Acordo histórico na UE dá ganhos às bolsas, dívida e euro. Só não quebra rally do ouro

Investidores celebraram a decisão tomada no Conselho Europeu de reforçar o poder de fogo para responder à crise. As bolsas europeias e o euro valorizaram, enquanto os juros das dívidas recuaram.

Após mais de 90 horas de intensas negociações, os líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) fecharam um acordo histórico. O acordo que engloba um pacote total superior a 1,8 biliões de euros para apoiar a recuperação da crise provocada pela Covid-19 está a animar os mercados: as bolsas europeias subiram para máximos anteriores ao início da pandemia e os juros da dívida dos vários países recuaram.

“Boas notícias para a União Europeia. Após duras negociações, os líderes europeus chegaram finalmente a um acordo histórico para o Fundo de Recuperação e o Orçamento de 2021-2027. O acordo foi possível devido a uma redução das subvenções, uma maior condicionalidade e um aumento dos cheques compensatórios“, dizem os analistas do Bankinter, numa nota de research divulgada esta terça-feira.

O novo quadro financeiro plurianual terá 1,074 biliões de euros, enquanto o Fundo de Recuperação terá outros 750 mil milhões. Este valor acordado pelo Conselho Europeu é o mesmo que tinha sido proposto pela Comissão Europeia, mas houve ajustes nos montantes concedidos sob a forma de subsídios e empréstimos, que era o principal ponto de discórdia.

O valor a conceder a fundo perdido diminuiu para 390 mil milhões (de 500 mil milhões), enquanto os empréstimos passam para 360 mil milhões de euros (de 250 mil milhões). O dinheiro do fundo de recuperação, apelidado de “Próxima Geração UE”, será financiado através da emissão conjunta de dívida através da Comissão Europeia nos mercados financeiros.

Euro, ações e dívidas refletem acordo

“Pela primeira vez na história da UE será emitida dívida conjunta para lançar um programa de transferências diretas desde o cofre central até aos países mais necessitados. Esperamos um impacto positivo nas bolsas, no euro e um estreitamento do spread dos países periféricos“, sublinha o Bankinter.

A reação foi exatamente essa: o euro ganhou força e tocou máximos de 9 de março, a valer 1,149 dólares. Os mercados acionistas negociaram em forte alta ao longo da manhã, mas acabaram por desacelerar no fim da sessão. O DAX alemão — que chegou a ficar acima da linha de água no acumulado do ano, mas fechou abaixo desse limiar — ganhou 1%. O Stoxx 600 subiu 0,32%, o francês CAC 40 avançou 0,22%, o italiano FTSE MIB somou 0,45% e o espanhol IBEX 35 valorizou 0,20%.

Em Portugal, a bolsa de Lisboa acompanhou o sentimento. O índice PSI-20 subiu 0,27% para 4.545,81 pontos, com a ajuda da Galp Energia, que subiu 2,76% para 10,62 euros. Outros “pesos-pesados” como a EDP ou Nos, bem como as cotadas do setor do papel e pasta de papel também fecharam no verde. Em sentido contrário, a Jerónimo Martins perdeu 1,04% para 14,80 euros, o BCP cedeu 0,73% e a EDP Renováveis deslizou 0,42%.

Lisboa segue ganhos da Europa, mas à distância

Já na dívida, os juros dos países periféricos aliviaram ainda mais. A yield das obrigações portuguesas a dez anos negoceia em 0,377% (o valor mais baixo desde 9 de março), enquanto as de Espanha e de Itália com a mesma maturidade recuam para 0,365% e 1,16%.

Em sentido contrário, o juro das Bunds alemãs, o barómetro de risco na Europa, sobe ligeiramente após a decisão. Apesar de continuar negativo, situa-se em -0,459%, mais 40 pontos base que na última sessão.

“Da perspetiva positiva, o facto de os líderes dos governos terem negociado até encontrar um acordo e não terem simplesmente adiado a decisão mostra que têm sentido de urgência. Além disso, o facto de a Alemanha e França terem trabalhado em conjunto reforça a convicção do mercado em mais integração. De uma perspetiva negativa, o difícil compromisso estraçalhou a porcelana política e nem sempre passou um sinal forte de unidade“, apontam os analistas do ING Bert ColijnSenior e Carsten Brzeski.

Rally do ouro não perde força

Só o tempo irá mostrar aos mercados financeiros qual das duas narrativas vai tornar-se dominante“, dizem. Apesar de considerarem que se mantém a dúvida sobre a mensagem que os líderes europeus passaram ao mercado, sublinham que, de qualquer forma, importante é que esta nova bazuca vai reforçar o poder de fogo da União Europeia, juntando-se à do Banco Central Europeu (BCE).

A instituição liderada por Christine Lagarde tem em vigor um pacote de emergência com 1,35 biliões de euros só para responder ao impacto do vírus na economia europeia (além de outros programas que já estavam em curso e foram ajustados). Mas esta decisão alivia a pressão sobre o BCE.

O entusiasmo com o acordo não está, no entanto, a refrear o apetite pelo ouro. O metal precioso quebrou uma nova barreira psicológica (dos 1.840 dólares por onça), e o preço à vista vai já em 1.842 dólares por onça (em máximos de 2011), mantendo a tendência de subida das últimas semanas.

“Podemos atribuir este acontecimento ao enfraquecimento do dólar ou ao acordo alcançado pela UE, mas a realidade é bastante simples: há muito mais compradores do que vendedores. Apesar das bolsas de valores estarem, uma vez mais, em verde, os investidores procuram um paraquedas na eventualidade de futuros colapsos das bolsas e, por isso, estão a comprar ouro como seguro”, explica a ActivTrades.

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