Consumo privado explica grande parte da queda histórica de 16,3% do PIB

A quebra da procura interna, principalmente do consumo privado, explica grande parte da recessão histórica de 16,3% no segundo trimestre.

A economia portuguesa contraiu 16,3%, em termos homólogos, no segundo trimestre de 2020, no qual já foi totalmente afetada pela pandemia. Já face ao trimestre anterior, em cadeia, a quebra foi de 13,9%. Os dados foram divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nas contas nacionais trimestrais em que se revela que a procura interna, em particular o consumo privado, deu o maior contributo para a quebra da economia.

“No 2º trimestre de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) registou uma taxa de variação homóloga de -16,3% em volume, após a redução de 2,3% no trimestre anterior”, anuncia o gabinete de estatísticas, explicando que “a forte contração da atividade económica refletiu o impacto da pandemia Covid-19 que se fez sentir de forma mais intensa nos primeiros dois meses do segundo trimestre”.

“Comparando com a segunda Estimativa Rápida para o 2º trimestre, a incorporação de nova informação de base não implicou revisões nas taxas de variação homóloga e em cadeia do PIB anteriormente publicadas”, esclarece o INE, depois de há quinze dias ter melhorado a estimativa em duas décimas.

A contração de 16,3% no segundo trimestre deste ano, por causa da crise pandémica, é a maior queda do PIB num trimestre de que há registo oficial. Até agora, a maior quebra do PIB num trimestre, em termos homólogos, tinha sido registada no quarto trimestre de 2012 quando a economia contraiu 4,5%, de acordo com a série histórica do INE que começa em 1996.

O maior contributo negativo para o PIB foi dado pela procura interna (-11,9 pontos percentuais), o que traduz a queda profunda do consumo privado — a maior componente do PIB — e, em menor grau, do investimento. “No 2º trimestre, o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB passou de -1,2 p.p., no 1º trimestre, para -11,9 p.p.”, descreve o INE, referindo que o consumo privado contraiu 14,5% e o investimento diminuiu 10,8%, em termos homólogos.

PIB regista quebra histórica no segundo trimestre

Apesar da quebra de 40% das exportações, a procura externa líquida (exportações descontadas das importações) acabou por ter um contributo negativo de apenas 4,4 pontos percentuais. O contributo foi menor uma vez que as importações também caíram de forma expressiva, ainda que não ao mesmo ritmo das exportações cujo desempenho foi particularmente afetado pela quase inexistente atividade turísticas durante os meses do segundo trimestre.

Na comparação em cadeia, isto é, a variação entre o primeiro trimestre e o segundo trimestre, o PIB caiu 13,9%, o que compara com a queda de 3,8% registada no primeiro trimestre (face ao quarto trimestre de 2019).

Consumo de bens alimentares disparou, mas o de carros colapsou

Dentro do consumo privado, as despesas dos cidadãos dividem-se entre bens duradouros e bens não duradouros e serviços, entre estes os alimentares. Neste segundo trimestre, no conjunto, o consumo privado afundou 15%, mas houve diferentes desempenhos, também explicados pela pandemia.

Por um lado, o consumo de bens duradouros contraiu 27,6%, “refletindo principalmente uma quebra abrupta das aquisições de veículos automóveis“, explica o INE. Os números das vendas de automóveis em abril, maio e junho já deixavam antecipar este cenário.

Por outro lado, a componente de bens não duradouros e serviços também caiu, mas menos: -13,6%, em termos homólogos. Porquê esta queda mais baixa? O segredo está na componente de bens alimentares que registou um “crescimento mais acentuado”, isto é, um aumento de 4,7% no segundo trimestre, o que reflete a corrida aos supermercados que se registou no início da pandemia.

De notar ainda que o consumo privado no território económico — que inclui não só os residentes como os não residentes (turistas) — contraiu 21,7% no segundo trimestre. Esta é uma forma diferente de olhar para o consumo que se realiza no país e demonstra o peso dos gastos dos turistas na economia portuguesa. Contudo, na ótica do PIB que aqui se apresenta, esta despesa dos turistas é contabilizada como exportação.

(Notícia atualizada às 11h42 com mais informação)

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