Tesouro passa cheque de 8,1 mil milhões. Próxima parede de dívida só em 2021

Estratégia de recompra de títulos tem permitido alisar prazos de reembolsos e poderá continuar. Com baixos juros, antecipar o pagamento dos empréstimos aos credores europeus pode ser o próximo passo.

Portugal devolve esta sexta-feira 8,14 mil milhões de euros que pediu em 2009 aos investidores. Com grande parte das necessidades de financiamento para este ano cobertas e o reembolso realizado, a gestão da dívida poderá entrar em velocidade de cruzeiro, mas com o pagamento aos credores europeus no horizonte.

“Este é um reembolso normal, previsto e perfeitamente acautelado. Não altera nada de muito substancial no perfil da dívida”, refere Filipe Garcia, economista e presidente da IMF, sobre o pagamento de 8,14 mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro (OT) emitidas há uma década, com um cupão de 4,75%. O reembolso deverá ditar um trambolhão da dívida que em abril chegou ao recorde de 252 mil milhões de euros.

Após este reembolso, no próximo ano, as obrigações de Portugal são semelhantes. O Tesouro terá de pagar 8.275 milhões de euros dentro de um ano, após ter reduzido a parede de reembolsos no próximo ano através de operações de troca. Em 2021, é que o montante volta a atingir um pico, com 12.051 milhões de euros por reembolsar, mas ainda poderá haverá alterações caso estes títulos sejam atirados para mais tarde.

Este ano, já só há 3,5 mil milhões em BT a devolver ao mercado

Fonte: Boletim mensal do IGCP

Juros cada vez mais baixos facilitam gestão da dívida

A estratégia da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP tem sido exatamente de recompra de títulos e emissão de nova dívida com maturidades mais longas. A agência liderada por Cristina Casalinho tem aproveitado, assim, o período de baixas taxas de juro para alisar prazos de pagamento e alongar a maturidade média da dívida, que se situava em abril nos 1,6%.

Estamos a beneficiar de taxas de emissões próximas de mínimos históricos, o que ajuda na gestão da dívida“, afirmou Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa. “A postura dos bancos centrais têm sido mais defensivas, com receios de um abrandamento económico ou possível recessão. Estes fatores têm levado as taxas das dívidas soberanas para valores mais baixos e Portugal não foge à regra”.

O país emitiu, esta quarta-feira, dívida a 10 anos com um juro abaixo de 1% pela primeira vez. A forte quebra para 0,639% segue em linha com o comportamento da dívida portuguesa em mercado secundário, onde a yield negoceia em 0,65%.

Foi graças aos menores custos de financiamento e poupança com juros que Portugal conseguiu reembolsar antecipadamente toda a dívida que devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a que o Estado tinha de pagar juros muito acima da média da dívida (4,4%). Agora, poderá aproveitar o momento favorável para fazer o mesmo com os credores europeus, como o Governo já reconheceu.

“Julgo que o reembolso antecipado será feito consoante a liquidez que há no mercado. O custo das novas emissões é muito menor que o custo da dívida e também é preciso ter em atenção que não convêm acumular muitos reembolsos que possa estrangular as finanças públicas“, refere Silva.

Já Filipe Garcia considera que a amortização antecipada aos credores europeus (cujo pagamento deveria começar em 2025) poderá não ser imediata pois o juro deste empréstimo (1,7%) ainda está abaixo do custo médio ponderado do stock de dívida e porque as maturidades são bastante longas. Apesar disso, o economista vê a possível amortização com dois objetivos: político e financeiro.

“Seria uma prova de capacidade e, querendo passar ao mercado e à UEM a mensagem de que Portugal está a ter uma evolução positiva a nível financeiro, de certa forma, a amortização antecipada valida as opções tomadas”, sublinha. “A amortização antecipada não é um cenário totalmente inesperado. Pretendeu-se, num momento de necessidade, dar folga em termos de prazos para dar tempo a que o país pudesse reequilibrar-se financeiramente. No limite, é mais encorajador antecipar o reembolso de uma maturidade muito longa do que rolar empréstimos de períodos curtos”.

Certo é que os credores europeus já estão à espera do “cheque”. “Portugal está empenhado no reembolso antecipado do empréstimo do FEEF em até dois mil milhões de euros entre 2020 e 2023, sujeito às condições de mercado e ao impacto na sustentabilidade da dívida“, refere o relatório anual do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).

Panda Bonds marcaram primeiro semestre. OTRV esperadas no segundo

Desde o início do ano, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP já desembolsou 8,04 mil milhões de euros a investidores de dívida de curto prazo. Após o reembolso de 8,14 mil milhões em OT desta sexta-feira, tem ainda 2,35 mil milhões a pagar em setembro e outros 809 em novembro.

Para realizar estes reembolsos e cobrir as necessidades de financiamento do Estado (estimadas em 8,6 mil milhões de euros este ano), o IGCP deverá ainda voltar ao mercado. Dos 15,4 mil milhões previstos em OT no total do ano, 8,5 mil milhões (55%) já foram colocados.

A este montante, acrescem 7 mil milhões em dívida de curto prazo e 260 milhões na emissão inédita de Panda Bonds (títulos em moeda chinesa). Assim, para o resto do ano — além de OT e BT –, o IGCP deverá lançar uma nova ronda de obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), ou seja, títulos de dívida para o retalho, no valor de mil milhões de euros, como previsto no plano de financiamento.

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