Bastonário: “Há advogados que ganham 500 euros por mês”

  • ADVOCATUS
  • 22 Fevereiro 2018

O bastonário da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, esteve na audição parlamentar para discutir a precariedade na advocacia. Conferência organizada pelo BE, no Parlamento, em Lisboa.

O bastonário da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, esteve hoje presente na audição parlamentar sobre “Precariedade no exercício da Advocacia”, organizado pelo Bloco de Esquerda, que decorreu no Parlamento, em Lisboa.

A audição pública contou ainda com a presença de José João Abrantes, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, José Manuel Pureza e José Soeiro, deputados do Bloco, e Vasco Barata, jurista.

"A advocacia portuguesa debate-se com problemas a que urge dar resposta. A precariedade de milhares de advogados e a dificuldade de acederem a um sistema contributivo justo tornam necessário um debate público abrangente para que se alcancem soluções que tragam dignidade laboral a este setor.”

Mote da audição pública sobre a Precariedade no exercício da Advocacia

No mote da audição pode ler-se que “a advocacia portuguesa se debate com problemas a que urge dar resposta”. “A precariedade de milhares de advogados e a dificuldade de acederem a um sistema contributivo justo tornam necessário um debate público abrangente para que se alcancem soluções que tragam dignidade laboral a este setor”. José Manuel Pureza abriu a auditoria e esclareceu que o BE está empenhado em combater esta precarização, explicando que a importância desta questão ultrapassa já o segmento profissional dos advogados, chegando também à sociedade portuguesa, “que desperta agora para esta realidade que se tem revelado cada vez mais.”

"A deficiência dos direitos sociais na profissão é uma realidade, o que desmente a imagem no terreno social de que os advogados e advogadas mal entram na profissão já são pessoas abastadas.”

José Manuel Pureza

Deputado do Bloco de Esquerda

Salientou ainda que a deficiência dos direitos sociais na profissão é uma realidade, “desmentindo a imagem no terreno social de que os advogados e advogadas mal entram na profissão já são pessoas abastadas”, frisou.

Já o bastonário reforçou a urgência do debate, realçando contudo que esta é uma realidade extensível a todas as profissões, dado que “a precariedade passou a ser quase o maior elemento no ponto de vista de contratação em Portugal”. “É essa a realidade aos jovens advogados e aos advogados acima dos 45 anos que têm contratos de trabalho a termo certo”, esclareceu.

Apontou também que é preciso sair do “olhar lisboeta, muito centralizado”, das “médias e grandes sociedades”, pois “a realidade do país é diferente”.

No fim frisou que é preciso haver consensos entre os profissionais e realça que é preciso arranjar formas de atuar, de fazer um inquérito bem definido do que é hoje a advocacia: “temos a necessidade de analisar o problema de acesso à profissão, o problema do número de advogados, questões como a de advogados por conta própria, por exemplo, que recebem 500 euros por mês”, conta.

Já o jurista Vasco Barata considera que já há muito que a precariedade é um tema na advocacia, mas levanta a questão: “Porque só agora estamos a ter esta discussão?”

"Cheguei a trabalhar 9 horas numa sociedade em Lisboa e a levar 600 euros para casa. É digno para um advogado estar a ganhar 3 euros à hora?”

Vasco Barata

Jurista

O jurista esclareceu que esta realidade se tornou insustentável no seio da advocacia, que “obrigou os advogados a sair da sua zona de conforto” e a falar. No entanto, conta que “foram feitos vários contactos que recusaram vir falar à auditoria porque pertencem a esta ou outra sociedade e não podem estar a falar de precariedade.”

Em resposta ao bastonário, o jurista disse que muitos advogados vêm para Lisboa porque não têm outra opção, dizendo que chegou a trabalhar numa sociedade nove horas por dia, a ganhar três euros à hora. “Será digno para um advogado?”, deixou a pergunta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Bastonário: “Há advogados que ganham 500 euros por mês”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião