A seca que já alastrou aos bolsos dos portugueses

Para além dos impactos ambientais e humanos, a seca também pesa nas contas do Estado, empresas e produtores pecuários e agrícolas.

No último mês de outubro, a seca alastrou a todo o território nacional, com mais de 70% do país a atingir a situação de seca extrema. Dezenas de camiões-cisterna levam água aos concelhos mais afetados todos os dias – um trajeto sem fim à vista e que é apenas uma parte dos custos deixados pela seca.

Há 87 anos que Portugal não via um outubro tão quente. A seca extrema chegou a 75% do país, enquanto o restante território foi considerado em condições de seca severa, transmitiu o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Os primeiros impactos na economia portuguesa já se fazem sentir.

Impactos da seca na economia

A média é de 30 camiões por dia a fazerem o transporte ininterruptamente” afirma fonte oficial das Águas de Viseu, ao ECO. Estes camiões já distribuíram cerca de 64 milhões de litros de água que custaram 346.000 euros ao concelho. Contudo, também Mangualde, Nelas e Penalva do Castelo se destacam entre os mais afetados, e o Estado limitou para já o apoio ao conjunto das autarquias a 250.000 euros. À Lusa, o presidente da Câmara de Viseu disse que à sua autarquia caberão 175.000 euros dos 250.000 da ajuda.

O Ministério do Ambiente confirma ao ECO que “a operação não tem uma data de terminus”. Por esta razão, as contas ainda não estão fechadas.

Mas a situação de seca não é de agora, e as medidas para a combater também não. O Ministério da Agricultura concede apoios desde julho do ano passado. Abriram “diversos concursos” para investimentos em “captação, distribuição e armazenamento de água nas explorações agrícolas”, medida que já custou 14 milhões de euros à tutela, diz o ministério ao ECO.

Mais recentemente, para os produtores pecuários, cinco transformou-se no número da sorte. Dada a “disponibilidade de alimentação para o gado muito reduzida” foi criada uma linha de crédito garantida no valor de cinco milhões de euros e distribuídas cinco mil toneladas de ração – não só na sequência da seca, mas também da calamidade dos incêndios, assinala ainda o ministério.

Outro dos apoios foi a redução do preço da água do Alqueva. O objetivo, explicado pelo ministro Luís Capoulas Santos em comunicado, é “o aumento do rendimento dos agricultores reduzindo os custos de um dos mais importantes fatores de produção, a água”. A água de alta pressão ficou 20% mais barata e a de baixa pressão reduziu o preço em 33%.

Estas ajudas não chegam e, portanto, Bruxelas aprovou que 70% dos apoios comunitários dirigidos à agricultura, que só deveriam chegar em janeiro, fossem concedidos logo em outubro. Colheram-se 540 milhões de euros em avanço, os quais cada agricultor poderá aplicar onde considerar mais relevante.

Para o próximo ano, o Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, anunciou que será lançado um aviso no valor de 50 milhões de euros para “reduzir perdas de água” através de uma revisão das condutas.

As barragens perdem força, a energia milhões

Quando há pouca água para as necessidades básicas da população, a produção de energia hídrica é a primeira a afundar. Nos primeiros nove meses de 2017, a EDP registou uma quebra de 59% em relação a 2016 nesta produção.

A água foi substituída por fontes térmicas como o carvão, cuja utilização na EDP ascendeu 34%, e pelo gás natural, que disparou 103%. O mix de produção ficou mais caro e pesou nas margens brutas do negócio da eletricidade a nível ibérico. Estas caíram 27%, de 1.335 mil milhões para os 973 milhões de euros até setembro deste ano, em comparação homóloga.

O aumento dos custos de produção fez-se notar, sobretudo, ao nível do preço grossista, ou seja, a venda de eletricidade entre os produtores – este subiu 49%. A fatura aos clientes para já não sofre o impacto da seca, garantiu o gestor da EDP, António Mexia. “O preço português é o preço espanhol. Portugal é price taker. Não muda o preço ibérico”, justificou recentemente na Conferência Anual do BCSD 2017.

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