Por muito amor à camisola, benfiquistas têm de vender na OPA
A Oferta Pública de Aquisição é voluntária, mas os acionistas que não vendam os seus títulos na operação arriscam não ter liquidez para o fazer depois. Mais um zombie na bolsa de Lisboa?
A bolsa de Lisboa poderá estar prestes a ter um novo zombie. O Benfica lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) parcial e voluntária às ações da SAD e o sucesso da operação implica que apenas 5% do capital fique disperso em bolsa. Além de arriscarem não conseguir vender após a OPA devido à reduzida liquidez, o prémio avultado torna quase incontornável a venda.
“Os acionistas têm sempre a opção de não vender e de fazer a OPA falhar. No entanto, o preço oferecido na aquisição (cinco euros por ação) é quase o dobro do valor a que as ações estavam a ser cotadas, pelo que esse cenário é improvável“, acredita André Pires, analista da corretora XTB.
O Benfica oferece cinco euros por cada ação que cotava no PSI Geral a 2,76 euros antes do lançamento da operação (desde então disparou, aproximando-se do valor da OPA). Mas há uma razão para o prémio de 81,1%: o clube quer compensar os acionistas que compraram na Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês), em 2001, a mil escudos.
Depois do IPO, o Benfica entrou em bolsa apenas em 2007 e o primeiro dia de negociação foi o único em que a ação superou esse valor, tendo chegado a tocar um máximo de 6,02 euros. Desde então, caiu a fundo até ao mínimo histórico de 0,32 euros em 2012. O preço médio até agora foi de 1,565 euros, o que torna o valor agora oferecido ainda mais atrativo.
Preço da ação aproxima-se da OPA
Além do prémio, os acionistas enfrentam outro incentivo: manter as ações pode ter riscos. “As pessoas que não venderem as ações ficarão com títulos a valer quase cinco euros podendo em seguida o mercado corrigir esse valor. Mas este cenário é pouco preocupante, e o próprio problema é um falso problema”, diz André Pires.
Por um lado, porque o cenário de correção é imprevisível, uma vez que as ações de clubes beneficiam de um efeito de valorização muitas vezes mais focado na apetência dos adeptos do que no valor fundamental das empresas. Segundo, porque o clube, que detém atualmente 66,9%, pretende adquirir o equivalente a 28,06% do capital da SAD, sendo que garante que não pretende tirar a empresa da bolsa, mas irá deixar lá apenas 5% do capital.
O acionista tem a opção de não vender as suas ações do free float. Reduzindo-se o número de ações disponíveis no mercado, é normal que a liquidez das mesmas seja menor e, por consequência, menos atrativa financeiramente. No entanto, a maioria dos detentores de ações da Benfica SAD serão associados do clube, a maioria deles sem o perfil do investidor tradicional.
“O acionista tem a opção de não vender as suas ações do free float. Reduzindo-se o número de ações disponíveis no mercado, é normal que a liquidez das mesmas seja menor e, por consequência, menos atrativa financeiramente“, afirma Nuno Caetano, analista da corretora Infinox. No entanto, lembra que “a maioria dos detentores de ações da Benfica SAD serão associados do clube, muitos sem o perfil do investidor tradicional”.
Nada impede o Benfica de manter apenas 5% do capital disperso em bolsa já que, como não está no índice de referência nacional PSI-20, não tem requisitos mínimos de free float. E também não é inédito.
Os anos da crise levaram a uma diminuição do número de empresas cotadas, que foram saindo da bolsa ora por via de aquisições e fusões, ora por via de falências, enquanto muitas das que ficaram no mercado de capital apresentam um nível de liquidez pouco interessante do ponto de vista do investidor.
Foram os casos da Cimpor, Luz Saúde ou, mais recentemente, BPI, que acabaram por sair da bolsa. A Toyota Caetano prepara-se para tomar o mesmo caminho. Mantêm-se ainda cotadas como a Estoril Sol, a Orey, a Media Capital, a Sonaecom, a Vista Alegre ou a Imobiliária Grão Para, que negoceiam apenas em parte das sessões.
Uma vez que o poder de voto em assembleia geral, só é concedido a sócios com participação superior ou igual a 5%, esta OPA confere ao clube a possibilidade de tomar decisões sem necessidade de realização de assembleias gerais.
Mas então, qual o interesse de manter uma empresa assim na bolsa? “A SLB SGPS poderá querer manter a SAD cotada em bolsa para estar aberta a algum investimento externo e para que o investidor sentimental continue a ser também acionista, para além de associado do clube”, considera Caetano, da Infinox.
“O objetivo da operação parece-me ser a aquisição de 95% da SAD pelo clube e de valorização das ações. Esta participação permite à SAD impedir o surgimento de um eventual investidor hostil que, por exemplo, exigisse a eleição de um administrador. Uma vez que o poder de voto em assembleia geral, só é concedido a sócios com participação superior ou igual a 5%, esta OPA confere ao clube a possibilidade de tomar decisões sem necessidade de realização de assembleias gerais“, acrescenta Pires, da XTB, apontando para a maior facilidade em eventuais emissões de obrigações.
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