Estas foram as 5 maiores quedas de sempre do PIB

Previsões apontam para uma quebra da economia superior a 10% no segundo trimestre. É o dobro do pior registo anual nos últimos 60 anos. Recorde as maiores crises económicas desde 1961.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) vai revelar esta sexta-feira uma inédita destruição de riqueza no país por causa do impacto da pandemia de Covid-19. A quebra da atividade económica no segundo trimestre deverá ser mais profunda do que alguma vez registada em Portugal. Algumas previsões apontam para uma contração superior a 10% em cadeia naquele período. É o dobro do pior ano desde 1961. Recorde aqui as maiores crises económicas do últimos 60 anos.

PIB contrai 1% em 1984 após ajuda do FMI

Dois anos antes de entrar para a Comunidade Económica Europeia (CEE), Portugal recebia ajuda externa do Fundo Monetário Internacional (pela segunda vez) por conta de uma situação de desequilíbrio nas suas contas. Tal como na anterior crise de 1975, em que o PIB afundou mais de 5%, também esta crise teve a ver com o choque nos preços petrolífero registado alguns anos antes, em 1979.

“Durante este período, as importações encareceram por causa do choque petrolífero, as economias entram em recessão e Portugal perde exportações. Em determinado momento, o país depara-se com uma situação de enormes restrições financeiras, com um problema de pagamentos externos”, explica Nuno Valério, professor do ISEG e especialista em história económica.

Estava em causa a capacidade de o país assegurar o financiamento externo vital para o funcionamento corrente da atividade económica, motivo pelo qual o FMI interveio prestando uma ajuda financeira que veio com condições: medidas de consolidação orçamental.

A queda do PIB não foi maior porque a desvalorização do escudo acabou por mitigar um impacto da recessão, dando um forte impulso às exportações, lembra Valério.

Cinco maiores quedas do PIB desde 1961

Fonte: INE (Taxa de crescimento real do PIB)

Troika regressa em 2011, economia cai 1,7%

Com o acesso aos mercados fechado, o Governo de José Sócrates anunciou em abril de 2011 que Portugal ia pedia ajuda externa. Era a terceira vez que o país pedia um resgate financeiro. O cheque de 78 mil milhões de euros da troika — Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI — veio com condições: cortes nos salários e pensões, aumentos nos impostos às famílias e empresas. Alguns destes impostos eram “extraordinários” (como a sobretaxa de IRS), mas foram se prolongando no tempo. Por esta altura começava a ganhar raízes o lema TINA, There is no Alternative… à austeridade.

2011 foi o primeiro de vários anos com os portugueses a terem de apertar cinto apertado. Já com Passos Coelho no poder e Vítor Gaspar na pasta das Finanças, o objetivo era reduzir o défice público (9% do PIB) e controlar a dívida pública (que já tinha superado os 100% do PIB). Nesse ano de 2011, numa altura em que a Zona Euro estava sob ameaça de desmembramento, o PIB português caiu quase 2%. Havia de cair ainda mais no ano seguinte.

Crise do subprime afunda PIB em 3,1% em 2009

A crise do subprime que começou do outro lado do Atlântico atingiu o seu pico em Portugal em 2009, com a atividade económica a afundar mais de 3% nesse ano de grande turbulência para o sistema financeiro e para a economia mundial.

Para travar esta espiral negativa, as instituições recomendaram aos vários Governos o relançamento da economia através de programas de estímulos. Foi também o início de uma história que levou Portugal a um desequilíbrio das contas e a um excessivo endividamento do Governo, culminando no pedido de resgate financeiro de 2011.

“Os EUA fizeram uma política de estímulo razoavelmente eficaz. Na UE, o plano Barroso foi nesse sentido, mas os países depois não se coordenaram. Foi cada um país por si. Portugal exagerou na dose, apresentou saldos negativos de 10%…”, explica o professor do ISEG.

Mais austeridade de 2012 leva economia a cair 4,1%

Em 2011, o Governo já tinha decidido que os funcionários públicos iam perder os subsídios de Natal e de férias de 2012, entre outras medidas de austeridade. Com a economia a definhar e o desemprego a subir, o país mantinha-se com o cinto apertado pela troika, que só desbloqueava as “tranches” da ajuda financeira com medidas de consolidação das contas públicas.

Nesse ano de 2012, em que Vítor Gaspar anunciou o “enorme aumento de impostos”, Portugal registou o segundo pior desempenho desde que o INE começou a acompanhar a atividade económica em 1961: o PIB caiu mais de 4%. Com cortes nos rendimentos, consumo das famílias deteriorou-se, o investimento (público e privado) era exíguo e, perante a turbulência do euro, o mercado externo também não ajudou.

PIB tomba 5,1% no ano que se seguiu ao 25 de abril

Portugal vivia os primeiros meses de democracia após a Revolução do 25 de abril de 1974 ter colocado um ponto final à ditadura de Salazar e Marcello Caetano. Mas o ano de 1975 foi tudo menos tranquilo politicamente falando, com golpes e tentativas de controlo do poder no país.

Ainda assim, não foi tanto a turbulência política (embora a instabilidade não tenha ajudado) a penalizar a economia portuguesa, que nesse ano contraiu 5,1%, o pior registo desde que o INE começou a calcular o desempenho da economia em 1961.

Foi sobretudo a deterioração envolvente externa, uma recessão a nível internacional desencadeada pelo primeiro choque petrolífero de 1973, que fez a economia nacional sucumbir naquele ano. “Os países com quem Portugal tinha uma maior relação comercial entram em recessão por causa da crise petrolífera, isso reduziu drasticamente as nossas exportações“, explica Nuno Valério.

O professor do ISEG lembra ainda outro fator de pressão: a redução drástica das remessas enviadas pelos emigrantes. Com o 25 de abril, Portugal deixou de registar grandes fluxos migratórios para países como França ou Luxemburgo; por outro lado, também as comunidades portuguesas no exterior sofreram com o aumento do desempenho perante a recessão internacional vivida naquele ano. E agora?

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