no Governo. (…) Não é fácil ser primeiro-ministro numa situação de resgate. Paulo Portas desapareceu inteligentemente, nunca mais ninguém o viu. A oposição feita ao PS apareceu simplesmente com a cara do Pedro Passos Coelho”, afirmou.

Confrontado com as declarações de Ferreira Leite, Carlos Carreiras, coordenador autárquico do PSD, limitou-se a dizer que não comentava, pois “teria de fazer recordações sobre o passado, e nós [PSD] estamos a pensar no futuro”.

Por sua vez, Poiares Maduro defendeu Pedro Passos Coelho no seu comentário na RTP. O ex-ministro no Governo que o atual líder do PSD encabeçou afirmou que “Pedro Passos Coelho já foi morto politicamente tantas vezes e sobreviveu sempre”, e também que isso era demonstrativo da sua “capacidade de resistir e a sua capacidade de surpreender”. Também Teresa Leal Coelho saiu em defesa do líder, sublinhando que os resultados em Lisboa são da “exclusiva responsabilidade da equipa que apresentou o programa”

Mas Ferreira Leite não está só a pedir a cabeça de Passos Coelho. Mauro Xavier, o ex-presidente da concelhia social-democrata, também não poupou o líder. “A opção de Pedro Passos Coelho na escolha do candidato do PSD a Lisboa teve uma resposta clara do eleitorado. Demiti-me por não concordar com esta opção. Cabe-me pedir agora responsabilidades ao presidente do partido. Espero que o PSD não faça o mesmo que o Governo fez com o caso de Tancos e alguém assuma a responsabilidade política”, escreveu na sua página de Facebook.

Marques Mendes abriu a porta à possibilidade de Passos se afastar porque a sua vida “vai ser um inferno” se não o fizer. “Não me surpreenderia muito que Passos Coelho tomasse hoje ou na próxima terça-feira a decisão de dizer que sai, que se afasta, que não se candidata novamente à liderança do partido”, disse o comentador na Sic, acrescentando que normalmente não pede a demissão de um líder perante um mau resultado nas urnas. E explicou a sua posição com a “má escolha de candidatos”, a campanha demasiado centrada nas questões nacionais e ainda a fraca oposição que o líder tem feito a António Costa.

Falar de temas nacionais foi uma opção errada porque estes “são uma vantagem para o PS” e não para o PSD. “António Costa lançou essa pista e Passos Coelho foi sempre atrás dela”, o que não foi uma escolha certa, sublinhou Marques Mendes. Além disso, criticou a opção de Álvaro Almeida para a Câmara do Porto dada a “falta de qualidades para uma candidatura desta natureza”. Já em Lisboa, as projeções colocam Assunção Cristas à frente de Teresa Leal Coelho, algo que, lembrou não acontecia desde 1976 quando o CDS ficou à frente do PSD na capital. Os maus resultados do PSD, nas duas principais cidades eram “desastres já anunciados”, frisou.

António Costa Pinto considera que a liderança de Passos não está ameaça “por estas vozes”, porque são figuras que derrotou, já não são candidatou e que não têm lugar de destaque dentro do PSD. O professor em ciência política explicou ao ECO que “a reação aos resultados eleitorais depende muito da estratégia do líder”. “Pode decidir demitir-se e provocar eleições antecipadas, para forçar os rivais a aparecer, ou levar a cabo alguma tentativa de relegitimação do líder, perante alguns destes resultados”.

O politólogo considera que a posição de Pedro Passos Coelho “não é simples”, mas recorda o estudo feito antes das eleições, junto do eleitorado do PSD, que na sua maioria defendeu que o líder se deve manter em funções mesmo que se repitam os resultados autárquicos de 2013, quando o PSD teve o pior resultado de sempre. O mesmo estudo feito junto do eleitorado, e não dos militantes, revelava que 45% defendia a demissão de Passos. “Isto significa que Passos tem margem de manobra”, conclui.

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