Falta de acordo entre Londres e Bruxelas é “provinciana e absurda”, diz Durão Barroso
Durão Barroso diz que, "olhando de Washington, Pequim ou Moscovo, é bastante provinciano e absurdo que entre europeus, incluindo o Reino Unido, não consigam entender-se".
O ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso alertou que a falta de entendimento entre o Reino Unido e a União Europeia sobre o Brexit é considerada “provinciana e absurda” pelos EUA, China ou Rússia, mas manifestou-se confiante num acordo.
“Quando se olha a partir de Londres ou Bruxelas, parece muito difícil ou dramático, mas olhando de Washington, Pequim ou Moscovo, é bastante provinciano e absurdo que entre europeus, incluindo o Reino Unido, não consigam entender-se sobre isto”, afirmou Durão Barroso à rádio BBC 4.
O Reino Unido tem previsto deixar a UE em 29 de março de 2019, mas está a negociar com Bruxelas um acordo sobre os termos de divórcio que permita uma transição suave e ordenada para um novo relacionamento através de um período de transição até ao final de 2020.
Porém, um impasse numa solução para a fronteira terrestre entre a região britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, Estado membro da UE, aumentou o receio de um Brexit sem acordo, o que criaria confusão nos portos e instabilidade económica.
Barroso afirmou esta segunda-feira que o que está em causa é demasiado importante, pois “não haverá país mais importante para a UE do que o Reino Unido, enquanto país terceiro e não haverá relação mais importante para o Reino Unido do que a que terá com a UE”.
O atual assessor do banco norte-americano Goldman Sachs reconheceu que o principal problema é a falta de maioria no parlamento para um acordo devido à divisão dentro do partido Conservador sobre os termos do acordo de saída e também sobre o modelo do futuro relacionamento.
“Mais difícil do que a negociação entre o Governo britânico e a UE é a negociação dentro do Governo e do partido Conservador. Espero que exista suficiente consenso no Reino Unido para alcançar a um acordo”, declarou.
Pelo lado de Bruxelas, Barroso está convicto de que, no final, haverá vontade para um compromisso porque “é assim que a UE funciona”, mas reconheceu que o processo de decisão no bloco não é fácil.
“É muito difícil tomar decisões entre 27 ou 28 países, mas ainda é mais difícil mudar uma posição depois de estar tomada. No final, haverá algum tipo de compromisso”, garantiu.
O antigo primeiro-ministro português reiterou a importância de “mitigar os efeitos negativos para ambos os lados” do Brexit, ao mesmo tempo que tentou desdramatizar a questão de, a cinco meses da data oficial da saída, o acordo ainda não estar concluído.
Além de ter chefiado a Comissão Europeia entre 2004 e 2014, Barroso foi ministro dos Negócios Estrangeiros e recordou, a propósito das negociações europeias, a expressão “parar o relógio” usada em Bruxelas para ganhar tempo. “Penso que não será o fim do mundo se precisarmos de mais tempo ou de uma maior transição para implementação”, vincou.
Na mesma entrevista, o antigo político português admitiu estar preocupado com a atual perspetiva de guerra comercial entre grandes países, o que considera que será prejudicial para a economia global. “Está em risco o desmantelamento da ordem de comércio internacional. Pode parecer atrativo fazer acordos bilaterais, mas aqueles empenhados em economias abertas precisam desta ordem global baseada em regras que são previsíveis e multilaterais”, defendeu.
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