Quanto custa produzir uma prancha de surf?

É difícil calcular o preço médio de uma prancha. Tamanho, volume, materiais, nível de experiência do surfista, se é ecofriendly ou não, são características a ponderar.

Tamanhos, materiais e preços. São várias as especificidades inerentes à produção de uma prancha de surf. Prancha de longboard, de surf ou de paddle? Como se diz na gíria, existem tamanhos para todos os gostos e para todas as carteiras. O peso, a altura, o tipo de onda que o surfista que surfar e o nível de experiência são fatores fundamentais na escolha da prancha perfeita.

O ECO falou com algumas empresas para tentar perceber quanto custa produzir uma prancha de surf. O preço é ambíguo, mas o gosto pela modalidade não.

São empresários mas sem dúvida apologistas de um estilo de vida mais alternativo, de preferência em contacto com a água e com o surf. Este é o caso de Miguel Katzenstein, fundador da empresa Semente. Tem 60 anos e está ligado ao surf há 42 anos. Confessa que ter uma empresa ligada ao surf foi “conciliar a sua paixão com o campo profissional”.

A história de Katzenstein é bastante semelhante a de Paulo Pichel, sócio da Xhapeland. Tem 47 anos e passou 36 deles a surfar, assim como é a de Nuno Matta, fundador da empresa Matta Shapes, que quis aliar o surf à profissão. Além de empresário é surfista desde pequeno e foi campeão nacional de surf em 2000.

Poliestireno, poliuretano, resina poliéster, fibra de vidro, madeira, são vários os materiais que podem ser usados na produção de uma prancha de surf, o que torna o preço médio uma resposta difícil de obter.

Matta Shapes, Semente e Xhapeland não se afastam muito na hora de calcular os custos de produção de uma prancha de surf, situando o valor entre os 220 e os 400 euros, dependendo do tamanho e dos materiais usados.

Vários adeptos da modalidade optam por pranchas de surf personalizadas. Estas são um fator de distinção entre os praticantes e a Associação de Desenvolvimento Mais Surf (ADMS) é pró a produzi-las. Sediada na Figueira da Foz, a Associação faz pranchas de surf à medida e prima pela personalização. Eurico Gonçalves, presidente da ADMS, destaca que mais que produzir pranchas “produzimos obras de arte” e que o foco da associação “não é de todo produção em massa”. Logo as pranchas que produzem têm um custo mais elevado, que podem variar entre 300 e 800 euros. A diferença de preço prende-se essencialmente com uma produção mais artesanal.

A empresa do surfista Nuno Matta, sediada na margem sul do Rio Tejo, tem capacidade para produzir 300 pranchas de surf por mês. Com 23 anos de história, é segundo o fundador, “uma das maiores fábricas a produzir pranchas de surf em Portugal, e uma das maiores na Europa”. O fundador da Semente, revelou que a empresa produz cerca de 80 pranchas por mês, podendo cada uma demorar cerca de quatro dias a estar concluída. Na Xhapeland esse número é superior, sendo que são produzidas entre 150 a 200 pranchas por mês.

Paulo Pichel conta com 80% da produção é para exportar e que França é o mercado mais forte da empresa, seguido de Espanha e Inglaterra. A empresa sediada em Cascais tem marca própria e representa marcas reconhecidas mundialmente como a Chilli, JR e Rusty.

Geralmente as pranchas das escolas de surf são poluentes, uma vez que os materiais de composição são derivados de petróleo.

Eurico Gonçalves

Presidente da Associação de Desenvolvimento Mais Surf (ADMS)

Todos os fabricantes com quem falamos abordaram a questão da sustentabilidade, mas o facto de um prancha ecofriendly ser uma prancha mais dispendiosa afasta grande parte dos consumidores. A Matta Shapes tem uma prancha amiga do ambiente, mas o empresário queixa-se “que algumas pessoas nem sequer querem saber qual a diferença de preços”.

Para Miguel Katzenstein, fundador da Semente, “o preço elevado das pranchas ecofriendly e a performance nas ondas afasta os compradores”. Acrescenta que a sua empresa, com 37 anos de existência, ainda não apostou neste tipo de pranchas pois considera que “os preços ainda não são viáveis”.

O sócio da Xhapeland, Paulo Pichel concorda e afirma que “o surfista vêm à procura de uma prancha profissional, com certas características que as ecológicas ainda não têm”. Todavia, tem consciência que “as pranchas têm materiais que não sou nada amigos dos ambiente”. Refere que já começa a sentir que existe um “maior cuidado com as escolhas dos materiais e e que é necessário arranjar soluções rapidamente”.

Eurico Gonçalves, presidente da Associação de Desenvolvimento Mais Surf (ADMS), confirma esta informação e destaca que “geralmente as pranchas das escolas de surf são poluentes, uma vez que os materiais de composição são derivados de petróleo”. Acrescenta que para além do impacto ambiental, “têm pouca durabilidade”. Nuno Matta também salientou que nos “EUA já é proibido o uso do material poliuretano na composição das pranchas”.

Pranchas ecológicas feitas com madeira e catos

Consciente dos impactos ambientais inerentes à produção das pranchas de surf, Eurico Gonçalves teve a ideia de construir pranchas ecológicas a partir de matérias-primas como madeira e o agave (planta da família dos catos). Segundo Eurico Gonçalves, esta “junção de materiais vai tornar as pranchas mais leves e fáceis de manusear, garantido a sua rigidez e resistência mecânica”. Será uma aposta direcionada para as escolas de surf e a solução deverá estar concluída e pronta a ser comercializada em 2021.

Segundo o presidente da ADMS “geralmente as pranchas das escolas de surf são poluentes, uma vez que os materiais de composição são derivados de petróleo e cabe-nos a nós lutar contra isso. “As escolas de surf estão com o foco errado”, destacando que é um “problema cada mais grave e é necessário agir rapidamente”, refere.

A prancha sustentável será em madeira e o objetivo é que “seja uma réplica da primeira prancha de surf registada em Portugal, no ano de 1942”, revela Eurico Gonçalves. Para além de ter uma durabilidade superior tem como missão “poupar o ambiente”.

Pranchas produzidas em Portugal usadas por vários surfistas de renome

Segundo valores publicados pela Associação Nacional de Surfistas o surf vale 400 milhões de euros e Portugal já é uma referência internacional para muitos surfistas de renome. McNamara surfou a maior onda do mundo em Nazaré e mais uma vez Portugal esteve na bocas do mundo, pelos melhores motivos. Ao conversarmos com Paulo Pichel, sócio da Xhapeland, descobrimos que a empresa patrocina o McNamara e que recentemente o surfista levou para a Indonésia pranchas de surf produzidas pela Xhapeland. Ruben Gonzalez, Nomme Mignot são outros surfistas de renome que têm pranchas produzidas pela portuguesa Xhapeland.

A semente confidenciou-nos também que já produziu pranchas para quase todos os campeões nacionais desde 1982 até a data, nomeadamente: Marlon Lipke, Nicolau von Rupp, Gony Zubizarreta, entre outros. E o fundador da Matta Shapes, Nuno Matta, disse-nos também que a empresa já produziu pranchas de surf para algumas figuras de renome no mundo do surf. Jadson André, surfista do circuito mundial WCT, Martin Potter, campeão mundial de surf em 1989 e Travis Logie, antigo competidor WCT, são alguns dos nomes mais sonantes.

Quanto custa carregar a bateria do seu telemóvel? Quantas árvores são precisas para fazer uma resma de papel? Quanto custa fazer uma prancha de surf? Quantos casamentos se fazem em agosto? De segunda a sexta-feira, até ao final de agosto, o ECO dá-lhe a resposta a um “Sabia que…”.

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