Para os investidores, Portugal deveria ter rating seis níveis acima do atual

Investidores relaxados ou agências financeiras cautelosas? Os juros de Portugal nos mercados estão longe de refletir-se no rating da dívida pública. Porquê?

A avaliar pela taxa de juro que os investidores exigem para comprar dívida portuguesa, o rating de Portugal deveria estar seis níveis acima da classificação de risco que goza atualmente junto das principais agências de notação financeira do mundo.

Esta conclusão surge num dos slides da apresentação do IGCP junto dos investidores internacionais: a yield associada às obrigações a dez anos está atualmente a negociar abaixo dos 2% nos mercados secundários e este nível deveria (na teoria) corresponder a uma classificação de risco de ‘AA-‘, um rating que deixaria Portugal bem destacado num patamar de investimento de qualidade.

Mas esse está longe de ser o cenário face à avaliação que mercados e as agências Standard & Poor’s e Fitch fazem do risco do país: a diferença é de seis níveis. Para a Moody’s, que esta sexta-feira revê o rating de Portugal, a divergência é ainda mais gritante: é a única agência entre as Big Three que mantém o país num nível considerado “lixo”, atribuindo ao país um rating de ‘Ba1’, sete degraus abaixo da avaliação que faz o mercado.

Analisando o gráfico de outra forma: Portugal poderia estar a pagar juros de 8% caso os mercados seguissem à risca aquilo que é a avaliação das agências de rating. E isto também está longe de corresponder à verdade: a taxa implícita nas obrigações portuguesas a dez anos transacionava esta quarta-feira abaixo dos 1,6%, estando em mínimos de três anos.

Posto isto, estarão os investidores a negligenciar o risco ou serão as agências de rating muito cautelosas na abordagem a Portugal?

“Devemos olhar para o rating mais como uma ferramenta para estabelecermos rankings do que como um indicador do nível de juros”, explica Jean Christophe Machado, analista do Natixis, contextualizando a disparidade entre mercados versus agências com o cenário de juros baixos e elevada liquidez. “Não pensamos que os investidores estejam demasiado relaxados, mas eles têm alguns constrangimentos: têm de investir e tem dinheiro para investir. E num cenário macroeconómico positivo…”, contextualiza.

“Vistas as coisas, poderíamos ter a mesma conclusão para a dívida grega e italianas“, diz.

Expectativas moderadas

A Moody’s revê o rating de Portugal esta sexta-feira, tal como a DBRS. A agência canadiana que segurou os soberanos portugueses com grau de investimento mesmo durante a crise, permitindo que a dívida portuguesa continuasse a ser elegível para o programa de compras do Banco Central Europeu, já admitiu melhorar o rating do país na avaliação no final desta semana.

A economista da DBRS, Adriana Alvarado, disse à Lusa, em novembro de 2017, que ia “analisar na próxima avaliação” (20 de março) a Portugal uma eventual melhoria do rating “se os desenvolvimentos favoráveis continuarem”. Na avaliação feita no final do ano passado, a DBRS reafirmou a notação de ‘BBB’ (baixo), com uma perspetiva estável.

Já as expectativas quanto à Moody’s são moderadamente positivas. “Pensamos que a Moody’s deverá melhorar a classificação de Portugal numa nota, para se alinhar com o rating da Standard & Poor’s. A Fitch está uma nota acima da S&P e seria uma surpresa se a Moody’s subisse o rating em dois níveis”, diz Machado.

“A Moody’s é hoje em dia mais uma agência que segue as tendências do que uma agência que estabelece tendências. E os investidores tem uma visão positiva acerca da economia portuguesa”, assume o analista.

Na passada sexta-feira, Cristina Casalinho, a gestora da dívida pública portuguesa, deixou a sua opinião em relação àquilo que poderá ser a decisão da Moody’s: “Considerando os fatores de risco enunciados pela Moody’s, constata-se que Portugal tem apresentado uma evolução mais favorável que as previsões iniciais da agência de rating“, sublinhou em declarações ao ECO.

Lembrou, ainda assim, que, “no seu último relatório, a Moody’s indicou um intervalo de 12 a 18 meses, mas com maior probabilidade 12 meses, para decidir sobre o rating de Portugal”. É um moderado otimismo, portanto.

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