Depois de assessorar venda da GNB Vida, Deloitte está a fazer nova auditoria especial ao Novo Banco

Deloitte Espanha assessorou o Novo Banco na venda da seguradora no ano passado. A consultora em Portugal foi contratada em maio para fazer nova auditoria especial ao banco, com referência a 2019.

Foi o Governo, sob proposta do Banco de Portugal, quem designou a Deloitte para realizar a auditoria especial ao Novo Banco, cobrindo o período entre 2000 e 2018. Entretanto, a mesma consultora foi mandatada já em maio deste ano pelo Executivo para fazer nova auditoria ao banco, desta vez ao ano de 2019. Porque é que isto interessa? Porque foi a Deloitte quem assessorou o banco a vender a seguradora GNB Vida, numa operação que levanta dúvidas e gerou uma perda de 250 milhões de euros. A auditora já veio a público defender qualidade e independência do trabalho feito.

A auditoria “envolveu os profissionais mais qualificados e experientes, seguindo naturalmente os critérios de independência e ética mais elevados”, disse a Deloitte numa nota de esclarecimento enviada ao ECO, tendo adiantado que “as partes interessadas foram informadas sobre a existência de trabalhos desenvolvidos no passado para o BES e Novo Banco”.

Esta manhã, comentando a informação de que a Deloitte Espanha foi o assessor financeiro do Novo Banco na venda da seguradora à Apax, avançada pelo Jornal Económico (acesso pago), a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua questionou o conflito de interesses que fere a credibilidade da auditoria que a Deloitte em Portugal entregou no início desta semana, identificando perdas de mais de 4.000 milhões de euros no período entre 2014 e 2018, originadas sobretudo no período do BES.

“O facto de a Deloitte não referir na sua auditoria que assessorou o Novo Banco na venda da GNB Vida coloca em causa a auditoria. Colocam-se estas perguntas: como pode um consultor de uma venda auditar de forma independente essa venda? Não pode. Que credibilidade tem a auditoria? Não tem”, sublinhou a deputada do Bloco, pedindo a nulidade do relatório da auditoria.

Apesar de o processo de alienação da GNB Vida ter começado em 2017, só em setembro de 2019 é que o negócio ficou efetivamente concluído.

A seguradora foi vendida à GBIB, uma sociedade totalmente detida por fundos geridos pela Apax, por 123 milhões de euros (mais uma componente variável que pode ir até 125 milhões de euros), numa operação que levantou dúvidas por eventuais ligações dos compradores a um investidor que foi condenado por corrupção, Greg Lindberg (embora o banco já tenha afastado estas ligações). O ECO refere esta sexta-feira que o Novo Banco concedeu um empréstimo de cerca de 60 milhões de euros à Apax nesta transação veio a resultar numa perda de 250 milhões.

Como a lei 15/2019 determina a realização de uma auditoria especial ao banco que recebe fundos públicos, o Executivo voltou a escolher já este ano (por conta da injeção de 1.035 milhões no Novo Banco efetuada em maio) a Deloitte para fazer análise aos atos de gestão do banco no ano passado. Ou seja, a Deloitte, que assegura que não participou no processo de decisão da venda da seguradora, foi novamente contratada para escrutinar agora uma operação em que prestou serviços de assessoria financeira.

“Esta [assessoria financeira] é prestada com o objetivo de maximizar a competitividade do processo e, consequentemente, o resultado para o vendedor, e garantir a todos os concorrentes ao processo de venda, acesso à informação disponível em condições de equidade”, explica a Deloitte.

Questionadas sobre eventuais incompatibilidades, Governo e Banco de Portugal não responderam até à publicação do artigo.

Apesar das dúvidas, o banco assegura que “a transação foi realizada num processo organizado de venda, competitivo e transparente, seguido em permanência pelo Fundo de Resolução e pelo compliance do Novo Banco” e que a idoneidade do comprador foi verificada pelo regulador dos seguros.

Mariana Mortágua falou esta sexta-feira em “negociata descarada” depois de o banco ter fechado a venda da seguradora por 190 milhões de euros em 2018 e, depois de uma suspensão da operação devido às questões relacionadas com os compradores, o negócio ter sido concluído um ano depois por apenas 123 milhões de euros.

Segundo o banco, a deterioração do valor da seguradora é, em grande parte, atribuível a fatores independentes do processo de venda, designadamente “o reconhecimento (entre 2016-2019) de perdas em ativos imobiliários em balanço” e o “forte ajustamento das taxas de juro que penalizou severamente o balanço da companhia”.

Na conferência de imprensa realizada esta semana, António Ramalho referiu mesmo que a seguradora — atualmente com o nome Gama Life — perdeu, já na posse do novo acionista, 50 milhões de euros no primeiro semestre devido à redução das taxas de juro, pelo facto de o balanço da companhia ser essencialmente composto por PPR e produtos de capitalização com taxas garantidas.

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