Lojas de centros comerciais acusam senhorios de “falta de solidariedade”
Os lojistas dos centros comerciais alertam para as despesas que têm de continuar a pagar, mesmo estando fechados. Por cada 175 mil euros de prejuízo nas lojas, os senhorios têm apenas 1.000 euros.
A Associação de Marcas de Retalho e Restauração (AMRR) acusou esta sexta-feira os senhorios de “falta de solidariedade” para com os arrendatários, argumentando que por cada 175 mil euros de prejuízo os proprietários têm apenas 1.000 euros.
Trata-se de um “desequilíbrio insuportável” para quem está há mais de dois meses (desde 15 de março) proibido de realizar a sua atividade comercial por determinação do Governo, no âmbito das medidas aplicadas contra a pandemia, refere a AMRR em comunicado. Esta conclusão consta de um estudo, que tem por base os dados contabilísticos de abril dos associados, que ascendem a mais de 1.400 lojas em Portugal, incluindo as ilhas.
A recolha de dados contabilísticos das empresas refere-se a abril deste ano, tendo o inquérito sido enviado a lojistas associados da AMRR e seus franchisados, com as respostas a serem dadas por telefone ou por meios eletrónicos entre 12 e 19 maio, sendo que houve uma taxa de rejeição de um dos inquéritos enviados por meios eletrónicos por não estar completo.
O documento refere ainda que o Governo, “e bem”, mandou encerrar as lojas não alimentares desde meados de março deste ano, devido à situação, mas lamenta o facto de a legislação ter trazido “uma proteção desmesurada” aos senhorios de lojas, seja em centro comercial seja na rua. A associação refere ainda que “as despesas comuns” dos centros comerciais continuaram a ser pagas pelos lojistas mesmo em tempo de confinamento.
O estudo elaborado pela AMRR para se quantificar em euros “a enorme discrepância e desigualdade” que a lei veio trazer explica que por sacrifícios se entendem “os custos que cada parte tem que suportar e não os lucros que cada parte gostaria de ter”. Para a AMRR é “urgente corrigir-se o enorme desequilíbrio” criado pela legislação, quando todos os agentes económicos “estão a ser chamados a responder a um desígnio quase patriótico de promover uma rápida retoma económica”.
A associação exige aos senhorios uma maior participação no esforço exigido aos lojistas, bastando que para tal “aceitem a isenção de pagamento de rendas”, enquanto “as lojas estiverem fechadas” por decisão do Governo. E prossegue: “As contas são fáceis de fazer e os resultados não podiam ser mais demonstrativos da falta de solidariedade dos senhorios com os lojistas”.
Os lojistas alegam ainda que o encerramento das lojas não significa que não existam despesas por parte dos operadores económicos. “Além das rendas (33% da despesa média de cerca 75 mil euros — nos dois meses e meio de encerramento), os lojistas pagam aos colaboradores (28%), incluindo os do lay-off, a mercadoria perdida (16%), os custos fixos (14%) e suportam outras despesas (9%)”, lê-se no documento.
No atual contexto, a AMRR considera que as empresas gestoras dos centros comerciais também devem ser incluídas neste esforço, numa “demonstração clara e inequívoca” de empenho na recuperação da atividade económica.
Apesar de os dados apresentados serem relativos apenas a lojas de comércio, não incluindo os serviços (exemplo manicure) e restauração, a AMRR refere que alguns dos dados recolhidos e não utilizados no estudo permitem concluir que nos serviços as conclusões “são muito semelhantes” às exportas no documento e que na restauração o “cenário é pior”, pois apresentam depreciações de produtos superiores ao comércio em geral.
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