Juros de Portugal e Espanha vão manter-se iguais em 2020. Commerzbank vê mais reembolsos à Europa
Dívida portuguesa teve a melhor performance entre as obrigações europeias, o que o banco alemã considera "justificado". Para 2020, vê "maior convergência" com Espanha e mais reembolsos à troika.
A dívida pública portuguesa teve, em 2019, a melhor performance entre as obrigações da Zona Euro, graças à política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e à estabilidade política no país. As yields afundaram para mínimos históricos e aproximaram-se das espanholas. Para 2020, o Commerzbank vê menor espaço para surpresas na dívida europeia, mas antecipa maior convergência entre Portugal e Espanha.
“Portugal apanhou Espanha tanto no spread [face à Alemanha] da dívida como em termos económicos”, diz o Commerzbank no outlook para o próximo ano. “Como as obrigações do Tesouro portuguesas beneficiaram das compras líquidas de ativos [do BCE] e do prémio político devido ao não contestado Governo de [António] Costa, o forte desempenho em 2019 parece-nos justificado (em termos ajustados ao risco, as obrigações do Tesouro portuguesas tiveram, este ano, o melhor comportamento em todo o universo de obrigações europeias”.
As melhorias no rating (associadas à diminuição da dívida e do défice), a par do programa de aquisições do BCE (no qual o banco central comprou, entre janeiro e novembro, 3.827 milhões de euros de títulos portugueses) e a conjuntura internacional têm sido as principais razões para a forte quebra dos juros da dívida portuguesa este ano.
Portugal teve a melhor performance ajustada ao risco em 2019
Em janeiro, as obrigações benchmark, ou seja, a dez anos negociavam com uma yield próxima de 1,8%, tendo afundado até ao valor mais baixo de sempre, nos 0,06%, em agosto. No mês seguinte, a diferença entre os juros das dívidas de Portugal e de Espanha desapareceu pela primeira vez desde a crise e os investidores passaram a pedir a mesma taxa pelos títulos dos dois países.
“Entre os países da periferia do euro, apontamos para uma maior convergência entre Espanha e Portugal, em comparação com a Bélgica, à medida que os indicadores macroeconómicos se alinham. As obrigações do Tesouro portuguesas deverão continuar a rondar a paridade face às obrigações espanholas“, sublinha o Commerzbank.
Investidores fora da Zona Euro vendem títulos portugueses
A forte quebra nas yields europeias levou 17 biliões de euros em títulos a terem mesmo juros negativos, graças à forte procura. “Os fluxos serão outro fator chave para o comportamento dos spreads no próximo ano. Os investidores internacionais têm conduzido o agressivo estreitamento deste ano, com as compras líquidas por parte de investidores estrangeiros a atingirem o valor mais elevado em mais de cinco anos”, explica o banco alemão.
Dados compilados pelo Commerzbank indicam que, no caso de Portugal, investidores fora da Zona Euro venderam dívida, enquanto os dentro do bloco reforçaram posições. Parte deste montante diz respeito às compras do banco central agora liderado por Christine Lagarde, que no próximo ano deverão manter-se em curso, apesar da tentativa de saída do programa de quantiative easing (QE) levada a cabo este ano.
Investidores internacionais revelam forte procura por dívida europeia
“É improvável que se repita, no próximo ano, o estreitamento agressivo dos spreads das obrigações do Tesouro europeias com Lagarde focada na reunião do Conselho de Governadores em vez de reavivar as expectativas do QE, na ausência de riscos de recessão. Os spreads parecem prontos a oscilar mais dado do mix em curso de procura por yield e o substancial apoio e duração do fluxo de compra de ativos”, refere o outlook.
O Commerzbank antecipa que as Bunds alemãs a dez anos tenham uma yield entre -0,1% e -0,6% ao longo de 2020 (face aos atuais -0,30%). Sobre os vários países, antecipam também que a Grécia beneficie de melhorias no rating, podendo passar a ser integrada no programa de compra de ativos do BCE.
Mais reembolsos e trocas de dívida portuguesa em 2020
No total, o banco antecipa que haja 100 mil milhões de euros mensais em dívida elegível para o programa do BCE, que resulte na compra de 60 mil milhões de euros. “Pondo a oferta estável na perspetiva do QE revela um padrão de procura/oferta muito favorável em 2020”, diz.
Já a nível supranacional, a equipa de research do banco antecipa que o Mecanismo Europeu de Estabilidade e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira tenham um “ligeiro deslize” na diferença entre dívida emitida e a que atinge a maturidade (para 27,5 mil milhões de 30 mil milhões) “como resultado do perfil de reembolsos dado que a oferta líquida deverá continuar estável”.
Entre as dívidas que poderão ser parcialmente pagas está a de Portugal. Depois de pagar todo o empréstimo do Fundo Monetário Internacional, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP pagou, em outubro, o primeiro reembolso antecipado aos credores europeus da troika, de dois mil milhões de euros. A estratégia deverá manter-se no próximo ano.
“O alisamento do perfil de dívida será o foco do IGCP no próximo ano. A par dos reembolsos em curso ao FEEF, apontamos para um nível mais elevado de recompras de dívida para fazer face a significante curva de reembolsos em 2021 e 2022″, acrescentou o Commerzbank sobre Portugal.
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