Gestão do território com apoios do crowdfunding

  • Filipe S. Fernandes
  • 24 Setembro 2019

A Montis adquire e gere terrenos marginais e foram abandonados para aumentar a diversidade e a resiliência da paisagem.

Em 23 de março de 2014 surgiu a Montis – Associação de Conservação da Natureza, em Vouzela. A ideia de criar a instituição apareceu a partir de experiências com objetivos semelhantes como, por exemplo, a da Associação Transumância e Natureza, explica Henrique Pereira dos Santos, presidente da Montis e arquiteto paisagista, que trabalhou em áreas protegidas e conservação da natureza mais de trinta anos, incluindo no ordenamento e gestão de áreas protegidas e Rede Natura 2000.

Com 450 sócios, a Montis é “uma associação de conservação da natureza que se concentra na gestão direta de terrenos, com objetivo prioritário de produzir biodiversidade e um objetivo secundário de melhorar a sustentabilidade económica dessa gestão, quando possível”, e com o envolvimento da comunidade, explica o responsável.

Para isso propôs-se comprar terrenos marginais que, tendo sido importantes na economia rural de um passado recente, atualmente não têm qualquer função social e são muito vulneráveis, nomeadamente aos grandes incêndios, pelo abandono de décadas a que foram votados.

“O nosso propósito é assistir os processos naturais para aumentar a diversidade e resiliência da paisagem de forma a torná-la mais útil e amena para uma maior variedade de espécies”, adianta Henrique Pereira dos Santos.

Associação nacional

“Somos uma associação nacional, em qualquer parte do país em que haja uma oportunidade e recursos, temos interesse em estar”, refere Henrique Pereira dos Santos. Neste momento, a Montis tem cerca de 16 hectares de propriedade própria (um terço em Vouzela e dois terços em Pampilhosa da Serra), e gere outros 150 hectares por acordo com terceiros, estando em fase de formalização de entre 20 a 30 novos hectares. “Os objetivos são sempre produzir biodiversidade da forma mais sustentável, incluindo economicamente, possível”, conclui Henrique Pereira dos Santos.

A associação está presente na serra do Açor (Pampilhosa da Serra), serra do Caramulo (Vouzela) e na serra da Arada (S. Pedro do Sul), para onde tem levado um modelo de gestão participada, “envolvendo a sociedade no apoio dos processos naturais e aplicando toda a panóplia dos nossos recursos assentes no envolvimento da comunidade pelo voluntariado, e as técnicas de apoio à regeneração natural, engenharia natural, e fogo controlado que privilegiamos”, refere Henrique Pereira dos Santos.

O arquiteto paisagista adianta ainda que, “nos terrenos que gerimos, nossos ou de terceiros, estabelecemos um plano de intervenções a dez anos, procurando compreender os processos naturais que estão a ocorrer para os influenciar em vez de os contrariar. Por isso usamos frequentemente fogo controlado, engenharia natural, condução da regeneração natural. Pontualmente, poderemos fazer plantações e esperamos ter oportunidade, no futuro, de usar o pastoreio como instrumento de gestão”.

O papel do crowdfunding

Uma das formas de atingir os objetivos da Montis tem sido a aquisição de terrenos. Para este processo a associação tem recorrido a financiamentos através de campanhas de crowdfunding para a compra de terrenos, tendo obtido cerca de 17 mil euros na primeira campanha e quase o dobro, cerca de 30 mil euros, na segunda.

A Montis fez ainda uma campanha de crowdfunding que rendeu 20 mil euros, para o voluntariado, e outra, de cerca de dois mil euros, para uma experiência de utilização de gaios como semeadores, pois são animais que amealham muitas bolotas e podem funcionar como semeadores de novas árvores.

Segundo Henrique Pereira dos Santos, o crowdfunding tem dois objetivos para a Montis. Por um lado, captar recursos para a gestão da biodiversidade e, por outro, a comunicação. “Este segundo objetivo não é secundário, está ao mesmo nível do primeiro e tem sido nas campanhas de crowdfunding que temos conseguido captar mais sócios e ganhar mais notoriedade”, afirma.

Admite, no entanto, que “é um processo muito absorvente para uma associação pequena, porque captar recursos numa campanha de crowdfunding exige um grande esforço de atenção aos potenciais doadores, uma boa programação prévia e uma grande flexibilidade para responder ao retorno dos potenciais doadores.

Optámos pelo crowdfunding porque é uma fonte de recursos que depende quase inteiramente de nós.

Henrique Pereira dos Santos

Presidente da Montis

A Montis conta com outras fontes de financiamento para além do crowdfunding e das quotas dos sócios. Através de candidaturas a fontes clássicas de financiamento neste âmbito, como o Programa LIFE ou o Fundo Ambiental, recebeu, em 2018, 95 mil euros do LIFE Volunteer Escapes, 10,4 mil euros do LIFE ELCN e 48,5 mil euros do Fundo Ambiental.

O presidente da Montis considera que estes fundos “representam um peso excessivo na estrutura de financiamento da associação e que esperamos que venha a diminuir com o tempo. Para além destas fontes, temos também acordos com algumas empresas e ainda donativos pessoais”.

 

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