Convergência do nível de vida com a Europa estagnou nos últimos 25 anos
A convergência do nível de vida dos portugueses com a média europeia estagnou nos últimos 25 anos e ainda está abaixo dos níveis de 1995, mas as disparidades entre as regiões portuguesas diminuíram.
A economia portuguesa estagnou o seu processo de convergência com a União Europeia nos últimos 25 anos, ainda se encontrando abaixo dos níveis verificados em 1995, apesar dos anos mais recentes em que a economia cresceu acima da média europeia, diz o Banco de Portugal. Isto deve-se não só à crise financeira da primeira metade desta década, mas também a fatores estruturais que continuam a impedir um crescimento mais robusto da economia que permita a aproximação dos níveis de vida dos portugueses à média europeia. Mas as diferenças entre as regiões portuguesas estão a reduzir-se.
A economia portuguesa tem crescido acima da média nos anos mais recentes e o Governo usou os resultados como uma bandeira política nas eleições mais recentes. A melhoria, no entanto, ainda não foi suficiente para apagar a tendência de estagnação do nível de PIB per capita dos portugueses nos últimos 25 anos, a maior parte deste período com Portugal já dentro da Zona Euro.
Uma análise do Banco de Portugal, que a instituição liderada por Carlos Costa publica esta quinta-feira juntamente com o Boletim Económico, indica que esta convergência real estagnou nos últimos 25 anos, mesmo com esse crescimento acrescido nos últimos anos, e tendo em conta a revisão estatística operada pelo Instituto Nacional de Estatística (que levou a um aumento significativo do valor do PIB em 2017 e 2018).
Os técnicos do banco central fizeram uma análise à convergência dos níveis de vida em Portugal com a União Europeia desde 1960 e o resultado, com algumas variações, é muito distinto nos primeiros 35 anos do que aconteceu nos 25 anos seguintes.
Convergência até 1995
Entre 1960 e 1995, com algumas crises pelo meio, o PIB per capita convergiu de forma acentuada com a União Europeia. Parte desta convergência explica-se pelo fraco ponto de partida, que implicou uma convergência dos níveis de vida dos portugueses com o resto da União Europeia a um ritmo mais elevado até 1995.
Este aumento aconteceu em períodos de maior abertura da economia e com a entrada na União Europeia, com importantes fluxos de investimento em capital fixo, mas esta tendência não se manteve devido a vários fatores.
Em primeiro lugar, a crise financeira e das dívidas soberanas que afetou a Europa, e em especial os países em resgate, na primeira metade desta década, que afeta esta comparação.
Mas a estagnação já se verificava antes, com algumas flutuações desde a entrada na Zona Euro. Segundo a análise do Banco de Portugal, as economias avançadas parecem demonstrar uma capacidade de convergir de forma mais pronunciada a partir do momento em que atingem determinados níveis de rendimento, com a exceção dos países no topo a pirâmide: o Luxemburgo, com uma economia muito mais ancorada no setor financeiro e que regista níveis de produto muito superiores à dimensão da sua economia; e a Irlanda, que teve uma revisão do seu PIB muito expressiva devido a fluxos de investimento estrangeiro recentemente.
Por outro lado, há ainda fatores estruturais que são intrínsecos à economia portuguesa, que têm impedido crescimento mais robustos da sua competitividade.
No segundo período da análise, os últimos 25 anos, a comparação é afetada pelos novos países que entraram na União Europeia e que, tal como Portugal, viram os seus níveis de vida aumentar substancialmente nestes primeiros anos de abertura e de maiores fluxos de capital apoiados por fundos europeus.
A entrada destes novos membros fez com que Portugal caísse cinco lugares no ranking, quando se compara o PIB per capita dos 28 países que agora fazem parte da União Europeia em 1995 face a 2018, passando de 16.º para 21.º. Entre os países que ultrapassaram Portugal na tabela estão países como Malta, República Checa, Estónia e Lituânia.
Lisboa continua a dominar
Numa análise às 25 regiões portuguesas, o Banco de Portugal nota que houve convergência nos últimos 24 anos entre as diferentes regiões, que foi mais expressiva nas regiões onde o PIB per capita estava mais distante da média nacional.
Essa convergência é particularmente expressiva nas regiões do norte do país, onde os níveis de rendimento cresceram mais rapidamente que as das regiões com um PIB per capita mais elevado, havendo ainda assim um crescimento em todas.
Só a Área Metropolitana de Lisboa destoa, com o PIB per capita a descer em relação à média nacional. No entanto, Lisboa já tinha o PIB per capita mais elevado do país e continuou significativamente acima da média, passando de 142% em 2009, para 132% em 2017.
Apesar dos avanços que foram conseguidos nos últimos 24 anos, a convergência é um processo lento e, nas contas do Banco de Portugal, a velocidade tem sido de 1,1% ao ano em média, o que quer dizer que são necessários 60 anos para reduzir para metade a diferença inicial entre os rendimentos per capita das regiões.
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