“Portugal tem dos melhores vinhos do mundo, mas ainda não é reconhecido como destino de enoturismo”
Especialistas e empresários consideram urgente a valorização do produto turístico e o trabalho em rede para captar enoturistas. O baixo preço de venda é apontado como entrave para um posicionamento.
“Temos sentido que os mercados estão a ter cada vez mais procura de enoturismo. Portugal é reconhecido como melhor destino turístico do mundo, tem dos melhores vinhos do mundo, mas ainda não é reconhecido, internacionalmente, como destino de enoturismo. Temos de mostrar mais atratividade”, reconhece Lídia Moreira, do Turismo de Portugal, uma das participantes na mesa redonda “Investimento no Enoturismo”, que integrou a Conferência Novo Banco “Enoturismo no Dão: Um caminho para o Vinho e para o Turismo”, que se realizou esta quinta-feira, em Viseu.
A representante do Turismo de Portugal lembrou não só que “as nossas regiões vinhateiras atravessam todo o território”, mas também que o nosso país conta com três paisagens culturais vinhateiras que são Património Mundial da UNESCO: Alto Douro, Pico e Vale do Côa. E que, por isso, é essencial saber valorizar o produto turístico que se tem, através do “apoio a projetos que qualifiquem as pessoas”, bem como “estimular uma maior capacitação dos elementos do setor”, tendo em consideração que “os mercados procuram experiências”.
“Aquilo a que assistimos hoje é o surgimento dos millennials, desta nova geração que olha para o vinho como uma experiência, que valoriza as experiências”, observa Lídia Moreira, reconhecendo a importância de o enoturismo ir ao encontro das necessidades de mercado, como procura fazer a Santacastta, uma jovem empresa de animação turística dedicada, em exclusivo, ao turismo de experiências no Dão.
Luís Amaral, fundador deste negócio e outro dos convidados desta mesa redonda, admite a existência de “dificuldades” na criação de atratividade, mas acredita na força das parcerias. “Recuso-me a vender apenas a quinta, vendo a região. Dou a conhecer o Dão, cuja beleza não está à beira da estrada, como o Douro”, partilhou, defendendo a implementação de uma “enologia criativa”. “Dentro do país, não somos uma região com grande notoriedade, mas esta há de chegar. Aguardamos a grande explosão do Dão”, perspetiva.
Da mesa redonda fez ainda parte Diogo Rocha, chef do restaurante Mesa de Lemos, que chamou a atenção para aquele que considera ser um grande problema de base: “Portugal, infelizmente, tem vinho muito barato, o que nos coloca num lugar do enoturismo que nos fragiliza. O posicionamento no mercado do vinho não nos ajuda”.
Para além desta fragilidade, Diogo Rocha nomeia a ausência de trabalho em rede. “É preciso montar uma rede, juntarmo-nos para melhor vender a região. Mas, se fossemos bons no associativismo, as cooperativas em Portugal não estão como estão”, constata. Outro dos aspetos a melhorar, no entender do chef, é a capacitação dos recursos humanos: “Há a parte calorosa que distingue um projeto, mas tem de haver um fio condutor. É preciso estudar e dotar as pessoas de conhecimento técnico”. Para ir ao encontro destas necessidades, de acordo com Lídia Moreira, o Turismo de Portugal tem apostado nessa vertente, através do Enotur, “um programa para a formação de um referencial técnico para o enoturismo”.
Pedro Freitas, responsável pela Quinta do Medronheiro, também chamou a atenção para a importância do domínio do inglês, na apresentação do produto turístico, mas lembrou que mais importante que a língua é a hospitalidade sentida pelos enoturistas. “A apresentação tem de ser feita em Inglês, mas há algo que supera isso: o à vontade com que recebemos os turistas, o ambiente familiar e informal”.
Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, lembrou que a banca disponibiliza linhas de investimento para capitalizar o turismo, nomeadamente o enoturismo, desde que sejam apresentados projetos válidos. “Os bons projetos em Portugal têm o apoio dos bancos, desde que bem estruturados. Apoiar projetos com propósito é o propósito do Novo Banco” referiu durante este encontro.
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