Draghi deu às famílias a maior poupança de sempre no crédito da casa
Draghi está de saída do BCE. Para trás deixa às famílias uma poupança recorde com juros do crédito da casa. Mas também a mais magra remuneração de sempre dos depósitos.
“Whatever it takes”. A expressão foi utilizada pela primeira vez por Mario Draghi em julho de 2012, apenas oito meses após assumir a presidência do Banco Central Europeu (BCE). Com ela selava o compromisso de usar todos os instrumentos ao seu dispor, visando conduzir a economia da Zona Euro ao rumo certo. Após oito anos e oito cortes das taxas de juro de referência, essa missão do “Super Mario” não foi totalmente bem-sucedida, mas teve efeitos claros sobre as famílias portuguesas. Estas conseguiram uma poupança recorde nos encargos com as prestações da casa. Mas os “esforços” de Draghi não lhes trouxeram apenas boas notícias: também lhes “tramou” as poupanças.
Escassos oito dias após assumir a liderança do BCE a 1 de novembro de 2011, o “Super Mario” dos mercados estreava-se com o primeiro corte da taxa de juro de referência da Zona Euro. Na primeira reunião de política monetária que comandou, em novembro, Draghi baixou a taxa de juro de referência da Zona Euro, dos 1,5% para 1,25%. Um mês depois avançava com um novo corte, desta vez para os 1%. Mas seguiram-se outros, tendo o mais recente sido em março de 2016, altura em que fixou o juro de referência da Zona Euro nos 0%, nível em que se encontra atualmente.
Enquanto baixava as taxas de juro de referência, as Euribor seguiam a mesma tendência de tal forma que quando o BCE fixou os juros nos 0%, já os indexantes usados no grosso dos empréstimos da casa dos portugueses estavam em terreno negativo. Um cenário nunca antes visto.
Juros do BCE nos 0% após oito cortes de Draghi
Certo é que graças às sucessivas revisões em baixa dos juros de referência, os portugueses pouparam muito dinheiro nos encargos com o crédito da casa. Quando Mario Draghi assumiu os destinos do BCE, em novembro de 2011, mais de 40% (41,5%, em média) do valor da prestação da casa que as famílias pagavam ao banco correspondia unicamente a juros. Hoje, na despedida do italiano de Frankfurt, os juros correspondem, em média, a apenas 19% do valor da prestação.
Mas há famílias em que o peso dos juros nos encargos mensais é muito mais baixo, dependendo dos spreads que contrataram. Há mesmo quem esteja a ver os bancos onde fizeram o crédito à habitação devolver-lhes dinheiro na conta. Nesta situação estão aquelas famílias que contrataram spreads de tal forma baixos que a taxa de juro global associada aos respetivos empréstimos é negativa. Em causa estão créditos da casa contratados imediatamente antes da crise financeira, em que os bancos exigiam spreads muito próximos ou mesmo de 0%.
Evolução dos juros e do capital amortizado na prestação
Fonte: INE
Crédito muito barato. Mas poupanças rendem 0%
As famílias portuguesas com crédito tiveram assim muitas razões para sorrir durante o reinado de Draghi no BCE. Mas outras não poderão dizer o mesmo. Nomeadamente as que têm poupanças. Enquanto os juros de referência da Zona Euro iam caindo, o mesmo também ia acontecendo à remuneração do produto de poupança preferido das famílias: os depósitos a prazo.
Atualmente, depositar o dinheiro no banco não rende praticamente nada. A taxa de juro dos depósitos a prazo está num mínimo histórico de 0,11%, em média. Mas há bancos que não pagam mesmo nada a quem lá deposite dinheiro.
Fonte: BCE
Este cenário contrasta face à realidade que se observava no início do mandato de Draghi no BCE. Nessa altura, os bancos nacionais pagavam, em média, 4,53% pelas novas aplicações em depósitos.
Legado de Draghi vai manter-se
Tudo aponta para que o quadro ao nível do crédito e dos depósitos que se vive atualmente perdure durante algum tempo. Num contexto em que a economia da Zona Euro se apresenta débil e em que o objetivo de chegar próximo de uma taxa de inflação de 2% se encontra distante, o BCE já assumiu a disponibilidade de manter os juros em níveis historicamente baixos pelo menos até 2020.
Ou seja, boas notícias para quem tem crédito à habitação e más para quem quer rentabilizar as suas poupanças através dos depósitos.
Para os bancos qualquer dos cenários não é muito promissor. Por um lado lado, a legislação nacional não permite que os bancos repassem os juros negativos para os depositantes. Por outro lado, no crédito à habitação, são obrigados a repercutir na totalidade os juros negativos nas prestações.
Para minimizar esses efeitos negativos na sua margem financeira, os bancos estão a socorrer-se das comissões que exigem aos clientes, com estas a serem cada vez mais pesadas para as famílias.
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