Web Summit na FIL? “Não há confirmação formal”, diz a Fundação AIP

Faltam seis meses para mais uma edição da Web Summit, mas a localização ainda não está fechada. A Fundação AIP continua à espera de uma "confirmação formal".

Já começou a contagem decrescente para a Web Summit (WS). Depois de três edições bem-sucedidas, Lisboa fechou um acordo para mais dez [até 2028], com o compromisso de aumentar o espaço de forma a permitir o crescimento do evento destinado às startups e à tecnologia. A Feira Internacional de Lisboa (FIL) está a avançar nesse sentido, prometendo mais área de exposição já este ano, mas não há ainda certeza se será palco para a conferência deste ano. Apesar de aparecer nos mapas rumo ao WS, a Fundação AIP não tem qualquer garantia que acontecerá na FIL.

“Não temos ainda qualquer confirmação formal que a próxima Web Summit se realizará na FIL”, afirma Carlos Brazão, vice-presidente da Fundação AIP, ao ECO. “Em anos anteriores a confirmação do espaço foi normalmente feita em finais do ano anterior ou princípio do ano do evento”, explica, mas desta vez isso ainda não aconteceu, apesar das tentativas de contacto por parte da dona do espaço, um dos que tem feito parte do evento, juntamente com a Altice Arena.

"Não temos ainda qualquer confirmação formal que a próxima Web Summit se realizará na FIL (…) Em fevereiro último contactámos os organizadores, mas aguardamos ainda a formalização contratual para a FIL da edição da Web Summit do corrente ano de 2019.”

Carlos Brazão

Vice-presidente da Fundação AIP

Em fevereiro último contactámos os organizadores, mas aguardamos ainda a formalização contratual para a FIL da edição da Web Summit do corrente ano de 2019″, diz, apesar de aparecer tanto na página do evento internacional como na agenda prevista para o recinto. Aparece no calendário da FIL porque a Fundação AIP, sabendo da importância da Web Summit, apesar da elevada procura que o espaço continua a ter por parte de outros clientes e eventos para esse mesmo período, entendeu no interesse do país manter uma reserva temporária até ao momento”, diz. Até porque este evento tem um peso nas nossas receitas de “menos de 3%”, refere.

Página oficial da FIL tem reservada as datas de 4 a 7 de novembro para a Web Summit apesar de a Fundação AIP não ter qualquer confirmação formal por parte da empresa.

A ausência de confirmação, apesar de se tratar de uma simples formalização, não deve, efetivamente, levar a Web Summit para uma nova paragem. Contactada, a empresa de Paddy Cosgrave é vaga na resposta, afirmando apenas que “pelo que é possível ver no site da FIL, o evento ainda está lá”. E remata afirmando que “não tem qualquer comentário específico a fazer” à questão de se confirmam a realização do evento naquele espaço.

Esta postura da Web Summit ganha maior expressão à luz das críticas que Paddy Cosgrave tem vindo a fazer ao espaço da Fundação AIP, especificamente à reduzida dimensão para a ambição do empresário irlandês. Recentemente, através do Twitter, Cosgrave partilhou uma publicação onde aventava a possibilidade de ser construído um novo centro de congressos. “Imaginem se Lisboa tivesse um centro de congressos completamente novo numa linda nova localização”, escreveu, referindo ainda cidades como Bilbao e Milão, que contam com centros centenas e milhares de vezes maiores.

“Estou a visitar espaços em Lisboa com o maior construtor e operador de espaços de conferências a nível mundial”, escreveu Paddy Cosgrave a 29 de abril, no Twitter, numa altura em que faltam seis meses para a nova edição do evento, agendado para os dias 4, 5, 6 e 7 de novembro. “Penso que existe uma enorme oportunidade por explorar em Lisboa, fora da semana da Web Summit, para que a cidade seja a anfitriã de muitos mais grandes eventos à escala global”, rematou.

Estas declarações acontecem numa altura em que a Fundação AIP procura dotar a FIL dessa maior capacidade. “A Fundação AIP gostaria de arrancar com a primeira fase [de expansão] ainda este ano”, sendo que “este arranque ainda em 2019 está dependente de conversações em curso”, diz ao ECO. “O primeiro momento desta fase compreenderá a expansão dos atuais Pavilhões 1 a 3, permitindo à FIL aumentar a sua área expositiva dos atuais 41 para 54 mil metros quadrados”, diz.

Esta expansão é importante para a Fundação AIP, mas ainda mais para a câmara municipal de Lisboa (CML), que foi quem acertou com a Web Summit os detalhes do acordo que vai manter o evento na capital portuguesa durante uma década. É que, segundo esse acordo secreto que foi obtido pelo Público, a autarquia tem, não só a responsabilidade de assegurar a ampliação do recinto da FIL como pode vir a ter de “pagar em dinheiro à Connected Intelligence Limited [empresa que organiza a Web Summit] os danos” daí decorrentes.

Questionada sobre esta cláusula que define que o valor a pagar pela CML é calculado através de uma fórmula em que entram a área de recinto necessária para a Web Summit, a área efetivamente disponível e as receitas esperadas nessa edição, a dona da FIL diz nada saber. “Desconhecemos o conteúdo do contrato que refere, para além do que tem vindo a público. Aliás nem deveríamos ter, uma vez que não fomos subscritores”, diz o vice-presidente da Fundação AIP.

Sem alternativa à FIL, e caso o investimento na expansão por parte da Fundação AIP não avance ou avance de forma menos célere, nos próximos anos as compensações da CML à Web Summit podem aumentar. Isto porque se o contrato diz que a autarquia “deverá garantir um mínimo de 53 mil metros quadrados de área de exposição permanente e 18 mil metros quadrados de área de exposição temporária” a 1 de outubro de 2019, também prevê que o espaço chegue a um mínimo de 90 mil metros em 2021. Contactada pelo ECO, fonte oficial da autarquia lisboeta referiu a primeira fase de transformação “aconteça a tempo” do evento deste ano, reforçando ainda que a confirmação oficial do Web Summit é feita “diretamente” pela organização os gestores do espaço e que, “só se alguma coisa correr mal”, a câmara seria notificada. “O que não aconteceu até agora”, reforça.

Penso que existe uma enorme oportunidade por explorar em Lisboa, fora da semana da Web Summit, para que a cidade seja a anfitriã de muitos mais grandes eventos à escala global.

Paddy Cosgrave

Fundador da Web Summit

“A Fundação AIP definiu como seu desígnio levar a cabo o projeto de expansão da FIL no decorrer dos próximos dez anos”, sendo que numa primeira fase, além da junção dos pavilhões, está prevista a expansão do Pavilhão 4. E seguir-se-á a construção de um piso superior, que ficará por cima da da atual área técnica e do parque de cargas e descargas. Numa segunda fase, haverá um novo edifício onde era, na altura da Expo 98, a Praça Sony.

“Estamos convictos que o projeto de expansão da FIL é do interesse nacional bem como da cidade de Lisboa”. “Temos também deixado clara a nossa disponibilidade para ir ao encontro do compromissos de prazos de execução assumidos pela CML e outras entidades públicas com a Web Summit”, diz Carlos Brazão, sublinhando que a Fundação AIP tem seguido “um caminho notável de recuperação após os anos da crise económica, tendo apresentados resultados francamente positivos nos últimos dois anos”. O volume de negócios em 2018 ascendeu a 28 milhões de euros.

Mais dez anos em Lisboa

A organização do Web Summit, o Governo e a autarquia lisboeta juntaram-se no Altice Arena no início de outubro de 2018, um mês antes do evento do ano passado, para anunciar oficialmente que a maior conferência do mundo de tecnologia e empreendedorismo iria realizar-se em Lisboa até 2028. O acordo feito entre as três entidades prevê um valor anual de cláusula que o Web Summit terá de pagar a Portugal se decidir sair do país antes do final do período acordado, que poderá ascender aos três mil milhões de euros. De acordo com Fernando Medina, presidente da câmara de Lisboa, “o investimento na FIL vai permitir acolher 100 mil participantes, ou mais”.

O valor anual que Portugal vai pagar ao Web Summit para garantir que o evento continua em Lisboa será de 11 milhões de euros — repartido pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico lisboeta e pelo Ministério da Economia — e servirá de apoio à organização. Nos primeiros três anos do evento em Portugal, o Governo investiu 1,3 milhões por ano. O impacto económico anual do evento, estimado pelo Governo em 2017, foi de 300 milhões de euros apenas em turismo e serviços associados.

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