Like & Dislike: Uma PANcada à direita

Francisco Guerreiro, Marisa Matias e António Costa são os três grandes vencedores destas eleições.

Os resultados das eleições deste domingo mostram que o atual sistema político enche-nos as medidas. Não tendo problemas com a imigração, o atual espetro político chega e basta para acomodar diferentes sensibilidades políticas e rejeitar aberrações populistas, como o Basta, que prosperam por essa Europa fora.

A vergonha alheia que sentimos quando olhamos para a França de Marine Le Pen, o Reino Unido de Nigel Farage, a Itália de Matteo Salvini ou a Hungria de Viktor Órban contrasta com o orgulho de constatar que o PPE, o S&D, os Liberais e os Verdes ainda são a grande família política no Parlamento Europeu.

No campeonato dos pequenos que não elegem eurodeputados, os portugueses deram mais votos ao Livre do que ao Basta de André Ventura. Parabéns ao Rui Tavares que, com um discurso pela positiva, trouxe ideias novas e válidas, como o ‘Novo Pacto Verde’ para que a Europa possa fazer uma transição energética com uma ambição à escala de um New Deal.

“Vemos à nossa volta crises em sistemas de partidos em vários países da Europa do Sul, do Centro e menos na Europa do Norte e aqui tem havido plasticidade e capacidade de rejuvenescimento”. É a razão apontada por Marcelo Rebelo de Sousa para explicar o porquê de este populismo cancerígeno ainda não ter chegado a Portugal.

Marisa Matias do Bloco, Francisco Guerreiro ou André Silva do PAN são algumas das caras deste rejuvenescimento. São genuínos e não são políticos de plástico, como o são Paulo Rangel ou Pedro Marques.

O Bloco de Esquerda arrumou na gaveta o moralismo hipócrita de Ricardo Robles e foi à luta. E ganhou. A competência, a seriedade e a simpatia de Marisa Matias fizeram o resto. A cabeça de lista do Bloco fez uma campanha a falar dos problemas da Europa, como as “18 mil pessoas mortas no mar Mediterrâneo, o maior cemitério a céu aberto” e, tal como Rui Tavares, trouxe uma proposta de reconversão da economia para responder aos desafios climáticos.

Uma bandeira que André Silva e Francisco Guerreiro “roubaram” aos Verdes de Heloísa Apolónia. Com os Verdes em grande ascensão no Parlamento Europeu (na Alemanha foram os segundos maios votados e em França os terceiros), o PAN capitalizou melhor os votos de toda uma geração que, em desespero, olha para Greta Thunberg, uma miúda de 16 anos, como a última esperança de um planeta que todos os dias se auto destrói. Quem vota no PAN, ao contrário de Os Verdes de Heloísa Apolónia, não tem de levar como brinde uma visão bafienta e anacrónica da economia e da sociedade, defendida pelo comunistas (aliados dos Verdes na CDU), os maiores derrotados da noite eleitoral.

O PAN apostou em Francisco Guerreiro, 34 anos, para cabeça de lista, o candidato mais novo a caminho de Bruxelas. Segundo o jornal Público, um apaixonado pelo plogging (recolher lixo ao mesmo tempo que se faz exercício). À juventude e à radicalização do discurso ambiental, o PAN juntou uma postura de grande moderação nos temas económicos e abriu mais uma porta a António Costa para eventuais novas variantes da geringonça.

António Costa ganha estas eleições não por causa de Pedro Marques, mas apesar de Pedro Marques. Empenhou-se pessoalmente e transformou o “poucochinho” de 2014, numa grande vitória. Perguntar-me-ão, com legitimidade, porque é que os 33,38% de António Costa são muito melhores do que os 31,46% de António José Seguro? A resposta é simples e vai muito além dos 2 pontos percentuais. Mesmo sem maioria absoluta, António Costa poderá em outubro fazer a geringonça que mais lhe convier: com o Bloco, com o PCP, com ambos, ou com nenhum. Pode-se juntar ao PAN, cujos 168.372 votos nestas europeias valem bem mais nas legislativas do que um eurodeputado. E estas portas foram todas abertas por António Costa.

Se à esquerda se abrem portas, à direita elas fecham-se. Ao dizer que o espanhol Vox não é um partido de extrema-direita, Nuno Melo e o CDS fecharam as portas ao centro e deixaram de merecer o epíteto de “centristas”.

Rui Rio só foi uma desilusão para quem tinha ilusões. Nem o próprio tinha.
O líder do PSD tem uma forma linear de olhar para a política: “as eleições não se ganham, as eleições perdem-se”. Como tal, Rui Rio tem feito muito pouco para as ganhar, e Costa muito pouco para as perder.

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