Custo do crédito às empresas caiu para quase um terço face à crise de 2008

Juro médio dos empréstimos às empresas foi de 1,2% em 2019, quase três vezes abaixo das taxas praticadas durante a crise financeira de 2008.

Nunca as empresas portuguesas se financiaram junto dos bancos a um custo tão baixo. Comparando com a crise financeira de 2008, a taxa de juro praticada no crédito às empresas é cerca de três vezes inferior nos dias de hoje. “O problema não é o custo do dinheiro”, disse Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), no Parlamento esta semana, questionado sobre a resposta da banca à crise do coronavírus.

Os dados permitem perceber como as circunstâncias mudaram significativamente da anterior crise financeira para esta crise — desta vez o problema não tem origem no setor financeiro. E ajudam a contrariar um pouco as críticas que têm sido dirigidas à banca, nomeadamente em relação ao custo do crédito. “Não podem querer lucrar com a crise”, atirou Rui Rio, presidente do PSD, há poucas semanas.

Em 2008, ano em que a crise do subprime atingiu o auge com a falência do Lehman Brothers, a taxa média do financiamento às empresas situou-se nos 6,1% em Portugal, de acordo com um estudo interno da CGD a que o ECO teve acesso. Era uma taxa que refletia o stress dos mercados interbancários, a desconfiança entre os bancos e até a lentidão do próprio Banco Central Europeu (BCE) a reagir aos efeitos da turbulência financeira — só no quarto trimestre do ano começou a descer a taxa de juro de referência, que estava acima dos 4%.

Este custo manteve-se elevado nos anos da crise da dívida soberana, quando os bancos aumentaram consideravelmente os spreads face ao elevado nível de alavancagem e de o mercado de dívida ter fechado a torneira ao país.

O cenário mudou bastante até hoje. Em 2019, o juro médio dos empréstimos às empresas caiu para 1,2%. Isto acontece por vários fatores. O BCE atirou as suas taxas para terreno negativo nos últimos anos, num esforço para estimular a economia. A República consegue-se financiar a juros razoáveis, à volta de 1%, embora os custos venham a agravar-se nas últimas operações de financiamento. Os bancos, desta vez com liquidez em excesso que lhes penaliza o balanço, estão mais do que interessados em emprestar com adequado critério de risco.

“Nesta crise, todos os bancos querem dar crédito”, notou Paulo Macedo na comissão parlamentar.

Custo do crédito às empresas 2008-2019

Fonte: Estudo interno do CGD

O que se passa no crédito às empresas também se passa no mercado à habitação. Há dez anos, quem pedisse um empréstimo para comprar casa facilmente pagaria uma taxa de juro acima de 6,1%. Em 2019, a taxa média dos empréstimos à habitação era apenas 1,2%.

Custo do crédito à habitação 2008-2019

Fonte: Estudo interno da CGD

Financiamento a taxas negativas?

Muitas das críticas lançadas aos bancos nas últimas semanas têm a ver com as linhas de crédito Covid que beneficiam de garantia do Estado. Quem aceder a estas linhas poderá ter de pagar uma taxa de juro a rondar os 3%. Isto quando os bancos conseguem aceder a financiamento junto do BCE a taxas negativas: -0,75%. Se isto é verdade, a história não está toda contada.

Em relação à taxa de 3%, em causa estão vários encargos: taxas de spread entre 1% a 1,5%, acrescidas de uma comissão de gestão do processo de crédito até 0,25%; e ainda uma comissão de garantia cobrada pela sociedade de garantia mútua.

Sobre o financiamento junto do BCE, Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, explicou que o banco central é apenas uma de várias fontes onde os bancos se financiam.

“O BCE representa 6% da estrutura de financiamento do sistema bancário. Esta estrutura é basicamente constituída pelos depósitos, que andam à volta dos 66% e 67%, e que têm uma taxa média anualizada de 0,16% e para as novas operações uma taxa média de 0,8%. Depois têm uma parte significativa de instrumentos de subordinação para fazer face a requisitos de capital e MREL, em que se cobram taxas superiores a 6%. Depois têm os níveis mínimos de capital e o custo de capital que é superior a 10% e representa mais do que o financiamento do BCE”, disse Faria de Oliveira em entrevista à Rádio Observador. “Isto atira para uma taxa superior a 1% para o sistema bancário”.

Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander, adiantou no Parlamento que o financiamento junto do BCE é limitado à dimensão do banco e que as instituições financeiras têm de cumprir requisitos de injeção de dinheiro à economia para atingir a taxa de juro mínima de -0,75%.

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