Manuais escolares não vão ser reutilizados. São mais 1.500 toneladas de CO2 e 90 mil árvores abatidas
De acordo com a Zero, a suspensão da reutilização do livros escolares no próximo ano letivo irá implicar o abate acrescido de 92.500 árvores e o gasto de 130 milhões de litros de água.
A Zero já fez as contas ao impacto de, até setembro, todos os alunos do país receberem manuais escolares novinhos em folha. De acordo com a associação ambientalista, a suspensão da reutilização de manuais escolares no próximo ano letivo irá implicar (de forma aproximada) o abate acrescido de 92.500 árvores, correspondendo a uma área de cerca de 92 hectares, a emissão acrescida de 1500 toneladas de CO2 e o gasto acrescido de 130 milhões de litros de água.
“A decisão tomada pela Assembleia da República, no âmbito do orçamento suplementar para 2020, de impedir a reutilização de manuais escolares no
ano letivo 2020/2021, independentemente dos custos associados, é uma má decisão do ponto de vista ambiental e da sustentabilidade. A ZERO considera que esta tomada de decisão demonstra como a sustentabilidade ainda não entrou na agenda política”, referiu a associação em comunicado.
É já esta segunda-feira, 3 de agosto, que os encarregados de educação de 1,4 milhões de alunos matriculados no ensino básico e secundário (dados de 2019, da Pordata) poderão aceder à plataforma online Mega – Manuais Escolares Gratuitos para reclamar os respetivos vouchers que dão acesso aos livros para o próximo ano letivo. Primeiro serão emitidos os vouchers para os anos de continuidade de ciclo (2º, 3º, 4º, 6º, 8º, 9º, 11º e 12º anos) e só mais tarde, a 13 de agosto será dado acesso aos manuais do 1º, 5º, 7º e 10º anos.
Até aqui, tudo será mais ou menos semelhante aos anos anteriores. Além das máscaras de uso obrigatório na escola e do distanciamento social entre crianças e jovens, uma das grandes diferenças do ano letivo 2020/2021 — o primeiro pós-quarentena que obrigou alunos e professores a terminar o terceiro período à distância, e o primeiro em plena pandemia mundial de Covid-19 — passará pelo facto de os estudantes acumularem nas secretárias lá de casa não um, mas dois conjuntos completos de manuais escolares. O objetivo é que, desta forma, possam recuperar alguma da matéria que ficou por dar ou mal consolidada no ensino à distância.
Em junho ficou decidido no Orçamento Suplementar a suspensão da obrigatoriedade de devolução do manuais, princípio em que assenta o programa de âmbito nacional de empréstimo e redistribuição. Até setembro, todos os alunos vão assim receber livros novinhos em folha, a estrear, o que custará ao Governo 150 milhões de euros. Mas os cofres públicos não serão os únicos a sofrer e a medida terá também elevados custos ambientais.
Na visão da Zero, faltou debater “alternativas à travagem de um processo que finalmente tinha colocado Portugal, após décadas de desperdícios
gigantescos de recursos naturais e despesas muito significativas para as famílias, no percurso de outros países da UE onde a reutilização há muito
é praticada”. Os ambientalistas não questionam que há aprendizagens que ficaram por completar e que será necessário reforçar no início do
próximo ano, mas apontam outras soluções sem pôr em causa a reutilização dos manuais escolares.
Estas alternativas, recomenda a associaçºao, poderiam passar por: manter a entrega dos manuais nos anos de mudança de ciclo e no 12º ano; deixar ao critério das escolas a decisão sobre a reutilização de manuais; garantir manuais extra consoante as necessidades para trabalho em sala de aula; manter a entrega dos manuais para reutilização por todos os alunos que possam ter acesso a recursos digitais, assegurados pelo Ministério da Educação.
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