Portugal 100% neutro em carbono por um dia. Num ano, BP quer compensar dois milhões de toneladas de CO2

Para mitigar a totalidade das emissões dos combustíveis que vende em Portugal, a BP vai adquirir créditos de carbono lá fora. Aos preços atuais, a fatura desta compensação seria de 54 milhões de euros

Esta quarta-feira, 22 de julho, Portugal será 100% neutro em carbono. Durante 24 horas, não serão lançados para a atmosfera 27.000 kg de CO2, de um total de cerca de 20 milhões de toneladas de gases poluentes que todos os anos o país emite. Este é o objetivo assumido pela petrolífera BP para marcar o arranque do projeto pioneiro Drive Carbon Neutral, lançado pela empresa em Portugal e único em todo o mundo: ser a primeira marca de combustíveis a compensar, durante 12 meses, a totalidade das emissões de CO2 dos abastecimentos dos seus clientes de todos os tipos de combustível de gasolina, gasóleo e GPL. No início do ano, a petrolífera tinha já assumido o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050.

Tendo chegado em 2020 à marca de 500 postos de abastecimento no país, a BP estima que num ano os combustíveis que vende em Portugal sejam responsáveis por dois milhões de toneladas de carbono (o equivalente a 400.000 carros a circular nas estradas), e é isso que propõe compensar a partir desta data, através da compra de créditos de carbonos gerados a partir de projetos globais que financiam a utilização de energias renováveis, baixo carbono e a proteção das florestas, no âmbito do programa global da empresa BP Target Neutral.

A empresa não revela o valor investido em créditos de carbono neste projeto de compensação de emissões em Portugal (que depende muito da data de aquisição e da capacidade negocial da BP no mercado), mas nos últimos 14 anos já gastou mais de 24 milhões de euros para mitigar 6 milhões de toneladas de carbono. Os futuros dos créditos de carbono negociavam, esta terça-feira, 26,85 euros por tonelada de CO2 no mercado europeu, de acordo com dados da Reuters. Só para dar um exemplo, e fazendo as contas a este valor indicativo, para compensar estes dois milhões de toneladas de CO2 em Portugal a BP teria de desembolsar quase 54 milhões de euros.

Pedro Oliveira, presidente da BP Portugal, confirmou apenas que se trata de um investimento “assustadoramente elevado”, que não será refletido nos preços dos combustíveis vendidos em Portugal. Ou seja, saber que se vai poluir menos quando se enche o depósito na bomba não sairá mais caro aos clientes.

Para a petrolífera, além da taxa de carbono paga através do ISP, a mitigação das emissões através de créditos de carbono devia ser “obrigatório por lei” para toda a indústria petrolífera, quase como uma “licença para operar“, defendeu o presidente da BP Portugal, num encontro com jornalistas. No entanto, para já, não existam programas de compensação de emissões de carbono certificados em Portugal, um cenário que querem reverter.

“O que é preciso para esta iniciativa ser bem-sucedida? Sermos um elemento de tração para o mercado e que todos os operadores façam a mesma coisa, incorporem na sua proposta de valor as externalidades associadas às emissões na mobilidade, que representa apenas 25% das emissões, face à área residencial (40%), industrial (35%). O transporte privado representa 5 a 7% das emissões do mundo”, diz o responsável da BP em Portugal.

Fogões eficientes no México e plantação florestal na Zâmbia compensam emissões

E se neste momento os créditos de carbono comprados são provenientes apenas de projetos lá fora (sobretudo na América Latina e em África), um dos grandes objetivos da BP é ver nascer em Portugal um projeto que cumpra todos os requisitos e possa ser elegível para este programa. “Queremos muito que isto aconteça e vamos trabalhar para isso. Seria a cereja no topo do bolo”, diz Pedro Oliveira, garantindo que a empresa está recetiva a todos os projetos nacionais que queiram apresentar as suas candidaturas ao programa BP Target Neutral para virem a ser apoiados pela petrolífera.

“Têm de ser projetos certificados, incrementais (que não estejam já em pipeline), sem fins lucrativos, que comprovadamente reduzem emissões e melhoram qualidade de vida das populações, que emitem os seus créditos de carbono que são depois comorados pela BP”, frisou o responsável.

Para já, o projeto vai incluir as emissões de todos os veículos particulares, mas os clientes com frota empresarial ficarão de fora, já que o projeto não inclui os combustíveis adquiridos através dos cartões BP Plus. Para contribuírem para a compensação das suas emissões, diz Pedro Oliveira, presidente da BP Portugal, “os condutores não precisam de subscrever, comprar um combustível especial ou aderir a um programa de fidelização”

“Sabemos que os nossos clientes desejam reduzir as emissões de carbono, mas também sabemos que há momentos em que precisam de conduzir para o trabalho, ir às compras ou para visitar amigos e familiares. O programa Drive Carbon Neutral ajuda-os a desempenhar o seu papel na jornada do mundo para a neutralidade carbónica. Hoje estamos a compensar o equivalente às emissões de todos os condutores particulares em Portugal. A partir de amanhã, apenas estará disponível para condutores que abasteçam na BP”, disse o responsável, acrescentando: “Hoje a BP paga a festa toda, a partir do dia seguinte será só só para para os seus convidados”.

A ideia é acelerar a redução de emissões onde é mais fácil e eficaz. “Reduzir emissões é sempre bom, não vale a pena discutir. Reduzir emissões é fácil, mas reduzir emissões sem comprometer a qualidade de vida é difícil, sobretudo na mobilidade. O conteúdo energético de uma unidade de combustível fóssil na mobilidade é algo que ainda é muito difícil de substituir de maneira económica e sustentável. O grande adversário à redução das emissões na mobilidade é a força do conteúdo energético do combustível fóssil, a sua transportabilidade, a logística associada”, disse Pedro Oliveira num encontro com jornalistas.

A diretora internacional do BP Target Neutral, garante que os créditos de carbono usados para compensar as emissões dos combustíveis vendidos em Portugal “provêm de projetos de redução de carbono que são verificados e selecionados de forma independente por um painel de ONG. Ao longo dos últimos 14 anos ajudámos clientes a compensar 6 milhões de toneladas de carbono, angariando mais de 24 milhões de euros para projetos de redução de carbono em todos o mundo”.

Andrea Abrahams acrescenta que os condutores que beneficiam do programa Drive Target Neutral em Portugal estarão a apoiar uma série de programas que incluem atualmente um projeto de instalação de fogões eficientes no México e um projeto de proteção e plantação florestal na Zâmbia. “Estes projetos não só reduzem as emissões de carbono como também proporcionam benefícios de subsistência em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No ano passado, apoiámos um portfólio que ajudou mais de 1.2 milhões de pessoas no acesso a melhores cuidados de saúde, providenciou formação e educação a mais de 8.000 pessoas e protegeu mais de 40.000 hectares de floresta”.

O projeto levou quase um ano a ser preparado. “Estamos conscientes que vai ser altamente escrutinado, por isso tentámos desenhar isto para ser à prova de bala”, garante Pedro Oliveira, antevendo as acusações de greenwashing que se avizinham por parte de organizações ambientais. O responsável lembra que a BP também marca presença nos veículos elétricos (quer chegar a 30 carregadores até ao final do ano) e nas renováveis (estando de olho nos leilões do solar que se vão realizar este ano em Portuhgal), tendo já comprado a maior rede de carregadores elétricos da Europa, Charge Master, metade do maior promotor de energia solar ao nível europeu e do maior produtor de energia eólica dos EUA.

Para chegar ao número anual de emissões de carbono com base nas vendas anuais de combustível projetadas em Portugal, a BP calculou a equivalência baseada numa distância de viagem anual de 15.000 km/ano e uma economia de combustível de 35,5 km por 3,79 litros: um carro a gasolina emitirá 4,8 toneladas de CO2 (numa base ‘well to wheel’, ou seja, do poço de petróleo ao tubo de escape). Os cálculos foram feitos com base nas vendas diárias médias de julho de 2019 como relatado pela Direção Geral de Energia para todos os combustíveis de gasóleo, gasolina e GPL.

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