Desplante, delinquência e decoro. Políticos atacam Berardo
O tema Joe Berardo entrou para o debate político. Da direita à esquerda, de Belém a São Bento, chovem críticas ao comendador: Desplante, decoro, desfaçatez e até delinquência financeira.
Foi na passada sexta-feira que Joe Berardo falou na Assembleia da República, na II Comissão de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A audição do empresário, que no final de 2015 tinha uma dívida de 320 milhões à Caixa, teve vários momentos insólitos, assim resumidos pelo comentador Luís Marques Mendes na SIC: “Joe Berardo esteve a gozar com o pagode”.
Uma das revelações do comendador na Comissão de Inquérito foi a de que a Associação Berardo, dona das 861 obras de arte que estão em exposição no Centro Cultural de Belém, terá feito um aumento de capital à revelia da banca que agora vai ter mais dificuldades em penhorar a coleção que teria sido dada como garantia ao empréstimo de 900 milhões que o empresário contraiu junto de três bancos nacionais para, entre outras coisas, comprar ações do BCP.
Foi este anúncio que levou Catarina Martins do Bloco de Esquerda a trazer o assunto esta segunda-feira ao debate quinzenal. A líder do Bloco considerou que Berardo esteve no Parlamento a “rir-se dos portugueses como antes fizeram Oliveira e Costa e Salgado” para concluir que o madeirense “deu o golpe” chamando novos acionistas à coleção Berardo para evitar a penhora dos bens.
A resposta do primeiro-ministro não tardou: “Acho que o país está seguramente todo chocado com o desplante com que o senhor Joe Berardo respondeu na semana passada na Assembleia da República”. António Costa disse ainda que a atual gestão da CGD “acionou o senhor Berardo para pagar à Caixa o que deve à Caixa. Não há razão para que a CGD perdoe o crédito”.
De São Bento a Belém
O tema rapidamente saiu de São Bento e chegou a Belém. Depois de quebrar o prolongado silêncio na sequência da crise política, Marcelo Rebelo de Sousa também falou sobre Berardo para pedir decoro: “Tem de se respeitar as instituições, ter decoro, ter uma maneira respeitosa de tratar essas instituições”.
Para o Presidente da República, “quando isso não acontece, o juízo dos concidadãos é negativo porque sentem que alguém que tinha sido considerado um exemplo de repente fica aquém daquilo que os portugueses exigem em termos de responsabilidade”. Recorde-se que quando era comentador televisivo, Marcelo Rebelo de Sousa elegeu Joe Berardo como a figura do ano na economia portuguesa em 2007, pelo papel que tinha tido na definição do futuro do BCP e pela abertura do museu de arte contemporânea.
Berardo entra nas europeias
O tópico também já entrou na campanha para as europeias. Jerónimo de Sousa não destoou nas críticas: “Camaradas, veja-se esse escândalo do Berardo e da sua desfaçatez, que mais não é do que a ponta do icebergue que esconde esse problema maior que mina a sociedade portuguesa e tem origem na promiscuidade entre poder político e poder económico, com o que significa de lastro para a corrupção e justificação para drenar milhares de milhões para a banca e seus negócios obscuros”. O líder comunista discursava perante uma plateia de mulheres num jantar de campanha na Casa do Alentejo, em Lisboa.
Ainda à esquerda, depois do “desplante” e da “desfaçatez”, Marisa Matias do Bloco falou em “delinquência financeira”. A cabeça de lista do Bloco às eleições europeias comentava o riso do empresário Joe Berardo ao ser confrontado com a “sua delinquência financeira, o melhor retrato da elite medíocre e parasitária”.
Direita liga Joe a José
À direita, Paulo Rangel esteve em Santa Maria da Feira e procurou ligar Joe Berardo à anterior governação socialista. Depois de dizer que “não queremos mais ‘Berardos'”, Rangel considerou que personalidades como o comendador existiram em Portugal “para que a Caixa Geral de Depósitos assaltasse o BCP, e a Caixa e o BCP ficassem nas mãos de gente próxima do Governo socialista de José Sócrates”.
“É que Berardo não caiu do céu, Joe Berardo não é uma invenção de si próprio. É uma invenção de uma conjuntura político-económica em que havia um governo que queria controlar a banca e o usou a ele”, atirou o candidato social-democrata.
Mais à direita, Nuno Melo citou duas declarações feitas em 2007 por Joe Berardo: “Portugal precisa de um primeiro-ministro como José Sócrates para dar uma reviravolta ao país” e “Sócrates tentou fazer alguma coisa pelo país, mas foi crucificado”. O candidato dos centristas concluiu: “Que diríamos nós que pagámos 350 milhões de dívida enquanto Joe Berardo no Parlamento, sorri, e diz que não deve nada a ninguém”.
O riso de Joe Berardo entrou definitivamente na campanha eleitoral.
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