Depois do perdão de milhões, nova SIVA quer voltar a trabalhar com os bancos portugueses

Porsche Holding Salzburg quer falar com os bancos nacionais para "começar a fazer negócio". Se eles não quiserem, depois das perdas com Pereira Coutinho, há quem queria, lá fora, diz o CEO.

A SIVA custou muito dinheiro aos bancos portugueses. João Pereira Coutinho conseguiu um “perdão” de dívida de 100 milhões de euros — mais 16 milhões para a SAG — junto das maiores instituições financeiras nacionais, evitando-se, assim, a falência do importador das marcas VW, Audi e Skoda. A SIVA sobreviveu e, agora, até ganhou vida nova, com um novo dono, a Porsche Holding Salzburg (PHS), que quer trabalhar com os bancos nacionais no crescimento do negócio. “Queremos trabalhar com eles”, diz Hans Peter Schützinger, CEO da Porsche Holding Salzburg, mas se não for possível, a marca vai procurar alternativas na Áustria, por exemplo.

A PHS comprou o negócio de importação da Volkswagen (que detém a Porsche), Volkswagen Veículos Comerciais, Audi, Skoda, Bentley e Lamborghini, e a rede de retalho detida pelo importador e composta por 11 concessionários em Lisboa e no Porto, por “um euro com um capital de mais ou menos zero”. Agora, diz Schützinger, “temos de recapitalizar a empresa. Temos de colocar novo capital na SIVA. Esse capital virá da Áustria, da Porsche”.

Temos de falar com eles [com os bancos portugueses] para começarmos a fazer negócio. Penso que para os bancos, com o novo dono, será atrativo, já que terão um parceiro sério e estável. Não imagino que haja problema algum.

Hans Peter Schützinger

CEO da Porsche Holding Salzburg

A empresa portuguesa precisa de capital para garantir a sua liquidez. Em declarações ao ECO, à margem da conferência de formalização do negócios, o presidente executivo da PHS diz que depois da reestruturação da SIVA, em que todos concordaram, e “tiveram de assinar”, é necessário garantir o working capital, que “virá da Áustria ou dos bancos portugueses”. Alguns desses bancos serão os mesmos que assumiram perdas avultadas, casos do BCP, BPI, CGD e Novo Banco. É preciso “serious money“, atira Hans Peter Schützinger. É preciso muito dinheiro, “mas não vou dizer um número”.

“Agora, temos de falar com eles [com os bancos portugueses] para começarmos a fazer negócio“, diz. E depois das perdas registadas, terão os bancos medo de voltar a fazer negócio com a SIVA? “Penso que para os bancos, com o novo dono, será atrativo, já que terão um parceiro sério e estável. Não imagino que haja problema algum”, afirma. “Queremos trabalhar com eles, com os bancos portugueses, numa nova base”, acrescenta. Mas se houver problemas em falar com os bancos nacionais? “Temos o nosso dinheiro. E temos financiamento em toda a Europa”, atira.

Recuperar o tempo perdido na SIVA…

Com esta compra, a PHS salva a SIVA. Mas será preciso um enorme esforço para recuperar a empresa, depois de anos marcados por uma crise profunda. Com a SAG numa situação financeira complicada, a importadora pouco pode fazer para se manter na disputa, isto num mercado com grandes concorrentes, num contexto de aumento expressivo das vendas de automóveis no mercado nacional. Agora, com uma equipa reforçada, com dois managing directors na SIVA e outros dois na Soauto, a divisão de retalho, é preciso recuperar o tempo perdido.

Nos últimos anos houve dificuldades financeiras que não permitiram que houvesse investimento, pelo que as nossas marcas sofreram bastante por não estarem presentes no mercado.

Viktoria Kaufmann-Rieger

Managing director da SIVA

“Nos últimos anos houve dificuldades financeiras que não permitiram que houvesse investimento, pelo que as nossas marcas sofreram bastante por não estarem presentes no mercado”, diz Viktoria Kaufmann-Rieger ao ECO. Agora, com a PHS, “estamos a começar de novo”. “Temos de ver o que podemos fazer, saber como temos de investir para que os nossos clientes vejam novamente as nossas marcas no mercado. Mas uma coisa é fazer o marketing, outra é vender os carros”, nota.

 

“Temos de nos aproximar da nossa rede de retalho. Temos de melhorar a experiência dos nossos clientes, mas primeiro temos de recuperar a confiança dos nossos revendedores. Todos os nossos revendedores são multimarca, pelo que não se focaram nas nossas marcas. É algo que temos de mudar” no médio prazo, acrescenta a responsável austríaca que fará, daqui em diante, parceria com Pedro de Almeida, ex-diretor da SIVA. “Dentro de dois a três anos estaremos back on track“, rematou.

…e investir na Soauto

Uma boa parte do processo de recuperação da SIVA, como importador, passa pelo investimento na rede de retalho, a Soauto. “Queremos fazer um investimento de mais de 20 milhões de euros em três anos”, com foco em Lisboa e no Porto, anunciou o novo managing director da Soauto, Mario de Martino, que fará equipa com José Duarte, na apresentação da estratégia da PHS para a SIVA e a Soauto. Esse investimento será feito na rede, procurando potenciar as vendas das marcas que são representadas no mercado nacional.

“Estávamos limitados na nossa capacidade para investir nas marcas”, lembrou Pedro de Almeida, managing director da SIVA, remetendo para os últimos anos em que a empresa esteve nas mãos de Pereira Coutinho. Agora, essa limitação acaba, havendo margem para voltar a investir, procurando colher frutos a médio prazo. “Queremos voltar a atingir a meta dos 30 mil veículos vendidos”, adiantou Viktoria Kaufmann-Rieger, lembrando que esse era o nível que a SIVA apresentava antes da crise. E “queremos desafiar os nossos concorrentes, voltando a ser o número três” no mercado automóvel.

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