IGCP mais que duplica meta. Quer captar mil milhões com certificados este ano

IGCP assumia a saída de mil milhões de euros dos certificados, com o reembolso dos CTPM, mas as famílias estão a surpreender ao reinvestirem boa parte do dinheiro. Prevê captar mil milhões este ano.

O IGCP arrancou o ano a assumir um “buraco” nos certificados. Estimava perder mil milhões de euros das poupanças dos portugueses, uma “fuga” explicada com o fim do prazo dos primeiros CTPM, que tinham uma maturidade de cinco anos. Poucos meses depois voltou a fazer as contas e em vez de sair dinheiro admitiu conseguir captar algum. Agora, mais do que duplicou a previsão, antecipando um saldo capaz de colmatar a ausência da emissão de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV).

A perspetiva da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) era de que todo o dinheiro que entrou nestes CTPM, lançados em 2014, e que tem vindo a ser reembolsado porque a maturidade chegou ao fim — cinco anos — acabasse por ser redirecionado para investimentos alternativos, ainda que parte fosse reinvestido em certificados de aforro ou CTPC.

Apresentação do IGCP de julho

Mas, em vez de sair dinheiro, a realidade é que está a entrar. Em abril, na apresentação que o IGCP faz regularmente aos investidores internacionais reviu o valor em alta de uma perda de mil milhões de euros para passar a arrecadar 400 milhões com os produtos de retalho do Estado. Agora, na apresentação mais recente divulgada no site, a agência liderada por Cristina Casalinho passou a assumir um saldo positivo bem superior.

Em poucos meses, mais do que duplicou o valor a arrecadar no final do ano, assumindo um “encaixe” de mil milhões de euros com as poupanças das famílias, dinheiro com o qual consegue financiar parte da dívida pública portuguesa.

Apresentação do IGCP em setembro

No final de julho, os dados mais recentes publicados pelo IGCP, o saldo de certificados, tanto de aforro como do Tesouro (tanto CTPM como Certificados do Tesouro Poupança Crescimento, que substituíram os primeiros) estava positivo em 565 milhões de euros. Os certificados de aforro captaram, em sete meses, 103 milhões de euros e os do Tesouro já arrecadaram 462 milhões.

“O saldo de subscrições líquidas confirma o interesse das famílias portuguesas em produtos de poupança do Tesouro, manifestado no valor subscrito”, diz o IGCP, reconhecendo que a estimativa da taxa de reinvestimento “revelou-se conservadora”.

Esta evolução, que levou o IGCP a rever em alta a estimativa de obtenção de financiamento através destes produtos, revela que muitos portugueses que tinham CTPM estão a reinvestir o dinheiro reembolsado tanto em certificados de aforro como em CTPC. E a explicação é relativamente simples para este movimento: juros atrativos.

Com o Banco Central Europeu (BCE) a abrir a porta a novas medidas para puxar pela economia do euro, que pode passar por corte de juros, os bancos estão a dar praticamente zero nos depósitos a prazo, o produto preferido das famílias — taxa média das novas aplicações está em mínimos, nos 0,12%. Os produtos do Estado, apesar de pagarem pouco, têm taxas mais elevadas: os certificados de aforro dão 0,584% e os CTPC pagam 1,38% por ano, em média, mais um bónus em função do PIB.

“Buraco” tapado. Não é preciso colocar as OTRV

A captação de mil milhões de euros em certificados, completamente diferente da estimativa de saída de igual valor destes produtos, vem dar uma ajuda ao financiamento da dívida pública portuguesa. A meta para o financiamento junto de pequenos aforradores, este ano, era de zero: perda de mil milhões em certificados compensada com a emissão de mil milhões através de OTRV. Agora, conta com mil milhões em certificados e falta ainda a emissão de OTRV, mas não precisa de a fazer.

 

Aliás, será muito difícil que avance com esta emissão de obrigações para o retalho tendo em conta o contexto de juros negativos que se verifica na dívida nacional. A operação continua a constar na apresentação aos investidores, mas “neste momento não existe nenhuma data prevista para a sua concretização”, disse recentemente o IGCP ao ECO.

A taxa das obrigações do Tesouro a 10 anos está em mínimo histórico, transacionado em torno dos 0,10% a 0,15%, muito próxima da yield exigida pelos investidores a Espanha. Mas nos prazos mais curtos, está abaixo de zero, assistindo-se a isso mesmo no prazo a sete anos, a maturidade da última operação realizada com as OTRV. Com taxas negativas, o IGCP iria estar a cobrar aos investidores um juro, isto ao mesmo tempo que os bancos aplicavam comissões.

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