Banco de Portugal vê economia a crescer 1,7% em 2020, menos que o Governo

Subida do salário mínimo vai ajudar procura interna, que sustentará crescimento económico no próximo ano, diz o Banco de Portugal. Ainda assim, o banco central está menos otimista que o Governo.

O Banco de Portugal melhorou a perspetiva para o crescimento da economia portuguesa do próximo ano, apontando para um crescimento de 1,7% em vez dos 1,6% que previa em junho, à boleia do maior contributo da procura interna perante a subida do salário mínimo nacional para os 635 euros. Ainda assim, o banco central está mais pessimista que o Governo, que no Orçamento do Estado para 2020 vê o PIB a crescer 1,9%.

A economia deverá crescer 2% este ano, em linha com a anterior previsão, encontrando-se já em fase de desaceleração que continuará ao longo dos próximos anos, diz o Banco de Portugal no Boletim Económico de dezembro, publicado esta terça-feira. Como o anterior Boletim Económico de outubro não incluía a projeção para a economia nacional no próximo ano, as comparações das previsões para 2020 são feitas em relação ao boletim apresentado em junho.

Assim, para o próximo ano, a melhoria da projeção de crescimento económico em 0,1 pontos percentuais explica-se essencialmente com o maior contributo da procura interna: será de 1,3 pontos percentuais (p.p.) em vez dos 1,1 p.p. inicialmente projetados em junho. O Boletim Económico de dezembro incorpora já a atualização do salário mínimo nacional, que subirá dos 600 euros para os 635 euros no próximo ano.

O maior dinamismo da procura interna vai compensar a deterioração das condições externas, como as “tensões protecionistas, aumento da incerteza, fatores associados a economias asiáticas e indústria automóvel“, aponta o Banco de Portugal. Estas razões levam a instituição a piorar a sua estimativa para o crescimento das exportações. As vendas ao exterior deverão crescer menos em 2020: 2,6% em vez dos 3,1% projetados em junho. Neste cenário, o contributo da componente exportações para o crescimento do PIB no próximo ano será de 0,4 p.p. em vez dos 0,5 p.p..

“O enquadramento externo da economia portuguesa tornou-se menos favorável em 2019, perspetivando-se uma recuperação modesta do ritmo de crescimento do PIB e do comércio mundiais ao longo do restante horizonte de projeção. No entanto, existe incerteza em torno desta recuperação, em particular do comércio mundial”, diz o Banco de Portugal em comunicado.

Desemprego diminui menos

Em relação ao mercado de trabalho, as projeções para 2020 e 2021 são mais modestas, sobretudo em termos de redução da taxa de desemprego. Ainda assim, o Banco de Portugal considera que o país chegará a 2022 com um nível de desemprego “historicamente baixo”, registando nesse ano uma taxa de 5,6%.

Enquanto a taxa de desemprego fecha este ano nos 6,3% — ainda assim, melhor do que a taxa de 6,4% prevista em outubro –, nos anos a seguir há uma revisão em alta da projeção: em 2020 a taxa de desemprego diminuirá para 5,9% em vez dos 5,7%; em 2021, em vez dos 5,3%, a taxa de desemprego descerá apenas 0,1 pontos para 5,6%, mantendo-se nesse nível no ano seguinte.

Em relação à criação de emprego, o Banco de Portugal mantém os crescimentos para 2020 e 2021: 0,8% no próximo ano e 0,4% no ano seguinte, mantendo-se as previsões anunciadas em junho. Para 2022, o crescimento do emprego será quase nulo: 0,1%.

Neste cenário, o banco central prevê salários nominais com crescimentos superiores aos dos últimos anos, antecipando que subam mais do que a produtividade.

Ciclo económico maduro

O Boletim Económico de dezembro traz novas projeções para o ano de 2022, que basicamente consolidam o cenário de desaceleração da economia portuguesa “em resultado de um processo de maturação do ciclo económico — observado igualmente noutras economias avançadas”, fase em que os níveis de crescimento se aproximam do ritmo de crescimento potencial.

De acordo com o banco central, a economia crescerá 1,6% em 2022, mantendo a expansão registada em 2021.

O Banco de Portugal aponta para vários constrangimentos estruturais que pesam sobre o crescimento potencial — que corresponde basicamente à elevada utilização dos recursos de uma economia — tais como a “evolução demográfica adversa e dimensões que condicionam o crescimento da produtividade por trabalhador“.

Por isso, “estas condicionantes devem constituir os principais eixos de ação política económica, merecendo destaque as medidas que promovam o aumento da produtividade”, assinala o banco central. “Num contexto de limitações aos aumento da oferta de trabalho, a produtividade torna-se o fator crucial de crescimento da economia portuguesa e da sua resiliência face aos desafios da próxima década, onde se incluem também a rápida transformação tecnológica em curso e a sustentabilidade ambiental”, acrescenta a instituição.

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