Empresários nacionais temem ataques cibernéticos e crises fiscais. Ignoram riscos climáticos

Empresários portugueses não parecem assim tão preocupados com os riscos associados às alterações climáticas. Crises fiscais assustam mais.

Ao contrário da tendência global, os empresários portugueses não parecem assim tão preocupados com os riscos associados às alterações climáticas e à necessidade urgente de uma transição energética, como acontece noutros países do mundo.

No estudo “Regional Risks for Doing Business”, também do World Economic Forum, em parceria com a Marsh & McLennan e o Zurich Insurance Group, é identificado o top 5 dos riscos regionais dos negócios percecionados pelos empresários em Portugal, que destaca como as maiores ameaças a “bolha de ativos”, “falhas no mecanismo financeiro ou institucional”, “falha de governance nacional”, “ataques cibernéticos” e “crises fiscais”.

Uma lista de preocupações por parte das empresas nacionais que não coincide com os resultado do mais recente Global Risks Report do World Economic Forum, apresentado esta quarta-feira e que identifica as alterações climáticas no topo das preocupações das empresas e dos seus stakeholders (investidores, reguladores, clientes e colaboradores).

Mais: pela primeira vez, na perspetiva a 10 anos apresentada pelo estudo (ou seja até 2030), os cinco riscos globais mais temidos são, todos eles, ambientais. De acordo com o World Economic Forum, confrontos económicos, polarização da política interna, ondas de calor extremas, destruição de ecossistemas e ataques cibernéticos são as dificuldades a ultrapassar já este ano.

“O Global Risks Report deste ano não menciona Portugal, ainda que, para a preparação dos resultados apresentados, seja mencionado o estudo regional lançado em novembro de 2019 e para o qual foi solicitada a participação de vários líderes de empresas portuguesas a dar nota dos principais riscos que poderiam afetar os seus negócios”, explicou ao ECO Fernando Chaves, especialista de risco da Marsh Portugal.

No entanto, e na sua opinião Portugal está bem representado no relatório para 2020 através do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, com a menção ao seu alerta mundial no final de 2019 de que estamos a atingir o “ponto de não-retorno” nas alterações climáticas.

“Destacamos esta frase do relatório dado que os riscos ambientais têm um forte destaque este ano, não apenas no top 5 como na interconexão com outros riscos globais ou regionais, como têm sido os casos das ondas de calor na Europa e a perda rápida de gelo no Ártico. A Europa é também mencionada no campo dos riscos de natureza económica, tecnológica ou até no capítulo dedicado aos Serviços Nacionais de Saúde, onde é mencionada a necessidade de uma adaptação até 2080 à forte exposição a doenças transmitidas por mosquitos”, diz Fernando Chaves.

European Green Deal é exemplo a seguir pelo resto do mundo

Já Edgar Lopes, Chief Risk Officer da Zurich Portugal destaca a representatividade que o território europeu tem no total da amostra recolhida: 44,42%. Talvez por isso mesmo, o novo Pacto Ecológico Europeu apresentado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está em grande destaque no Global Risks Report 2020.

“O estudo destaca o European Green Deal como uma iniciativa relevante para a política europeia, uma vez que prevê reavaliar a economia europeia e dos países da União Europeia à luz dos atuais riscos ambientais. No entanto, esta medida política não pode ser dissociada do aumento de sensibilidade dos cidadãos perante as alterações climáticas e do ativismo ambiental juvenil e empresarial, também revistos no relatório. Esta conjuntura está a acelerar as políticas públicas no sentido de atingirmos uma economia de baixo carbono”, acrescenta Edgar Lopes.

Na leitura da Marsh Portugal, no capítulo dedicado às alterações climáticas, uma das recomendações alerta para a necessidade serem assinados contratos verdes com a sociedade e, como exemplo disso, é referido o Green Deal, lançado pela União Europeia, “uma macro-região de Estados comprometidos com o corte de benefícios existentes a algumas indústrias e incentivos para políticas de implementação imediata, por parte dos agentes económicos, sendo um dos pilares de um continente que quer ser o primeiro com impacto neutro no clima até 2050”.

Nova revolução industrial obriga empresas a reduzir pegada carbónica

Às empresas, tanto a Marsh Portugal como a Zurich Portugal, deixam várias dicas e conselhos para minimizar os impactos diretos das alterações climáticas nos seus negócios. Os próximos anos, garantem, serão extremamente desafiantes.

“Ao entrar numa Quarta Revolução Industrial, os decisores e gestores de risco devem ser muito hábeis a pesar o seu investimento na resposta rápida à redução da sua pegada carbónica, tal como a UE incentiva; devem também responder à procura de produtos e embalagens ecológicas; repensar as infraestruturas próprias e as dos seus principais parceiros, caso estejam em locais mais vulneráveis às alterações climáticas, para garantir maior resiliência dos seus negócios; controlar o impacto dos diferentes riscos ambientais no custo e quantidades de matérias-primas; avaliar o impacto na saúde dos colaboradores e nos níveis de absentismo, ajudando-os a ter maior qualidade de vida e serviços de suporte”, aconselha Fernando Chaves.

E tudo isto, sublinha, num cenário de forte abrandamento da economia global, do investimento direto no estrangeiro e na alteração de acordos globais para acordos bilaterais, ou até implementação de sanções ou agravamento de taxas.

Para Edgar Lopes, as empresas devem apostar na resiliência climática. “A interconexão e a complexidade dos riscos globais são reais e estão para ficar. Tendo com conta as conclusões do estudo é necessário que as empresas conheçam a sua exposição ao risco. A passagem à ação não pode ser muito morosa. Já só temos até 2030, ou seja, 10 anos, para garantir a transição para uma economia de baixo carbono”, remata.

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