Investimento no SNS permitiu retorno de 5,4 mil milhões para a economia
Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, o investimento no SNS em 2019 permitiu um retorno de 5,4 mil milhões para a economia, tendo em conta o impacto no absentismo e na produtividade.
O investimento no Serviço Nacional de Saúde em 2019 permitiu um retorno de 5,4 mil milhões para a economia, tendo em conta o impacto dos cuidados de saúde no absentismo e na produtividade, conclui um estudo divulgado esta quinta-feira.
Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (NOVA-IMS), mais de metade do valor investido no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2019 acabou por voltar para a economia no mesmo ano.
De acordo com os dados do estudo, a que a agência Lusa teve acesso, a maioria dos portugueses faltou pelo menos um dia ao trabalho em 2019 por motivos de saúde. No entanto, a prestação de cuidados de saúde através do SNS permitiu evitar a ausência laboral de 2,8 dias, representando uma poupança de 1,1 mil milhões de euros.
O SNS permitiu ainda evitar 6,4 dias de trabalho perdidos em produtividade, resultando numa poupança de 2,5 mil milhões de euros. No total, somando o impacto no absentismo e na produtividade, o SNS permitiu uma poupança global de 3,6 mil milhões de euros.
Considerando o impacto dessa poupança por via dos salários e a relação entre produtividade/remuneração (valor referência do INE), o estudo conclui que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno para a economia de 5,4 mil milhões.
Os dados indicam também que o SNS está menos sustentável, pois o índice de sustentabilidade baixou dos 102,9 pontos para os 101,7 no ano passado, uma descida explicada pelo aumento da despesa (6,1%), “muito superior ao aumento da atividade do sistema, que se manteve estável face ao ano anterior”, referem os autores.
Apesar da descida do índice de sustentabilidade do SNS, o estudo realça o aumento significativo da qualidade dos serviços de saúde percecionada pelos cidadãos (+4,6 pontos face ao ano anterior), depois de anos em que se manteve estabilizada. Como pontos positivos são ainda destacados a diminuição da dívida vencida (-20%) e do deficit (-8,5%).
Em declarações à agência Lusa, o coordenador do estudo, Pedro Simões Coelho, sublinha que a tendência do Índice de Saúde Sustentável “tem sido positiva” desde 2014, estando agora com 101,7 pontos, o que é “claramente acima [da base estabelecida], ou seja, [o SNS] tem melhor sustentabilidade”.
O trabalho, desenvolvido pela NOVA-IMS em colaboração com a AbbVie, avalia não só a evolução da sustentabilidade do SNS, mas também o SNS do ponto de vista do utilizador. Identifica pontos fracos e fortes, bem como possíveis áreas prioritárias de atuação, além de procurar compreender os contributos económicos e não económicos do SNS, nomeadamente no que diz respeito ao estado de saúde dos portugueses e participação no mercado laboral.
De acordo com os resultados, o estado de saúde dos portugueses melhorou e a maioria dos inquiridos faz uma avaliação positiva do seu estado de saúde: 59,2% consideram-no “bom” ou “muito bom”, uma percentagem superior à registada no ano anterior (57,9%).
Numa escala de 1 a 100, os portugueses classificam o seu estado de saúde com 74,2 pontos. Sem o contributo do SNS, o índice do estado de saúde ficaria pelos 62,8 pontos (+11,4 pontos do que em 2018), segundo o estudo.
Os profissionais de saúde continuam a ser o ponto mais forte do SNS na ótica dos utentes (80,4 pontos numa escala de 0 a 100) e aquele que mais merece ser valorizado.
Por outro lado, a facilidade de acesso aos cuidados (60,8 pontos) e os tempos de espera entre a marcação e a realização de atos médicos (54,5 pontos) são encarados como os dois aspetos mais negativos.
“Quando pomos dinheiro no sistema, e a despesa tem vindo sempre a subir, é importante ver se esse investimento é capitalizado e só pode ser capitalizado em duas coisas: ou em qualidade ou em atividade”, afirmou o coordenador do estudo, sublinhando que, de acordo com os dados recolhidos, a atividade (em 2019) estabilizou, mas a qualidade subiu, fazendo com que “o sistema esteja a cumprir o que é a sua função”.
Um dos maiores desafios – defendeu o especialista – “vai ser decidir como medir o índice de sustentabilidade para 2020”.
“Sabemos que este ano o sistema foi dominado pela covid-19, e é muito importante saber como o sistema foi capaz de responder à covid, mas também perceber que se ressentiu noutros domínios. Por um lado, porque foram desviados recursos para a covid, por outro porque todos sabemos que muitos resolveram adiar exames, tratamentos, cirurgias e consultas com medo do contágio”, afirmou.
O estudo da NOVA-IMS indica ainda que cerca de um em cada quatro (23,6%) inquiridos consideram o valor das taxas moderadoras inadequadas, mas avisa que “os utentes têm uma perceção do valor das taxas moderadoras que é superior ao valor real”.
Segundo os dados divulgados esta quinta-feira, 3,3% das consultas externas ou de especialidade não se realizaram devido aos custos associados (de transporte ou taxas moderadoras) para os utentes, mas, em comparação com o ano anterior, “o custo perdeu impacto na atividade realizada, com exceção das consultas com médico de clínica geral”. Subiu também de 8,9 para 13,5 a percentagem de utentes que, por questões financeiras, não compraram algum dos medicamentos prescritos pelo médico.
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