Bons parceiros e ‘timing’ são a chave para o sucesso na bolsa
Líderes empresariais apontam para obstáculos de operações em mercado. A Euronext considera que a banca ainda não sabe aproveitar oportunidades de negócio apesar do reforço da regulação.
A escolha do momento, os parceiros certos e a simplicidade das operações são os segredos para o sucesso em bolsa. Na conferência Via Bolsa, organizada esta segunda-feira em Lisboa pela Euronext Lisbon, os CEO da Raize, da Flexdeal e da Vista Alegre apontaram para os vários obstáculos que enfrentaram. Do lado dos intermediários financeiros, ainda há dificuldades em gerir o reforço da regulamentação.
“O contexto atual é muito diferente de há uns anos quando tivemos mais operações e colocações maiores, que tiveram capacidade de captar poupança dos investidores”, afirmou Filipa Franco, head of listing da Euronext Lisbon, num painel sobre financiamento da economia real, moderado pelo publisher do ECO, António Costa.
A regulação sobre os intermediários financeiros é maior, o que Filipa Franco vê como positivo, mas aponta para a forma como os bancos encaram a oportunidade de mercado de uma colocação. “Pode haver um período de ajustamento para os bancos internalizarem a capacidade de fazerem colocações e cumprirem os requisitos”, disse a head of listing.
A escolha dos parceiros foi um dos obstáculos apontados pelas empresas nas operações em bolsa. José Maria Rego, CEO da Raize, conta que — no ano passado, antes da entrada em bolsa — o questionavam sobre a decisão. “Diziam-nos que devíamos estar a levantar financiamento com venture capital e que devíamos era investir em marketing tradicional”, afirmou.
O “receio” que considera existir nos vários players foi o principal desafio que a fintech enfrentou. “O maior obstáculo que atravessámos foi conseguir reunir um conjunto de parceiros que estivessem dispostos a fazer a operação”, explicou José Maria Rego. “O pensamento de que o mercado de capitais é só para as grandes limita muito o universo de empresas em que podemos atuar. Temos um mercado muito pequeno e se, em cima disso, temos esse preconceito, é muito difícil”.
No caso da Flexdeal, à pequena dimensão acrescentou ainda o facto de ser a primeira da sua espécie. A empresa liderada por Alberto Amaral foi a primeira Sociedade de Investimento para o Fomento da Economia (SIMFE) a ser cotada na bolsa de Lisboa (depois de uma admissão a 24 de dezembro).
“Não foi diferente, mas houve maior intensidade no processo porque era tanto um instrumento novo como uma empresa pequena”, contou o CEO da Flexdeal. Os custos expressivos de uma oferta pública inicial foram também um entrave para a Flexdeal, que acabou por optar com uma colocação privada, menos dispendiosa.
Se todos admitem dificuldades, para a Vista Alegre estas foram demasiado pesadas e a empresa acabou por ter de cancelar uma operação de aumento de capital no final do ano passado. “Uma das grandes lições a tirar é a importância do momento em que se lança a operação. Não dominamos o mercado e é preciso ter sorte”, sublinhou Nuno Marques, acrescentando que os investidores de retalho são particularmente suscetíveis à volatilidade nas bolsas.
O chairman da empresa garantiu ainda que a Vista Alegre voltará a tentar um novo aumento de capital, nos mesmos ou noutros moldes. “Faz parte da estratégia futura. Estamos muito confrontados neste momento no plano de expansão. Estamos a pensar separar em duas fases: refinanciar a dívida que existe e depois preparar uma oferta que poderá ser semelhante à que foi efetuada no início de dezembro ou só com institucionais”, acrescentou.
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