Covid-19 obriga Galp a reajustar investimentos. Renováveis são prioridade máxima

A petrolífera portuguesa está neste momento a ultimar a sua entrada no futuro projeto de produção de hidrogénio verde em Sines, sabe o ECO/Capital Verde.

A transição energética é uma oportunidade ou uma ameaça para as empresas de petróleo e gás? Na conferência Go Net-Zero Carbon Energy Vitual Summit, Susana Quintana-Plaza, membro da Comissão Executiva da Galp Energia e administradora com os pelouros das Renováveis e Novos Negócios, revelou que o segredo passa por “não colocar todos os ovos no mesmo cesto”. Ou seja, apostar em áreas de negócio muito diversificadas, como a eletricidade, petróleo e gás, solar e outras renováveis, e combustíveis de nova geração, como o hidrogénio verde.

O ECO/Capital Verde sabe que a entrada da Galp no projeto luso-holandês para criar uma unidade industrias de hidrogénio em Sines está neste momento a ser ultimada e será anunciada oficialmente em breve. Também este mês a Comissão Europeia deverá revelar a sua Aliança para o Hidrogénio Limpo, uma parceria entre vários países europeus, entre eles, Portugal e a Holanda, e o seu projeto conjunto Green Flamingo.

O desafio adicional da pandemia da covid-19 foi também debatido na mesma conferência, sobretudo o impacto da crise na capacidade de investimento das empresa. “Esta crise teve um grande impacto em todas as empresas. Não há dúvida de que todos temos menos capital para investir e temos de ser mais cautelosos e seletivos. No entanto, a Galp tem muita flexibilidade no investimento para os próximos anos. Haverá um grande reajuste das prioridades no investimento. Não cancelámos nenhum projeto mas adiámos alguns. Há coisas que não foram adiadas: os investimentos nas energias renováveis e na produção descentralizada de energia e em tecnologias de informação para atualizar todos os sistemas da empresa”, disse Susana Quintana-Plaza.

As renováveis são um negócio muito, muito rentável, mesmo nos dias de hoje e com os riscos associados a estes projetos. A Galp não cancelou nenhum projeto mas alterou um pouco o calendário de investimentos”, revelou. Ainda assim, “o compromisso para a descarbonização mantém-se”, disse a administradora.

O segredo, acredita, está numa gestão inteligente do portfólio que se quer diversificado, interessante e inovador. “Não temos dúvidas em relação às energia renováveis, é algo que discutimos semanalmente no comité executivo. Este é o novo mundo da energia. Já não somos nós que o vamos moldar. Temos de encontrar mercados e negócios onde possamos dar a nossa contribuição. Somos nós que nos temos de adaptar. Temos de ser muito seletivos no que investimos ou não investimos. Temos de garantir que fazemos poucas apostas, mas muito claras”, disse a gestora no painel de debate.

É desta forma que a Galp, diz Susana Quintana-Plaza, tem mantido “um crescimento mais rápido do que a concorrência”. A petrolífera portuguesa tem vindo a reforçar investimento nas renováveis e tornou-se, em 2020, no maior player de energia solar da Península Ibérica. “Não interessa as tecnologias que temos, mas sim que o que estamos a fazer diferente dos outros”.

Galp é das petrolíferas que mais investirá em renováveis até 2025

De acordo com um estudo recente da consultora especializada Rystad Energy, a Galp é a segunda petrolífera no mundo, a par da espanhola Repsol, que mais investirá em projetos de energias solares e eólicas até 2025. A Galp anunciou que vai direcionar um quarto dos seus planos de investimento para “iniciativas verdes”, diz a análise da consultora, enquanto a Repsol assumiu o compromisso de dedicar 600 milhões de euros a três projetos renováveis já este ano.

Em primeiro lugar do ranking está a norueguesa Equinor, que nos próximos três anos irá investir 10 mil milhões de dólares (dos quais 6,5 mil milhões no portefólio eólico offshore). Ou seja, a empresa controlada pelo Estado norueguês será responsável por 55% dos 18 mil milhões de dólares que as principais petrolíferas mundiais preveem investir.

“Se necessário, devido à pandemia de Covid-19, uma redução de 20% do investimento das petrolíferas podia ser conseguida sem implicar cortes nos projetos renováveis. A Galp e a Shell são as mais expostas a potenciais cortes nos investimentos em renováveis, no entanto, estas empresas não deverão fazer investimentos significativos no imediato. Não antes de 2024/2025, no caso da Galp”, refere a Rystad Energy.

Em fevereiro, no Capital Markets Day, o CEO da petrolífera, Carlos Gomes da Silva, repetiu a ideia de que mais de metade dos investimentos, na próxima década, estarão relacionados com transição energética e energias renováveis. “Vamos a abraçar as oportunidades de transição energética”, garantiu Gomes da Silva, no encontro com investidores em Londres.

A Galp Energia prevê investir, em média, entre mil milhões e 1,2 mil milhões de euros por ano até 2022, sendo que mais de 40% serão dedicados a capturar oportunidades relacionadas com a transição energética. Outros 10% a 15% serão alocados a projetos de geração elétrica de base renovável e novos negócios.

A aposta nas renováveis traduz-se também numa reorganização das unidades de negócio. A nova estrutura consiste em quatro unidades de negócio: uma área de upstream (inalterada); uma área de refinação&midstream, que incorpora os negócios de refinação e logística, as atividades de aprovisionamento e trading de oil, gás e eletricidade; uma unidade comercial, integrando toda a oferta de produtos e serviços da Galp para todos os clientes, e uma unidade de Renováveis & Novos Negócios. A esta última, sob a alçada de Susana Quintana-Plaza, Gomes da Silva chamou de “o novo bebé” da Galp.

A empresa já começou a investir neste segmento, tendo anunciado em janeiro a compra de uma empresa de energia solar em Espanha, por 450 milhões de euros, a Zero-E, que tem uma capacidade de geração de energia total de 2,9 gigawatts e o acordo inclui mais de 900 megawatts de capacidade de geração recentemente comissionada. Gomes da Silva deixou a porta aberta a novas aquisições com o objetivo de diversificar portefólio, reduzir a pegada carbónica, alagar a oferta comercial aos clientes e responder a novas formas de lucro.

“Vai depender dos projetos que encontrarmos e se se enquadram nos nossos critérios de investimento, que se vão manter restritos“, explicou. A expectativa é que a capacidade instalada solar atinja 3,3 GW até 2023 e os retornos acionistas esperados deste portefólio situam-se acima dos 10%.

“Começámos com o solar fotovoltaico, mas isso não significa que não estejamos a olhar para outras tecnologias”, acrescentou, lembrando que no total de renováveis, o objetivo é chegar a 10 GW até 2030, começando pela Península Ibérica. A perspetiva é alargar o foco a outras geografias e a empresa está à procura de parceiros.

O reposicionamento irá resultar, na perspetiva da petrolífera, num aumento do valor gerado e reforço da resiliência em relação à volatilidade dos preços do petróleo. Em 2025, a Galp espera que o gás pese 30% no total da atividade, tendo Carlos Gomes da Silva feito referência à produção de hidrogénio verde.

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