Grandes devedores custaram 3,5 mil milhões ao Novo Banco. CGD e BCP perderam 2 mil milhões

Banco de Portugal divulgou o relatório com a lista anónima dos devedores incumpridores dos bancos ajudados pelo Estado a pedido do Parlamento.

Os grandes devedores geraram perdas de 3.542 milhões de euros ao Novo Banco. O Banco de Portugal divulgou esta terça-feira a lista dos incumpridores da banca portuguesa. O documento revela as perdas de cada banco que teve ajuda pública nos últimos 12 anos com grandes operações de crédito.

A totalidade dos prejuízos diz respeito a empréstimos que não foram pagos e outros negócios que se revelaram ruinosos. As perdas reconhecidas nos cincos anos anteriores à última intervenção do Estado no banco público (neste caso, junho de 2018) incluem write-offs, vendas, execução de garantias ou reestruturação (sendo que ainda pode recuperar parte do montante).

Além do Novo Banco, estão ainda em causa a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Banif, o BPN, o BCP e o BPI, bancos que desde 2007 já foram apoiados em 24 mil milhões de euros com fundos públicos.

A lista atribui critérios diferentes aos bancos. A definição de grande devedor é delineada consoante o montante da intervenção pública em cada banco: na Caixa é considerado um grande devedor aquele cuja exposição é superior a 62,5 milhões; no BCP o limite mínimo é de 30 milhões.

Por outro lado, a lista foi elaborada no momento de disponibilização do fundo público e as datas diferem de instituição para instituição. Assim, os números não são comparáveis entre bancos. No entanto, o valor mais elevado é encontrado na lista do Novo Banco, que a 30 de junho de 2018 reconhecia perdas acima de 3.500 milhões com operações de crédito e participações em instrumentos de capital.

Créditos ruinosos tiraram 1,3 mil milhões à Caixa

Segue-se o BCP com perdas de 2.023 milhões de euros (contabilizadas a 30 de junho de 2012), maioritariamente (1.152 milhões) de participações em instrumentos de capital. Ao contrário dos restantes bancos em que a maior parte dos montantes diz respeito a empréstimos em incumprimento, no banco liderado por Miguel Maya são os investimentos que têm maior peso. O ECO sabe que grande parte do valor diz respeito a investimentos financeiros fora de Portugal (como participações em bancos em países como Grécia, Roménia e EUA) que foram vendidos com prejuízo.

No caso da CGD, as perdas estavam contabilizadas em 1.910 milhões de euros no dia 30 de junho de 2017, momento da disponibilização da última ajuda pública ao banco. De créditos, a Caixa perdeu 1.334 milhões de euros, enquanto participações em instrumentos de capital provocaram um rombo de 576 milhões de euros.

Já no BPI, as perdas foram de 508 milhões de euros, todos referentes a créditos. Em comunicado, o banco explicou que a exposição à dívida pública grega justifica grande parte do valor já que, à data de referência (2011), eram detidos 408 milhões de euros, que representam 80% do total. Nenhuma outra instituição financeira referida no relatório fez qualquer comentário.

No caso dos bancos que já desapareceram, a análise é ainda menos comparável. O BPN, que foi nacionalizado em 2008 e vendido três anos depois ao BIC, reconheceu perdas de 11 milhões de euros à data de 31 de dezembro de 2012. O falido BPP não reconhecia quaisquer perdas a 30 de junho de 2010.

O Banif, que alvo de ajuda pública em 2012, reconheceu 145 milhões de euros (dos quais 130 milhões relativos a créditos) em imparidades, mas não houve perdas efetivas. O banco foi vendido ao Santander Totta em dezembro 2015 por 150 milhões de euros.

Após vários pedidos do Parlamento para ter acesso ao documento, o Banco de Portugal divulgou as listas, sem revelar a identidade dos devedores. No entanto, cada um (devedor individual ou grupo empresarial) é identificado com um código em todas as instituições financeiras pelo que, caso o mesmo devedor esteja em dívida em diferentes bancos abrangidos pela lei, o código será o mesmo para que seja possível verificar a exposição global em relação ao sistema.

(Notícia atualizada às 20h10)

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